Influência das Obras de Arte para a Formação de Ideologias e Compreensão da Sociedade: Um Olhar Crítico-Reflexivo sobre as Interferências do Cânone e da Censura sobre a Produção Artística ao Longo da História da Humanidade

Ao analisarmos a História da Humanidade podemos reconhecer através das manifestações artísticas, a formação de diferenciadas ideologias que nos revelam características inerentes a diferenciados povos e sociedades ao longo dos séculos o que nos permite compreender melhor a sociedade na atualidade e os fenômenos nela encontrados. Afinal, quando olhamos o passado com um olhar crítico-reflexivo podemos compreender melhor os fatos e valores que nos cercam na atualidade e, até mesmo, ouso dizer, compreendemos a nossa própria natureza.

É de fundamental importância, que nós, como Educadores, tenhamos a preocupação em oferecer aos educandos uma Educação de Qualidade e isso só se atinge quando proporcionamos um ambiente crítico-reflexivo onde este possa desenvolver suas habilidades críticas, racionais e psicológicas.

É neste momento que percebemos a importância do estudo de linguagens da arte e do seu emprego em nossas práticas pedagógicas, na medida em que, através desse estudo conseguimos perceber o homem e seu tempo histórico, compreendendo como ele se relaciona com a sociedade na qual está inserido. Afinal, “toda obra de arte é a expressão simbólica de uma emoção, de um sentimento, de uma ideologia”. (UNESA, Linguagens da Arte e Regionalidades, Aula 01, 2014).

Mas, o que é Arte afinal?

De acordo com a Revista Literária (2014):

O termo 'Arte' vem do Latim e significa técnica ou habilidade para a criação de valores estéticos, sintetizando emoções, sentimentos e cultura, e se apresenta de formas variadas (Música, pintura, dança, teatro, literatura). [...] Entender a Arte vai além do movimento cultural: cria-se um vínculo emocional entre a expressão do artista e o admirador". (REVISTA LITERÁRIA, Disponível em http://www.revistaliteraria.com.br/conceitosarte.htm, acesso em 26 de Agosto de 2014 às 07:29h).

Azevedo Júnior (2007, apud Oliveira e Ferreira, 20??) define arte como “uma forma de expressão humana, tendo em vista que a mesma transmite características e conceitos inerentes ao homem e sua cultura, no sentido que através dela ele consegue expressar suas ideias, sensações e sentimentos, servindo como uma forma de comunicação”. (OLIVEIRA E FERREIRA, UFERSA, 20??, p. 5).

Ao processo de representar o mundo através da arte, dá-se o nome de mimesis, conceito este que para Aristóteles estava diretamente relacionado ao “realismo” enquanto Platão associava-o ao “idealismo”.

Quando voltamos o nosso olhar para as Culturas da Antiguidade Clássica percebemos a sua influência para a formação Linguística-literária e artística no Ocidente Moderno e, principalmente no Brasil.

Historicamente, percebemos que o conceito de Democracia advém deste período, no qual, apesar dos poetas, filósofos e comediógrafos da Antiguidade Clássica identificarem-se com os ideais da nobreza e, de que podiam se expressar valores democráticos desde que estes não se referissem a nobreza (o que de certa forma já representava um tipo de censura), ocorreu um fortalecimento destes valores e o surgimento dos primeiros cânones, ou seja, padrões a serem seguidos, modelos).

A História da Arte Grega foi demarcada por quatro grandes períodos que são: O Geométrico, no qual predominou a decoração de utensílios; O Arcaico, através do qual se desenvolveu a arquitetura e a confecção de esculturas; O Clássico, onde a arte procurava representar o homem de forma o mais realista possível e no qual as esculturas assumem formato mais dinâmico e; O Helenístico, trazendo consigo o ressurgimento da arte em cerâmica, entretanto de forma mais detalhada.

Com a chegada do Período Medieval, vemos o prevalecimento da ideologia cristã definindo os rumos da humanidade e, também na arte, determinando o estilo e a estética que deveriam ser adotados pelos artistas.

Neste período, vemos surgir a censura religiosa que limita a criação artística aos padrões pré-estabelecidos pela Igreja Cristã, através dos Tribunais da Santa Inquisição que perseguiram não somente artistas, mas cientistas, pagãos e todos os que de alguma maneira pudessem ‘ameaçar’ o poderio da Igreja e/ou os interesses dos Soberanos. Sendo demarcado por sentenças cruéis, perseguições e ainda, pela publicação do Index Librorum Prohibitorun, criado em 1959, no Concílio de Trento com o objetivo de tornar pública uma lista de livros e obras consideradas hereges, proibindo seu acesso, leitura e por muitas vezes lançando estas obras (às vezes, juntamente com seus autores) a fogueira. Nem mesmo, o Texto bíblico do Livro de Salmos, o ‘Cantares de Salomão’ escapou da censura.

Ao longo da história podemos observar praticamente em todos os países, e, em diferenciadas épocas, a interferência da censura religiosa sobre o intelecto humano, fato este que diretamente atinge o desenvolvimento da humanidade como um todo. Podemos observar isso, de maneira contundente, durante a Idade Média, que demarcou um período de retrocesso na ciência, nas artes e nos mais variados aspectos, delimitando os ensinamentos religiosos e morais que viriam a definir a feição do homem ocidental e que interferem até hoje em nossa sociedade e cultura patriarcal, onde o diferente é visto como ‘perigoso’, é discriminado e perseguido, mesmo que de ‘maneira disfarçada’ como convém aos interesses da sociedade ‘democrática’ atual.

No entanto, a natureza do homem é livre e ele sempre irá buscar a sua liberdade em sentido pleno.

Sendo assim, vemos surgir com a Renascença ideologias contrárias as que prevaleceram na Idade Média, onde os artistas e intelectuais voltam a sua compreensão para o lado naturista da existência, mais conscientes do que seus antecessores da Antiguidade Clássica, possuidores de um saber científico mais acurado e aprimoramento técnico, transformando a sua observação da realidade em obras de arte que até hoje são admiradas.

Novamente vemos emergir, entre o final do século XVI e meados do século XVIII, o Período Barroco, marcado pela interferência da Igreja na produção artística como resposta aos ideais Renascentistas e a ameaça da Reforma Protestante, cuja proposta estética tem por finalidade destacar a finitude do homem, a incerteza da existência e a sua fragilidade diante de Deus.

Se no Período Renascentista temos o retorno dos ideais da Antiguidade Clássica (antropocentrismo), no Período Barroco emergem novamente os ideais da Idade Média (Teocentrismo), buscando desviar o homem do saber científico. Somente com o advento do neoclassicismo é que vemos os ideais renascentistas voltarem a tona. Entretanto, este é um estudo que veremos a posteriori, em outro fórun.

Quando a República é instaurada de maneira definitiva, vemos surgir uma separação entre a censura religiosa e a política, vez que estas se misturaram durante todo o período da história medieval.

Já em nosso país, vemos a Censura Política (covarde e violenta) surgir durante o Período da Ditadura, através do qual o Regime Militar foi implantado. Neste período a literatura desempenhou um papel importantíssimo na formação de ideias libertárias e na consolidação dos ideais exercendo uma função parajornalística, vez que os órgãos de imprensa e os veículos de comunicação em massa eram fiscalizados pelos censores da ditadura que tentavam incutir na cabeça dos indivíduos os ideais de “Ordem e Progresso” através da opressão, da submissão, do medo e da repressão. Entretanto, quanto mais se coagiam e censuravam os artistas, mais e mais produções surgiam como forma de protesto a esta coerção. Afinal, sabe-se que o Ser Humano é um ser social e livre. Quanto mais se priva alguém de sua liberdade, mais o instigamos a lutar por seus ideais e por sua liberdade.

Este período foi realmente marcado por muita violência e opressão por parte do Governo, entretanto, foi um período riquíssimo em termos de produções artísticas, de manifestações populares e de União de toda uma Nação em busca de sua Libertação.

Vimos através da UNE (União Nacional dos Estudantes) uma mobilização jamais vista na história de nosso país, uma juventude bela, consciente de seus direitos e deveres de cidadãos e dispostos a lutar a todo custo pela liberdade de expressão e ação. Artistas como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré, Toquinho, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Raul Seixas, Odair José, se levantam e gritam sua arte que exprimia os anseios de uma sociedade oprimida no afã de recuperar a sua liberdade e voz. Muitos artistas, jornalistas, escritores, etc são expulsos do país, exilados, mas mesmo longe continuam sua luta contra os ideais da ditatura e a favor dos ideais populares.

E, Nós vencemos!? Conquistamos o direito a Liberdade de Expressão!? Temos de Fato uma Democracia!? Deixo para vossa reflexão o texto de Carlos Drummond de Andrade:

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio – e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?

Andréa Vidal
Enviado por Andréa Vidal em 23/12/2014
Código do texto: T5078908
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