A reestruturação da educação, antes a formação

Cristiano Batista dos Santos. Jornalista*

Vários aspectos formam o capital humano de uma Nação: a formação técnica, o conhecimento básico, acesso cultural, enfim, tudo o que se conhece como educação.

Mas há algo que precede a Educação, é a Formação. Nosso País, assim como vários outros, incluindo os EUA se preocupou em preparar as pessoas para o avanço tecnológico, criando-se uma competição de aquisição de conhecimentos desde a mais tenra idade, buscando-se preparar o individuo para competir no mercado de trabalho. Mas, por uma série de fatores advindos dessa fantástica revolução de tecnologias e conceitos verificada especialmente nos últimos quarenta anos -moda, política, religião, ciência, comportamentos- a formação dos seres humanos que estavam chegando ao mundo, no meio dessa profusão de transformações sociais, acabou sendo preterida.

O mundo melhorou muito, graças ao capitalismo, pois há duzentos anos quem nascia pobre morria pobre e quem nascia nobre e rico, assim permanência, independentemente de qualquer competência, tanto em relação ao pobre ou rico. Hoje, qualquer um tem a chance de ficar rico, ou de ficar bem de vida, mesmo com todas as dificuldades criadas pelos Estados Nacionais, cujos políticos e grupos de poder vivem buscando mais poder, centralizando-os.

Por outro lado, há que se considerar o incremento populacional -coisa de sete bilhões de pessoas em comparação à população de duzentos anos atrás-, além da profusão de informações, o que faz parecer o mundo muito complicado. É como se diz entre os jornalistas: "Foi o mundo que piorou ou a Imprensa que melhorou?"

Embora tenhamos atingido graus de liberdade e desprendimento inimagináveis há cinqüenta ou cem anos, graças às tecnologias como a comunicação, democratizando-se a informação, os estamentos institucionais -o Estado- vêm promovendo uma "desenvolução" cultural face exatamente à capacidade permitida pelo empoderamento -aumento de poder- constante e progressivo dessas instituições. A educação, por exemplo, teve uma queda absurda de qualidade de uns trinta anos para cá, mesmo nos EUA. A progressiva centralização e horizontalização dos currículos educacionais permitiu interferências ideológicas, recheadas de tecnicismos pedagógicos que estão transformando as pessoas em autômatos, biodigestores vazios de conteúdo, cujas satisfações afetivas e emocionais de suas vidas vazias são encontradas, mesmo que momentaneamente, nas drogas, nas bebidas, nas tribos urbanas, permitindo-se que o pior do lado humano seja aflorado.

Não é à toa o movimento do homescholling -escola em casa- nos EUA, possível somente pelo fato da liberdade que ainda permeia o irmão do norte. Mas no Brasil, isso não é possível, pois se criou a cultura do diploma, não importa mais qual seja, para se pegar um emprego ou ser reconhecido, uma espécie de "rito de passagem" meramente burocrático, sacramentado por um pedaço de papel sem conteúdo válido, com raras e gloriosas exceções.

Tudo isso, a falta dos valores, a inversão de valores, o "esvaziamento humano" de tanta gente, a cegueira cultural, o hedonismo exacerbado, o tribalismo, o coletivismo, o desregramento, a banalização, o desrespeito e despudorização generalizados, são conseqüências de algo que se esqueceu completamente: a Formação, substituída pela educação.

Formação começa na gestação e termina suas primeiras etapas lá pelos cinco, seis ou sete anos de idade. Depois disso é que deveria vir à educação. Seres humanos recém vindos ao mundo, todos em igualdade potencial, independentemente de qualquer condição racial, étnica e gênero, são como "computadores com disco rígido em branco", abertos para receber os "softwares operacionais e complementares", os quais, associados à sua "bios" única -aquele conjunto de providências involuntárias que o mantém vivo é a sua característica pessoal- a personalidade - que nortearão sua vida, para toda a vida.

Nessa fase, pelo menos de zero a quatro anos, este novo ‘ser’ deve ser objeto de atenção máxima, um projeto. O que aconteceu, no entanto, foi que as mulheres, guindadas à condição de igualdade com os homens, disputando mercado de trabalho e buscando o seu merecido sucesso, tiveram que deixar seus filhos com babás e creches.

Que formação uma babá pode dar a uma criança que não tem filtros ainda? Que formação que um grupo de pessoas, muitas de boa vontade, mas cheias de tecnicismos pedagógicos pode dar àquela criança? O resultado apareceu quinze, vinte, trinta e até quarenta anos depois, em todo tipo de desvios, desde os relacionados a caráter até a própria condição de gênero, descambando ainda, a criminalidade, a falta de ética, o desenvolvimento de novas éticas no seio de grupos que se colocam à margem da sociedade, a necessidade de ser aceito em algum grupo, enfim, tudo compelindo para a destruição das sociedades humanas. Nesse sentido, o federalismo pleno das autonomias, propondo a descentralização da formação e da educação, promoverá uma revolução cultural, motivando e juntando as pessoas de bem, aquela parte da sociedade que ainda detém os preceitos de base moral, para que estas, em cada comunidade, em cada estado, reassumam as tarefas de recuperar as pessoas que estão perdidas e, principalmente, focar na formação dos que estão vindo ao mundo.

Mas para isso acontecer, é praticamente impossível com estrutura centralizada. O federalismo libertará o processo de reconstrução da sociedade e dos seus valores. Esta é a grande responsabilidade das pessoas de bem, pegar em suas mãos o destino de suas vidas e a de seus filhos, como muitos pais americanos estão fazendo. Formação e educação são tarefas para educadores e professores. O que se pretende com a prática federalista plena das autonomias, é a eliminação do centralismo e da conseqüente horizontalização da educação no Brasil. A tal universalização do ensino promoveu também, a universalização de problemas muito sérios na formação de um Povo, dada as interferências de toda sorte -ou azar- desde as perpetradas por técnicos focados em conceitos científicos da educação até as de cunho ideológico, direta ou indiretamente, perceptíveis ou não. Uma Nação jamais pode ficar à mercê de tais perigos. Uma Nação é rica pela diversidade cultural e social de seu Povo.

Assim, as únicas coisas que devem ser nacionalizadas, considerando o interesse da Federação, ou seja, de todos os brasileiros, é o ensino do idioma pátrio dentro de um padrão básico comum a todos, da adoção e respeito aos símbolos cívicos e sentido nativista, História Geral do Brasil e Geografia Geral do Brasil.

Toda a formação básica deve ser idealizada e conduzida nas próprias comunidades, nas quais os pais encararão os filhos como projetos mais importantes do que a aquisição da própria casa ou de um carro novo - há que se fazer essa ressignificação de valores. É bem provável que, seguindo uma tendência já presente, casamentos ocorrerão mais tarde, com os pais mais preparados financeiramente e pessoalmente, para gerir filhos como projetos mais especiais de suas vidas. As sociedades estão se transformando e a liberdade é o único caminho para que esta mesma encontre suas soluções, corrigindo os erros naturais da sua própria evolução.

As escolas comunitárias serão mantidas pelas próprias comunidades, cidades, municípios, distritos. Nelas, além da complementação da formação, o início da educação formal. Escolas secundárias, técnicas e universitárias existirão então, de acordo com os rumos da sociedade, ou seja, havendo liberdade e desregulamentações como as que hoje existem, surgirão universidades municipais, públicas ou privadas, estaduais, públicas ou privadas, escolas técnicas em grande número e uma ressignificação do terceiro grau.

O terceiro grau se focará mais necessariamente para profissões tradicionais como, advogado, médico, engenheiro, dentre outras, e atividades de pesquisa e ciência em conjunto com a iniciativa privada - empresas que contratam universidades e escolas técnicas como extensão de seus departamentos de pesquisa e desenvolvimento, muitas vezes servindo como departamentos integrais especialmente para a micro e pequena empresa poderem desenvolver projetos e inovações.

Será necessário o fim das universidades públicas federais, para que se oportunize o mérito das competências individuais, os quais serão financiados por bolsas patrocinadas por empresas, escolas técnicas e universidades interessados no aproveitamento desses talentos, independentemente de sua condição social, econômica ou racial. Nos EUA, por exemplo, não existem universidades públicas gratuitas. Harvard é uma universidade pública, mas custa oitenta mil dolares por ano.

Há outro aspecto importante: estudos mais avançados como os feitos em uma universidade não podem ser feitos como no Brasil, por pessoas que trabalham durante o dia e cursam faculdade à noite. Universidade é coisa séria e exige dedicação integral do aluno. Esta é uma das razões que diferenciam o estado tecnológico de um País em relação ao outro.

Todos que pretendem continuar seus estudos e formação merecerão crédito, se assim for necessário, através de produtos financeiros colocados à disposição. O que não se pode permitir é jogar nas costas da Sociedade, através da atribuição exclusiva aos governos de promover a educação de tal maneira que privilegie uns em detrimento de outros, independentemente de seu mérito. É como num dito popular: "não se pode desvestir um santo para vestir outro". É o que se tem feito no Brasil em muitos setores... *Cristiano Batista dos Santos. Além de Jornalista é colunista no Portal Recanto das Letras. Árbitro de Direito. Teólogo. Bacharelando em Direito, pela Faculdade Estácio FASE. Doutorando em Teologia, pelo Seteb. Bacharel em Teologia, pela Fateos. Especialista em Direitos Humanos e Mediação de Conflitos, pelo ITS-Brasil. Conselheiro titular do Conselho Estadual de Emprego e Renda de Sergipe. Diretor nacional do Conselho Político da Central Sindical UST.

Cristiano Batista dos Santos
Enviado por Cristiano Batista dos Santos em 16/02/2015
Código do texto: T5139202
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