MEMORIAL

 
INTRODUÇÃO

Neste Memorial relato a minha trajetória no curso de pedagogia, e o que me levou a decidir por ele. Menciono quais foram as dificuldades encontradas, as experiências obtidas e os conhecimentos adquiridos. Enfim, relato os pontos positivos e os negativos encontrados no decorrer do mesmo. Dividirei o trabalho em etapas para melhor compreensão do leitor.

A DECISÃO DE ESTUDAR PEDAGOGIA

Os estudos sempre fizeram parte da minha vida. Não lembro de mim sem que estivesse me dedicando a algum tipo de estudo, fosse este meu, ou de um dos meus dois filhos. Na época da faculdade do meu filho mais velho, que estudou Ciência Política, eu li os mesmos livros que ele leu para o curso, podendo assim debatermos sobre os assuntos relevantes e de interesse à sua formação acadêmica. 
Aprender é algo que sempre me fascina. Quando resolvi morar na cidade de Lambari, MG, depois de ter vivido mais de trinta anos em Nova York, procurei saber se havia algum curso superior e descobri, então, que havia na cidade uma faculdade que oferecia dois cursos, um deles na área de ciências humanas. Foi quando tomei a decisão de me inscrever e prestar o vestibular para me iniciar no curso de pedagogia que ofereciam na área humana. No inicio eu acreditei que fosse ser algo ao qual eu teria que me adaptar com certa dificuldade, por várias razões, entre elas a de que estudaria no país no qual eu já havia me desacostumado de seus hábitos, por lembrar-me que ao imigrar para os EUA, em 1982, foi pelo fato de que já naquela época acreditava que o Brasil não era um país sério. E a educação era carente desde a época em que eu deixei o país. Preocupou-me, a principio, uma possível desistência do curso, contudo, por não gostar de assistir televisão e não ter muito o que fazer na cidade de Lambari, decidi arriscar me matricular no curso de pedagogia da FAPAC. Antes da matrícula fiz uma inspeção no prédio da Faculdade para me certificar de que suas instalações estivessem dentro do que eu desejava. Depois de feita a vistoria, havia naquela faculdade mais uma aluna, que estava ansiosa para se iniciar no oficio de professora, ou seja, no curso de pedagogia.

DOCENTE, DICENTE

Logo nos primeiros dias de aula soube que éramos docentes em formação com o objetivo de prepararmos discentes de bem, para a sociedade. Sinceramente, foi difícil de compreender o porquê não seríamos mais os professores com objetivo de preparar alunos, mas sim, docentes, educadores, ou pedagogos que iriam preparar futuros discentes para a sociedade. E, os estudantes passaram a ter outras denominações tais quais: educando e discentes. Pensei que, talvez o fato do magistério continuar sendo uma atividade desvalorizada pela sociedade brasileira, exercesse influência na decisão da escolha de um novo nome, na tentativa de valorizar a profissão tão mal quista, e fazê-la ser reconhecida pela sociedade com mais elegância e algum mérito. Como se o problema estivesse no fardo carregado pela palavra professor. Entretanto, continuei a fazer uso do antigo título de professor por ter simpatia e respeito por ele, e, também, por achar que a profissão não se transformará e adquirirá o respeito que é almejado, mudando o nome dela, no caso deste ter sido o objetivo das mudanças de nomenclatura.

PRIMEIRO IMPASSE

Nossa turma de pedagogia que se iniciava foi colocada para assistir aulas junto com os alunos do terceiro período. Assim, começávamos o nosso curso de pedagogia pelo meio e ao chegarmos ao final, voltaríamos para o início dele. Algo no mínimo incomum. O diretor da faculdade diante da insatisfação dos alunos, argumentou que em escolas mais evoluídas fora do país isto era algo natural. Eu que vim de fora do país, depois de mais de trinta anos morando em Nova York, sabia que a única coisa que precisávamos era nos adaptarmos às normas da faculdade se quiséssemos prosseguir com o curso. Nas faculdades fora do país, é possível alunos de turmas diferentes fazerem uma ou outra matéria com alunos de outros turnos, mas não alunos de períodos diferentes estudando na mesma sala durante o ano letivo. Um curso deve começar pelo seu início e prosseguir gradativamente até o seu término. 
Foi falado logo no começo do curso sobre um trabalho interdisciplinar de período que deveria ser feito e apresentado em grupos e entregue com data marcada valendo quinze pontos em todas as matérias. Os alunos do terceiro período falavam sobre o trabalho interdisciplinar de período, o TIP, como se fosse algo do outro mundo. Não sabíamos se faziam isto para colocarem uma certa distância entre eles e os novatos, ou se era realmente algo assombroso de ser feito. Entretanto, logo percebi que o TIP era um trabalho que parecia ser difícil dada a dificuldade dos professores em esclarecerem o procedimento do trabalho. 
Uma das coisas que dificultavam o trabalho do TIP de ser feito com esmero é que a maioria dos alunos que se iniciam no curso superior não foram treinados para fazerem trabalhos científicos e muito menos fazerem pesquisas. Estranhamente, os trabalhos acadêmicos científicos são ensinados a serem feitos quase que no final do curso. Os alunos vão treinando a fazer os trabalhos científicos com dificuldade porque precisam elaborar o TIP. Naturalmente ficaria bem mais fácil os trabalhos interdisciplinares de períodos serem feitos se os alunos aprendessem primeiro a fazer trabalhos acadêmicos-científicos dentro das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
O curso de pedagogia na FAPAC é um grande desafio que exige do aluno demonstração de capacidade naquilo que ainda não aprendeu.

METODOLOGIA E PRÁTICA

A metodologia que nos é ensinada durante o período do curso de pedagogia da FAPAC e a prática pedagógica aplicada para conosco não conferem, por não serem as mesmas. São apresentadas durante o período do curso alguns educadores, filósofos, escritores e historiadores, que têm como ideia central a valorização do conhecimento do aluno. E isto não se aplica aos alunos que aprendem como fazer isto quando estiverem dominando uma sala de aula na função de professor. Aliás, é ensinado no curso que quem deve dominar a sala de aula é o aluno e não o professor. Os papéis foram invertidos. Isto é o que aprendemos que devemos fazer em relação ao aluno, dando-lhe liberdade para demonstrar seu conhecimento. Aliás, é ensinado mais do que isto, é ensinado que o professor deve ser o mediador entre o aluno e o conhecimento e que o ideal é que o professor estimule o aluno a refletir. O ideal como aluno é que este seja autônomo e reflexivo. No entanto, não é o que acontece com os estudantes do curso de pedagogia, pois não é, neste caso, levado em consideração o que sabemos. Somos tratados como meros alunos e avaliados como meros alunos. Isto me leva a concluir que seremos o fruto de tudo aquilo que aprendemos em nosso curso de pedagogia: iremos ensinar aos nossos educandos, discentes, ou seja lá qual nome esteja em uso fna época em que lecionarmos, de que precisarão considerar e dar importância aos conhecimentos trazidos por cada aluno, respeitando suas individualidades, classes sociais, temperamentos, conhecimentos e que para nos certificarmos de que estão aprendendo o que estamos lhes ensinando e se tornando aptos para tal função, os avaliaremos pelos mesmos métodos de provas bimestrais aos quais estaremos criticando e sugerindo que estes, no caso de escolherem ser pedagogos, não deverão aplicar. Ainda lhes explicaremos que há outros métodos de se avaliar os estudantes. E assim prosseguiremos, de geração em geração, com o mesmo discurso retórico, porém falido.
Lembro-me de que fiz uma prova de português, onde havia nela um texto medíocre para ser interpretado, e minhas respostas corretas foram desconsideradas. A professora se achou no direito de avaliar como incorreta a minha interpretação sobre o que o autor expusera em seu texto. Havia também uma questão de múltipla escolha em que a minha resposta foi desconsiderada porque a professora concordou com a resposta preconcebida do texto em questão. E se o preparador das questões não foi feliz na realização das respostas para as mesmas? Isto não é considerado, por não haver reflexão. Afinal de contas, não se deve discutir ou questionar as autoridades competentes. Cada um deve se limitar ao seu devido lugar e no caso do aluno à sua insignificância. E com isto, eu perdi seis pontos na minha prova de português. Claro que isto é um absurdo, pois o que eu sei fazer de melhor é interpretar textos, interpretar a vida e interpretar o comportamento humano. Além de ter outras formações acadêmicas, eu tenho experiências e bagagem de uma vida bem aproveitada intelectualmente. Então, eu pergunto: “onde está a consideração pelos meus conhecimentos, pela minha origem, pela minha vivência, que são tão elucidados pelo educador Paulo Freire, que foi o precursor dos novos princípios educacionais ilustrados neste curso de pedagogia?”
Logo se percebe que a decadência do estudo neste século XXI, não é por falta de métodos e nem por falta de metodologias, mas sim por falta de discernimentos, dos representantes da educação, em aplicá-los. O que acontece é que as atitudes hierárquicas resultam neste caos que se encontra a educação, por ela ser ineficiente, ineficaz e desatualizada. Afirmo que, a filosofia que é ensinada é a seguinte: “faça o que eu faço, não faça o que eu mando.”

ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS

No curso de pedagogia a prioridade, obviamente, é a educação. Nos foram apresentadas diferentes formas de educação que foram se modificando ao longo dos séculos. Não se pode esquecer que a educação no Brasil teve início com a Companhia de Jesus, implantada pelos Jesuítas e depois modificadas por diferentes metodologias e interesses. Este resumo dá-se acerca das principais escolas antropológicas, sendo elas a Escola Evolucionista, Escola Difusionista, Escola Funcionalista, Escola Estruturalista, bem como a Escola Estruturalista Marxista. .
Analisando a Escola Evolucionista, esta a antropologia dominou até o inicio do século XX. É possível afirmar que a Escola Evolucionista usava métodos comparativos, onde o individuo era comparado e classificado. Estas comparações variavam e poderiam ser de acordo com a religião, com o parentesco, etc.. Seu histórico afirma que as sociedades estariam em constante evolução, partindo da prerrogativa em que os indígenas primitivos seriam os antecessores do homem civilizado. Ainda sobre a Escola Evolucionista é possível destacar que a antropologia buscava explicar a diferença nas evoluções das sociedades, e acreditava que se um individuo possuísse nível de sabedoria elevado, este indivíduo seria capaz de viver em qualquer outra sociedade, pois se tratava de um ser extremamente evoluído. Essa corrente era defendida principalmente por Lewis Henry Morgan, Edward Burnett Tylor e James George Frazer.
Acerca da Escola Difusionista, os principais pensadores que defendiam essa corrente na Alemanha eram Father Wilhelm Schmidt, Friedrich Ratzel, Léo Frobénius e Fritz Graebner. Enquanto que os pensadores britânicos eram G. Elliot Smith, William J. Perry e W. R. R. Rivers. 
Alguns desses pensadores, como outros viajantes, realizaram expedições com o propósito de observarem as sociedades, nessas viagens. É pertinente acrescentar que, foram encontradas várias semelhanças entre as sociedades, objetos e costumes em lugares muito afastados. E assim, a teoria foi aperfeiçoada, com a teoria de Frobénius que afirmava que tanto os objetos como o comportamento das pessoas era difundido em conjunto.
Esta escola acreditava principalmente que as semelhanças eram passadas através da imitação e na capacidade das pessoas em absorver os traços culturais entre os povos, sendo através da negociação, conquista entre outras maneiras. 
Observando a Escola Funcionalista, pode-se destacar que esta escola estuda as funções das sociedades e as entende como mecanismos de um sistema. 
Diferentemente da escola evolucionista, a escola funcionalista não acreditava que uma sociedade poderia ser mais avançada que uma outra. Uma vez que, cada sociedade tem a sua determinada função, e essas funções relacionam-se de maneira a formar um sistema. 
Partindo deste principio, é necessário que observemos e possamos entender cada função presente em um grupo social, para que assim, seja possível entender o desenvolvimento dele.
Cada sociedade é entendida como diferente, mas nunca como inferior ou superior. Esta escola surgiu como uma alternativa à teoria evolucionista. Os principais autores que apoiavam esta teoria foram: Bronislaw Kasper Malinowski e Alfred Radcliffe Brown.
A Escola Estruturalista sucede a Escola Funcionalista, e pode ser considerada como ramificada para a Escola Estruturalista Marxista. Primeiramente é importante observar que a Escola Estruturalista resgata o sentido dos sonhos, onde acredita-se que o inconsciente se manifesta. Essa corrente findá-se na cultura presente na mente humana, usando a teoria do
parentesco da lógica. A escola estuda aspectos subjetivos, que estavam ligados principalmente à linguagem e ao imaginário dos indivíduos, assim como de cada grupo social. Por se tratar de algo subliminar que trata principalmente da mente humana, essa teoria foi aplicada na psicanálise, para investigar processos mentais. Os principais autores que defendiam a escola Estruturalista são Levi-Strauss, Needham, Douglas, Turner e Dumont. Em análise à Escola Estruturalista Marxista, é pertinente observar que seu principal autor era Karl Marx, seguido por Maurice Godelier e Louis Althusser. 
Eles buscavam um Novo método de análise sobre o ser humano, que pudessem entender o desenvolvimento das estruturas para verificar se eram ou não um relacionamento de forças e fatores. Destaca a importância da infraestrutura econômica para a compreensão das superestruturas sociais, materiais e simbólicas.
A escola deveria ir se modificando e se afastando da época que a antecedeu. Infelizmente o que acontece é que a escola sobrevive da influência de um método implantado num século passado, por não ser adaptada e nem preparada para o século à qual pertence. Em suma, a escola está sempre a um passo atrás, em relação à sociedade vigente.

AUTO AVALIAÇÃO

Não é possível estudar durante alguns anos e não ser alterado, modificado e melhorado de alguma maneira. O frequentar um determinado lugar e conviver diariamente com um grupo de pessoas por si só é um aprendizado incrível. E quando neste lugar se vai ao encontro da meta do que se quer alcançar como objetivo, este aprendizado é ainda mais proveitoso. O frequentar um determinado lugar com um grupo de pessoas que têm o mesmo objetivo permite a cada participante estudar o comportamento alheio. De certa maneira cada individuo em sua peculiaridade, talvez sem saber, é um antropólogo em potencial, pois estudando ao redor, estuda-se o comportamento do ser humano, e é nisso que a Antropologia se resume, no conhecimento do homem como ser social e como ser individual. E é exatamente a Antropologia que nos pede por este trabalho. A Antropologia quer nos conhecer um pouco melhor. É como se a Antropologia não quisesse nos perder de vista, sem ter ao menos nos conhecido em nossa superficialidade. Talvez a Antropologia queira saber que tipo de escola somos, cada um de nós que passamos pelo curso de pedagogia. 
Particularmente, sou a escola tradicional e evolucionista. Eu acredito em valores. E por acreditar em valores sei que estes não se modificam, eles se aprimoram.
Quando comecei a fazer o curso, a timidez era a minha marca registrada, lembro-me de como suava as mãos ao ter que apresentar um trabalho qualquer. E esta anomalia foi sendo curada conforme evoluía no curso. Sinto-me segura e senhora de mim mesma. E este foi o meu progresso como indivíduo. Como professora é importante que eu tenha segurança em apresentar as minhas ideias. É importante que eu demonstre coragem e determinação aos meus alunos. E para demonstrar é preciso sentir. E, eu estou sentindo.
Sinto-me feliz e plena de que valeu cada dia dos meus dias utilizados para me dedicar ao curso de pedagogia. Estou apta para proferir: eu sou uma professora. 
Um curso somente se faz válido se este não ficar na inércia. É preciso exercitar o que se aprende para validar o aprendizado.

CONCLUSÃO

Bendito foi aquele dia em que eu resolvi fazer o vestibular da UNIPAC e ingressar no curso de pedagogia que tanto está fazendo diferença na minha vida. Estudo por amor à arte de saber, de conhecer, de crescer interiormente. E, também, por gostar de me sentir participando da sociedade de modo proveitoso e sensato. Há quem prefira sair às noites e se reunir com os amigos para uma rodada de cerveja; há quem prefira frequentar bons restaurantes; há quem prefira agendar idas aos teatros e aos cinemas das cidades. Eu prefiro frequentar uma sala de aula e ir me atualizando. Mesmo que essa atualização seja contraditória e ironicamente desatualizada. 
A escolha do curso não poderia ter sido melhor, pois tem a ver com as minhas expectativas e com a minha personalidade. 
Quem faz a faculdade é o aluno e não o contrário, portanto posso afirmar que eu tive um bom aproveitamento neste curso do qual amei estar fazendo. Sentirei saudades, portanto estou levando comigo excelentes memórias e grande aprendizados.


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Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 02/05/2015
Reeditado em 11/05/2015
Código do texto: T5228353
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