Pode crer: Eu Morri!

Nasceu num lar sem educação, mas desde tenra idade gostava de brincar com lápis e papel.

Os pais, semianalfabetos, não atentaram para a chamada educacional que a garotinha desfrutava.

Era uma criança diferente. Enquanto as outras amavam brincar com bonecas - sempre as mais modernas e cheias de adereços possíveis -, a humilde garotinha gostava mesmo era de lápis e papel.

Nunca teve lápis de cor.

Fardamentos também não dispunha, mas os pais das coleguinhas se compadeciam da situação daquela garotinha e cediam o fardamento usado por sua filha no ano anterior.

Observadora, quando um coleguinha qualquer jogava na lixeira os restos dos lápis, ela ficava atenta e no final da aula, quando já não havia mais ninguém na sala, ela apanhava os “cotocos” de lápis, apontava-os e utilizava.

Lanches nunca teve.

Era magrinha por falta de alimentos mesmo.

Orgulhosa, não dava a entender que não tinha merenda, pois na hora do lanche, corria e se trancafiava no sanitário.

Inteligente, quando queria ganhar algum trocado, fazia os mandados das meninas descoladas da escola: ia para a fila da cantina, saía para comprar um lanche diferente na lanchonete da esquina e assim ganhava de forma suada, alguns trocados.

Aqueles trocados eram convertidos em lápis de cor, borrachas, lápis comum e cadernos (aqueles com a capa da bandeira do Brasil) bem baratinhos.

Seus pais, excelência no que tange a omissão em educação, excediam nesse sentido ao ponto de sequer fazerem a matrícula da garotinha.

Como ela queria muito estudar, ela pedia para os vizinhos fazerem o ato.

Assim, numa família desajustada, a menina foi crescendo.

Já adulta, observando seu histórico escolar, percebe que por 2 anos seus pais não a matricularam.

Vivia às moscas, infelizmente.

Cresceu, criou filhos, mas nunca deixou de estudar.

Hoje ostenta dois diplomas, permanece estudando, faz curso disto, curso daquilo outro, lê quase que por compulsão, escreve de forma leve e é especialista em orientar as pessoas a voltarem a estudar.

Encostou nela, facilmente, ela já questiona: E aí, você faz qual curso? Fez qual graduação? Vai fazer Especialização em que área? Parou de estudar, por que? Vai retornar às bancas escolares quando?

Comunicativa, vai logo dando as coordenadas acerca de faculdades, preços de cursos, cursos bastante disponíveis no Brasil e que faltam profissionais, as facilidades que o Governo Federal oferece atualmente, alerta seu ouvinte a encarar o Enem sem pânico nem bicho de sete cabeças, etc..

E assim, sendo uma senhora já madura, continua apegada aos livros e seu melhor programa é visitar Livrarias renomadas e diversificadas Brasil afora.

Ela filosofa: Quando o livro deixar de ser imprescindível em minha vida, pode crer: eu morri!