Relação Professor/Aluno

O PAPEL DO DOCENTE ENQUANTO INTERMEDIADOR DO

CONHECIMENTO: RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO

THE TEACHER´S ROLE AS MEDIATOR OF KNOWLEDGE:

TEACHER/STUDENT RELATIONSHIP

Marta Paula dos Santos

Graduada em Letras-Inglês (FIS), Pós-Graduanda em História da África e da Diáspora Africana (FIS)

martamagdalenasantos@gmail.com

Palavras-chave: humanização do docente, aspectos socioculturais, valorização do aluno

Resumo: O seguinte artigo aborda as relações professor/aluno no aspecto emocional envolvido em todo o período em que haja o contato próximo entre as partes. O papel do professor como facilitador. Para tal, foram analisados três textos que tratam do assunto. Os conflitos mais comuns que atrapalham o bom andamento da aprendizagem, assim como a necessidade em se estimular o discente na construção do seu saber.

Key-words: humanization of teaching, sociocultural aspects, appreciation of student

Abstract: The following article discusses the relationship teacher/student in the emotional aspect involved in the whole period in which there is contact between them. The teacher´s role as facilitator. To this end, were analyzed three texts dealing with the subject. The most common conflicts that hinder the good progress of learning, as well as the necessity to stimulate students in building their knowledge.

As relações entre professor e aluno tem sido alvo de diversas discussões no que tange às dificuldades enfrentadas pelos estudantes quando em contato com novas experiências. As diferenças culturais são obstáculos pelos quais muitos professores ainda passam. Sua visão precisa levar em conta as peculiaridades de cada indivíduo, do contrário, o processo de aprendizagem fica prejudicado. A análise dos textos mostra a quase urgência em encarar de maneira séria a função do professor enquanto responsável pelos conteúdos ministrados em sala. O intuito deste estudo é analisar o posicionamento adotado por muitos docentes quando enfrentam dificuldades de relacionamento com seus alunos, principalmente por afetar o desempenho de sua função. Não deve assumir postura intransigente, sendo flexível ao lidar com alunos em dificuldade ou desestimulados. Este artigo possibilita uma abordagem ampla, porém essencial a quem deseja avaliar-se como parceiro rumo ao crescimento não só intelectual, como também humano, de seus alunos.

1. O docente e seu empenho na abordagem pedagógica

Por muito tempo a visão do que vinha a ser a figura do professor universitário era de alguém capacitado dentro de sua área de atuação, ou seja, imbuído tão somente do dever de transmitir o conteúdo programático de uma disciplina. Mas, por outro lado, se não houver interação, se não forem considerados os aspectos socioculturais, as experiências trazidas por cada indivíduo incorporadas ao processo educacional, de pouco adiantará uma sólida formação acadêmica de um professor universitário.

Ele necessita ter a sensibilidade em perceber quais as reais motivações que levaram aquele aluno a cursar o ensino superior. Por tal razão, muitos são criticados por não possuírem “didática”. Isso se torna evidente pela deficiência pedagógica de sua formação, não passando pela humanização do docente.

A didaktiké significa a arte de ensinar. Comenius ampliou-a com a Didática Magna, ou Tratado de ensinar tudo a todos, em 1967. Atualmente, recebeu várias definições, contudo, sem perder seu valor principal: como a ciência, a técnica de ensinar.

Jamais pode-se pensar em educação, mudança, sem a participação do professor na função de mediador, de auxiliador na escalada do saber. Deve ser uma troca prazerosa, um compartilhamento de experiências, em que um aprende com o outro. A educação deve transformar o indivíduo, modificá-lo de forma a impactar o meio em que vive. Precisa libertar da opressão, resgatar a autoestima, promover trocas.

O papel do professor é educar para o mundo, ajudá-los a enfrentar as dificuldades como parte do crescimento intelectual e emocional. É urgente a necessidade de se sair da “mecanicidade” do ensino, do simples treinamento para reproduzir as fórmulas arcaicas de ensinar. A fim de solucionar distorções, o ambiente da sala de aula deve motivar a reflexão, aproximando grupos com dificuldades de aprendizagem, as chamadas ZDP´s.

O professor reúne não só conhecimento da disciplina que ministra como também a passa de forma interessante, criativa, deixando seus alunos participarem ativamente do processo educativo, busca diferenciar as abordagens a fim de propiciar o envolvimento de todos, sem esquecer os aspectos sociais. Posiciona-se com perfil pesquisador, não só dentro de sua área, mas também socialmente, promovendo intercâmbios culturais e interdisciplinares, incentivando seus alunos. Um entusiasmado a cada progresso obtido pelos estudantes de forma a sentir-se parte dessa realização.

2- A importância das trocas culturais e afetivas

O grande desafio dos professores sempre foi fazer com que seus alunos aprendessem os conteúdos ministrados, pois assim, sentiriam que seu objetivo foi alcançado. Porém, a condição hoje patente é a de que o aluno precisa sentir em seu professor algo a mais, ou seja, admiração vê-lo como um auxiliador no seu longo caminho rumo ao conhecimento. Essa relação de confiança é fator primordial na eficiência da prática docente. A empatia exercida pelo contato amigável, pelo respeito às diferenças culturais, enfim, nas relações interpessoais. O mestre precisa ser o maior incentivador de seus estudantes, animá-los frente às adversidades, estimulá-los a prosseguirem no desafio, afinal, como dito por Marchand (1985) “ambos formam um “par educativo”, devendo, portanto, ser considerados como uma unidade.”.

Levando em conta o relacionamento entre professor e aluno, há muito mais que transmissão de saberes. Há o interesse em promover questionamentos, construir links que levem o educando à curiosidade em familiarizar-se com novos campos do saber científico. Claro está ser da escola a função de educar. Mas sendo um espaço coletivo, proporciona também trocas ainda mais profundas, sejam elas positivas ou negativas. O professor deve passar o conteúdo com entusiasmo e impactar seus alunos a despertarem o interesse pela disciplina ministrada. Para tanto, deve abster-se da vaidade em fazer brilhantes explanações sobre determinado tema, mostrando ser o detentor de todo o conhecimento, deve fazer parte a valorização do aluno e seu conteúdo levado para a sala de aula.

De nada adianta, segundo Rogers, o vasto conhecimento, as habilidades em passar conteúdos, nos vários livros disponíveis, se não houver um bom convívio entre os dois sujeitos envolvidos, sem um relacionamento pessoal positivo. Com certeza, o professor tem que ser autêntico, mostrando até mesmo suas insatisfações, revelando ser também sensível aos acontecimentos em sala de aula, dando provas de que antes de ser professor, é gente. Se ele agir de forma caricata, dificilmente conseguirá de seus alunos um retorno pelos seus esforços. Rogers ainda estimula a compreensão empática, tendo como função olhar o estudante por dentro, suas reações e desejos. O ensino construtivista ressalta o papel primordial do aluno na construção do saber, priorizando as aptidões individuais.

Ao professor, portanto, cabe direcionar quando necessário, mas sem interferir na criatividade dos estudantes, incentivando, aliviando a ansiedade dos mesmos, tirando quaisquer dúvidas ao longo do processo educativo. A sala de aula deve ser vista como uma comunidade de investigação que estimule à pesquisa, aos questionamentos. Isso facilita na solução dos conflitos, como um momento a ser encarado com um fim pedagógico.

A diversidade cultural é um fator por demais importante, pois auxilia na transmissão do conteúdo de forma mais humana. As experiências de cada aluno contribuem para um bom trabalho do professor. Prefere-se que o contato estenda-se para fora de sala de aula. A inclusão de alunos com diferentes visões de mundo, práticas de vida, em nada podem ser usadas como meio de exclusão por parte de quem for. É necessária a adequação dos conteúdos tradicionais, no caso a sexualidade, ao abordar questões pertinentes aos temas transversais. A linguagem do professor deve ser objetiva a fim de alcançar todos os grupos, estimulando a introspecção de cada um, promovendo um ganho social significativo.

3- A avaliação como ferramenta importante para o aprendizado

O processo de avaliação dos alunos deve levar em conta aspectos relevantes e críticos, ou seja, não deve ser usado como mecanismo da punição pelo professor para não desencadear em apatia por parte dos estudantes. Não deve constranger ou permitir o surgimento de crises de nervosismo pouco antes do período das avaliações. A memorização para a prova, quando não ocorre interesse em aprender, demonstra uma falha de postura do professor, quando não explicam de maneira clara os conteúdos em sala de aula. As explicações são essenciais para demonstrar ao aluno a importância da pesquisa, de como estão desenvolvendo suas análises, enfim, avaliar o conteúdo assimilado e como foi a visão de cada um. Nesse caso, a avaliação em forma dissertativa possibilita respostas variadas e por vezes, interessantes. Cabe ao professor saber como deseja e o que deseja extrair de seus alunos, do contrário, incentivará a cola.

A avaliação, por sua vez, não pode levar à estagnação, precisa promover a mobilização, o avanço, o desejo em saber mais. Mas conforme dito por Bourdieu e Passeron, o lado negativo de avaliações, ao priorizar só o conteúdo teórico, preparando o indivíduo para a escalada profissional, uma ponte para um nível social privilegiado. Segundo eles, mostra o conceito de avaliação ultrapassada. Não avalia o indivíduo de forma abrangente, como alguém com diferentes potencialidades.

Outro aspecto a ser considerado é a honestidade com a qual deve ser tratada a avaliação. O processo constitui-se em critérios seletivos dos quais a sociedade se vale quando avalia as capacidades de cada indivíduo. Além de ser importante ao aprendizado, mede de maneira explícita, como os estudantes têm avançado na aquisição de conhecimentos. Eles precisam estar cientes de que as avaliações são parte da vida e da lógica cotidiana. Com as ferramentas da contextualização, o professor consegue medir o avanço e adaptar suas avaliações conforme o caso, sempre aumentando gradativamente a complexidade das questões com o intuito de aumentar a autoconfiança dos alunos.

Contudo, antes de iniciar a trajetória com o grupo, o professor parte de um prognóstico, ou seja, avalia as condições de cada elemento que utiliza três mecanismos interdependentes de avaliação quais sejam, a diagnóstica, a formativa e a somativa. Utilizando confiadamente estes critérios, a avaliação ocorrerá sem transtornos. Como resultado, os alunos fornecem um feedback ao professor, mostrando se o desempenho foi dentro das expectativas. A avaliação também vai além do convencional, levando-se em conta inclusive, as aptidões dos estudantes, seus interesses e necessidades. Para atribuir significância às mesmas, as avaliações precisam possuir caráter fidedigno, obedecendo a critérios estabelecidos previamente, do contrário, perderá a legitimidade, por isso serem utilizadas para obtenção de um mesmo resultado quando aplicadas diversas vezes.

A confiança dos alunos neles mesmos e no professor é essencial na escala da aquisição de conhecimento. Para tanto, o professor prepara com critério e antecedência as avaliações, não se deixando levar por emoções negativas por parte dos alunos, ou seja, precisa ser sóbrio ao elaborar cuidadosamente as avaliações, evitando a repetição de provas que sejam cômodas para o professor, como as de múltipla escolha, muito menos retê-las com um fim de causar ansiedade e incertezas.

Em última análise, o papel atribuído ao aluno e ao professor não pode ser visto como antagônicos, mas sim como sujeitos dispostos a extrair o melhor um do outro. Ao docente cabe envolver-se, tornando-se um canal de conhecimento, não uma represa, estimulando-os a novos desafios, com os quais se sentirão mais seguros e ávidos por aprender mais. É a partir da formação reflexiva na infância que o aluno é convencido de que pode avançar em seu nível acadêmico e possuir a segurança em enfrentar desafios. Do contrário, ao chegar à universidade, seus medos irão dificultar seu desenvolvimento.

Por outro lado, ao professor muitas vezes falta o olhar reflexivo, analítico ao abordar situações distintas, sendo necessária uma autoanálise de sua prática. O ambiente escolar é um campo misterioso, onde há diferenças sociais, culturais e de formação moral diversificada. Os estudantes, por sua vez, precisam enxergar o professor como aquele interessado sempre em seu crescimento como aluno e ser humano, fornecendo-lhe um feedback positivo, nunca esquecendo de que o docente, conjuntamente, passa saberes e valores por ele cultivados.

4-Considerações Finais

O caminho para um bom relacionamento em sala de aula vai além do mero conteúdo frio, programático. As emoções são parte desse processo que não podem ser ignoradas pelos professores. Há a importância de se saber lidar com as diferenças, com a heterogeneidade, promovendo trocas, derrubando barreiras de indiferença. A capacidade individual de assimilação da matéria é influenciada por variados sentimentos como tensão, ansiedade. O ensino mecânico em nada traz um ganho significativo à formação do ser como um todo. Sem um diálogo interativo, as portas do conhecimento se fecham e a motivação para aprender se torna ausente de sentido. As estratégias de multimídia servem como apoio ao aprendizado, porém, nunca substituem o poder da comunicação entre as partes.

Ao elaborar um programa de disciplina, o docente deve atentar para as peculiaridades de cada um, sendo primordial um primeiro contato a fim de “quebrar o gelo” e abrir oportunidades de cada um expor suas dúvidas e expectativas em relação ao que será trabalhado durante o convívio acadêmico. O professor precisa ser o principal incentivador dos estudantes, sempre disposto a dirimir dúvidas quando solicitado. Com isso, permitirá o aumento da confiança e, consequentemente, um melhor resultado obtido nas avaliações. Como proposta desenvolvida neste trabalho, sugere-se uma reflexão do que vem sendo a prática pedagógica em sala de aula, um retorno às formas de comunicação humana e simples, das quais se extraem grandes descobertas e proporcionam um crescimento além dos currículos escolares.

Bibliografia:

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CASTRO, Nelimar Ribeiro de. Afetividade e dificuldades de aprendizagem: uma abordagem psicoeducacional. Psic – Revista de Psicologia da Vetor Editora, v8,n.1, p.113-114, jan./jun. 2007. Disponível em: www.pepsic.bvsalud.org/pdf/psic/v8n1/v8n1a15.pdf

MartaPoetisa
Enviado por MartaPoetisa em 09/06/2014
Reeditado em 16/06/2014
Código do texto: T4838075
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