O PROFESSOR BONZINHO (ROBERTO DE QUEIROZ)

O professor bonzinho é aquele que não se preocupa com o programa da disciplina que leciona, nem é exigente em sala de aula, pois, para ele, exigir do estudante é ser carrasco. E ser carrasco, ser cruel com o estudante, é coisa que não almeja para si. Ele faz todas as vontades do estudante, mesmo que elas o prejudiquem. Se não as fizer, como ganhar a amizade e a simpatia dele?

O professor bonzinho não se utiliza de ludicidade em suas aulas. Ele faz graça para o estudante rir. Faz caçoada no horário destinado a aplicar o conteúdo da disciplina. Às vezes, faz até mágica para alegrar o ambiente da sala, a qual, nesse momento, deixa de ser sala de aula para virar picadeiro.

O professor bonzinho passa o ano inteiro fazendo sondagem. Todo dia o estudante é sondado. E, por meio dessa sondagem, ele é diagnosticado como incapaz de apreender o conteúdo programático da disciplina. Se é que o professor bonzinho tem um programa de disciplina. Para que se dar ao trabalho de elaborá-lo? Fazer caçoada não dá trabalho nenhum e ainda diverte.

O professor bonzinho viola tanto o direito daquele estudante que tem condição de ser promovido quanto o direto daquele que não o tem – e, para seu próprio benefício, deve ter uma nova oportunidade de aprendizagem –, apenas para não ser antipático com ele. Porém não sabe o professor bonzinho que ser simpático não significa ser irresponsável nem desonesto, e que ser exigente não significa ser antipático nem mau.

O professor bonzinho é, na verdade, um lobo em pele de cordeiro, porquanto esse estudante, que não é cobrado pelo professor bonzinho, será cobrado mais adiante, tanto pelo sistema quanto pela escola da vida. O professor bonzinho causa-lhe, pois, um aleijão irreparável.

O professor bonzinho finge que ensina e o estudante finge que aprende. E, por esse motivo, o professor bonzinho presta um desserviço à educação.

(Artigo publicado no Diario de Pernambuco, 02/04/2015, Opinião, p. B7 [Arte: SAMUCA/DP])

Postado por Roberto de Queiroz às 17:14

ROBERTO DE QUEIROZ
Enviado por Lúcio Mário em 02/04/2015
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