ARTES VISUAIS E O COMPONENTE DE FILOSOFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL II

ARTES VISUAIS E O COMPONENTE DE FILOSOFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL II

Cleriston França Antônio

RESUMO

Analisar as contribuições das Artes Visuais dentro das possibilidadesdas aulas de Filosofia no Ensino Fundamental II é a proposta deste artigo. Para tal são investigadas, dentro da perspectiva sugerida, as razões que ligam as atividades do Saber e como tais disciplinas dentro do contexto escolar podem auxiliar o discente na sua descoberta pessoal, subjetiva e cidadão por meio das ferramentas da criação e expressão artística e dos valores trabalhadas pelo exercício filosófico critico e consciente tal como foi ressaltado por pensadores como Arsitoteles, Hegel e Walter Benjamim sobre a importância da Arte e da Filosofia na formação do estudante e da sociedade por meio de analises históricas, da produção artística e da própria Filosofia como retrato do moderno padrão de pensamento ocidental.

PALAVRAS-CHAVE: Artes Visuais. Filosofia. Educação. Ética. Moral.

1 INTRODUÇÃO

A contribuição à Educação Fundamental II (e as demais formas de Ensino nas suas vertentes básicas, de modo geral) das disciplinas de Arte e Filosofia é um quesito de inquestionável auxilio ao docente de maneira a ser discutida por acadêmicos e não acadêmicos. Esta parceria deve serimplementada de forma democrática por meio de uma metodologia pratica e reflexiva para com os estudantes a se formarem na grade curricular da escola básica. Embora sejam matérias tidas de menor impacto do ponto-de-vista tecnicista (ética, moral, humanismo, etc), que visa uma formação rápida e incompleta do nível pedagógico, a Arte e a Filosofia estão na base de todo o conhecimento humano, sendo sua expressão pura e autentica da atividade intelectual.

Uma pequena e breve análise do histórico de Artes e Filosofia mostra que elas se colocam em uma posição privilegiada quando se quer chegar ao que um povo mais tem de característico: seus valores, suas ideias e sua cultura. Como um povo sem identidade própria é um povo escravizado, à disposição de outras potencias colonizadoras, oportunidade nata para a desfiguração de seus traços básicos e identitários, não dar valor à Arte e Filosofia é o mesmo que viraras costas para as conquistas do passado, a objetivação do presente e planejar o futuro.

Mesmo que os primeiros cursos em Arte e Filosofia tenham sido áreas do conhecimento importadas para nosso país, é de se admitir que, ao longo dos últimos 300anos, no mínimo, tivemos impresso uma marca indelével de uma cultura ainda em formação (como no caso da brasileira) nos anais do saber universal moderno. Claro que carece ainda de estimulo para a sua auto-sustentação, autonomia e representatividade frente ao que se aceita como Arte e Filosofia nos moldes clássicos ocidentais. Ainda é, pois, o brasileiro um povo colonizado e direcionado por estrategistas poderosos no plano mundial das Artes e das Filosofias acadêmicas.

Apenas o estudo profundo em Arte e Filosofia pode mudar o quadro neo-colonialista que se configura, no Brasil, desde sua fundação histórica e social. Desta experiência básica, o Conhecimento poderá se enraizar e florescer em novas e mais originais formas de Saber, onde tal capacidade poderá ser direcionada aosproblemas genuinamente brasileiros: desigualdade e má distribuição de renda, favoritismo educacional e profissional, racismo disfarçado em 'democrática racial', controle da informação e a sua manipulação pelas grandes corporações nacionais/estrangeiras e etc. A lista só tende a cresce, dependendo do ângulo em que se lança o um olhar profundo e treinado – resultado este de uma Educação eficaz e cooperativa, centrada na criatividade e na capacidade de reflexão: Arte e Filosofia.

Assim, este artigo versa sobre o ensino e a pratica de atividades com Artes e a disciplina de Filosofia no Ensino Fundamental II, como isto pode ser proposto e trabalhado junto com profissionais e alunos, desenvolver praticas criativas com Artes e relacionar com seus métodos os principais pontos abordados pela Filosofia. Criar, assim, uma atividade que desenvolva no docente o senso de autonomia, senso critico e civilidade responsável por si a coletividade, chamando para a luz da discussão o papel formador da Escola pública. Utilizando uma metodologia multi-facetada, o estudo aqui proposto de Arte e Filosofia recorre ao que há de disponível em qualquer biblioteca ou centro educacional multimídia minimamente estruturado, já que se conta com estes materiais de consulta on-line ou em acervo públicos. O cerne da questão é despertar o gosto pela pesquisa e produção artística e filosófica de uma maneira pratica e reflexiva, levando o docente – e muitas vezes, o próprio discente – a uma reforma nas suas convicções pessoais, profissionais e sociais.

Assim,este artigo se apresenta da seguinte forma:

Arte e Filosofia: uma visão histórica sobre os dois conceitos - retrato resumido da Arte e da Filosofia em seus parâmetros gerais;

Arte e Filosofia: exemplos de conduta ética e moral - como Arte e Filosofia podem ser ferramentas de Ensino de condutas sociais e ideológicas;

As principais manifestações culturais/visuaise os movimentos filosóficos do século XX – apontamentos sobre a relação dos movimentos culturais/artísticos e da produção filosófica no inicio do século XX;

Ensinando a pensar a arte e a filosofia - proposta de debate sobre a importância do pensamento artístico e filosófico sobre os valores estabelecidos em determinado meio social;

2 ARTE E FILOSOFIA: UMA VISÃO HISTÓRICA SOBRE OS DOIS CONCEITOS

Arte e Filosofia sempre estiveram juntas, influenciando-se mutuamente, servindo de ferramenta para construir o Saber humano em todas suas vertentes imagináveis. Desta maneira, seria lógico que, numa proposta educacional, se fizesse obrigatório umaanalises das bases entre uma e outra.

2.1 “Desde os primórdios, até hoje em dia/ O homem ainda faz o que o macaco fazia...”

...no entanto, os primatas em sua grande maioria não produzem Arte nem Filosofia (ao menos, dentro de nossa caracterização antrópica). Já no inicio da jornada humana, se tem a preocupação de registrar, interpretar, modificar, opinar e questionar tudo ao redor, dentro dos diversos habitats que a raça humana foi desbravando e conquistando.

Em cada uma destas etapas, a Arte e a Filosofia tiveram um lugar de destaque, demonstrando que animal politico (homem, como era designado na Antiguidade clássica, indiferentemente de gênero sexual, financeiro ou de nacionalidade) tem nas atividades culturais/filosóficas uma preocupação inata à espécie. Não existe sociedade, por mais barbara e primitiva que seja, que não possua algum conjunto de código relacionados aos interesses do campo da Arte e Filosofia.

As mitologias, por exemplo, são o que mais se aproxima do contexto relacionado àArte e Filosofia que ficou legado à posteridade . Em muitos casos, apenas os mitos arcanos foram o que restou deste período de antanho, mostrando para as gerações atuais, como era a realidade das sociedades pré-históricas, antigas ou fora do padrão de 'civilização' que ficou impresso no Ocidente. Seriam, portanto, os mitos retratos da Era dos Sonhos, explicações mítico-poéticas que não podem ser traduzidas em sua inteireza diante dos modernos modelos de vida e morte, alma e corpo, existência e subjetividade .

Com a inevitável evolução socioeconômica crescente das sociedades primitivas,, a Arte e Filosofia foram se modificando de simples conceitos naturista/anímico para estruturas mais complexas, onde os antigos conceitos não mais correspondiam às necessidades do momento. Arte e Filosofia estavam nas bases de todo o novo edifício ético e moral, sendo as interpretações sempre focadas no campo teológico e metafisico que, por sua vez, ditavam as modas culturais e ideológicas. Por isso, cada povo, enquanto soberano, tinha suas próprias normas arquitetônicas, musicais, literárias, litúrgicas e politicas.

Desta maneira, fica evidente que, numa primeira observação desatenta, fica a impressão calçada no senso comum que Arte e Filosofia seriam meras 'ostentações' estilísticas e intelectuais, feitos em sua meta primordial, para embelezar e satisfazer egos hedonistas. Nada mais equivocado, já que, ao longo de toda a Historia, Arte e Filosofia produziram (e produzem ainda hoje) tudo que o subjetivo humano almeja e planeja. De uma forma direta, sem a Arte ou a Filosofia, ficaria o ser humano abandonado à uma existência estéril e pragmática, preocupada apenas com a sobrevivência biológica ordinária e básica. O Ser humano não passaria apenas mais um 'animal' na paisagem terrestre.

2.2 Arte e Filosofia como ferramenta do Saber

Sendo uma marca característica do ‘animal politico’, pode-se firmar que, em cada período, cada época, cada sociedade, Arte e Filosofia influenciaram e foram influenciadas pela produção e evolução dos costumes humanos . Um 'moto perpetum' dinâmico que tira de si mesmo energia para criar e direcionar os destinos humanos.

Nem sempre esta relação Arte e Filosofia foi harmoniosa já que a própria Historia demonstra, claramente, que a Humanidade vem se dizimando ao longos das eras, desde o principio da jornada do Homo sapiens sapiens. Mas negar (ou fechar os olhos para) a grandiosidade do material criado pela Arte e a Filosofia num computo global e histórico só é admissível para mentes atordoadas pelas diversas formas de controle exercido pelas lideranças politicas e econômicas em prol de uma doutrinação e domesticação pragmáticas .

Quer seja educando ou doutrinando, Arte e Filosofia são as ferramentas básicas e o apogeu de toda produção dentro de uma sociedade. Como este processo de amadurecimento se realiza é uma tarefa difícil e dispersa em múltiplos modelos estéticos e filosóficos, criados pelas mais variadas mentes, sob as ordens das inúmeras hierarquias ideológicas, interesses e aspirações ora honestas, ora perniciosas à coletividade que as sustentam.

3 ARTE E FILOSOFIA: EXEMPLOS DE CONDUTA ÉTICA E MORAL

Desde os primeiros ajuntamentos humanos, o duo Arte e Filosofia exerceu uma força gravitacional enorme nos campos de atividade intelectual quer sejam no âmbito individual (subjetivo e pessoal), quer sejam no coletivo (objetivo e público). Basta lembrar que todos os códigos, desde Hamurabi (“Olho por Olho, Dente por Dente”)até hoje, são baseados em valores estéticos e ético/morais. Mesmo o mais sanguinário guerreiro viking ou soldados das modernas forças armadas de potencias como os EUA seguem, mais ou menos flexivelmente, uma determinada conjuntura de noções básicas do que se aceita em suas respectivas sociedades, o que é Amor, Ódio, Beleza ou Normalidade.

Assim, o papel da Arte e Filosofia tem um desempenho seminal na questão de estabelecimento das instituições que caracterizam uma determinada sociedade. E a instituição ‘Escola’ é uma das mais representativas, já que trabalha com a formação de seus futuros cidadãos, mostrando o caminho a ser trilhado para atingir os objetivos defendidos pelo povo do qual descende o estudante. Acima de tudo, Arte e Filosofia caminham juntas para estabelecer as noções hegemônicas defendidas pela opinião pública ou pelas elites, os movimentos sociais, as manifestações de reforma ou tradicionalismo, a aceitação espontânea (ou mesmo manipulada) de certas vertentes ideológicas ou estéticas e ainda, medir à quantas anda o animo de uma determinada classe ou ala social.

3.1 Arte e Filosofia como essência de um povo

Para pensadores como Aristóteles (e em certa medida, Platão, seu antigo professor), Arte e Filosofia eram indissociáveis, sendo que a meta principal de suas ações era a demonstração de um perfeito exercício de civilidade, patriotismo, ética e honra pessoal e para com a Pátria, a Polis e com os deuses patronos. Era, portanto, uma forma didática de se transmitir os preceitos básicos e mais elevados da cultura grega – modelo que seria seguido pelos povos conquistados pelos gregos, depois adotado pelo Império romano e, consequentemente, transmitido à todo o Ocidente latinizado.

Se dentro das sociedades ‘bárbaras’ da Europa, por exemplo, ainda se recorria aos mitos e explicações sobrenaturais, já entre os gregos o conceito de ‘logos’ era uma ferramenta aplicada a tudo no universo cotidiano do pensador grego (o que não sugere que todos gregos eram pensadores natos). O grande diferencial do modelo grego (já que está sendo analisado o contexto clássico do campo Estético/artístico e filosófico ocidental) foi sua sistemática e metodologia impares no Velho Mundo, o que possibilitou uma melhor forma de ensino e aprendizagem dos conteúdos trabalhados, cada qual separado e compartimentado de acordo com o seu objetivo especifico. Organizar, do grego, significa colocar em ordem lógica e era o nome de uma das obras do próprio Aristóteles: Organogran.

Para o senso de ‘ordem’ grega, a harmonia entre as partes era o quesito necessário para que o todo atingisse a perfeição do mundo ideal. Portanto, aparência (estética) e conteúdo (filosófico) eram dois elementos indispensáveis para que a criação humana (no Máximo possível dentro da esfera das coisas terrenas e perecíveis) se aproximasse da perfeição das criações imortais, perfeitas e incorruptíveis. Beleza e Virtude era a norma da sociedade grega clássica, pois isto refletia a condição excelsa dos deuses.

3.2 Estética e Virtude

O conceito de Estética (Arte) e Virtude (Filosofia) era tão estimado pelos antigos helenos que dentro da Educação dos jovens (raramente as mulheres podiam estudar, mesmo pertencendo à nobreza) incluía Ginástica, Canto e Retórica para trabalhar os atributos de um belo corpo, uma voz melodiosa e uma capacidade de falar em público natos a todo bom governante. Esta noção didática não se aplicava apenas ao Estudo e Formação da juventude grega, era uma noção estabelecida para tudo que se podia aplicar ao termo ‘grego’, já que fora do mundo helênico, tudo era classificado como bárbaro ou bruto.

Com a absorção dos componentes culturais gregos pelos romanos, o Ocidente adota esta visão em todo plano político, intelectual e social, ainda que distanciados das fontes inspiradoras originais. De uma observância dos padrões ‘divinos’, tais conceitos passam a ser vistos como mera questão de ‘bom gosto’, já que estaria associado às elites poderosas e dominantes. A ‘etiqueta’ seria uma marca registrada destes modismos, onde sem se preocupar com o conteúdo, se segue uma tendência alienada e hedonista, baseada no segregacionismo e na exclusão socioeconômica. Situação que iria mudar com o advento do Renascentismo, a partir do séc. XII-XIII e culminando no século XV-XVI, quando as Artes e Ciências irão revolucionar os padrões europeus de mundo, sociedade e do próprio sujeito.

É neste período que os paradigmas culturais serão mais fortemente abalados, já que toda uma tradição medieval será demolida ou, ao menos, reformulada diante das propostas da Ciência e das Artes. Com estas medidas, o olhar da Humanidade (europeia) atingiu um patamar de evolução técnica e filosófica nunca antes experimentado.

Enquanto se manteve sob o domínio da Religião, Arte e Filosofia se mantiveram alinhadas às interpretações que os teólogos consideravam ‘verdadeiras’, de acordo com as Sagradas Escrituras e que, acima de tudo, mantivessem o equilíbrio político/econômico dentro das fronteiras de influencia da Santa Sé. Nota-se que, apesar de a ‘Idade das Trevas’ não ter sido a ‘noite dos 1.000 anos’ como o senso comum prega, é inegável que houve um engessamento da Arte e da Filosofia no seu quadro geral. Mesmo com a chegada, no séc. XII, de novas traduções, direto do árabe, dos clássicos perdidos de Aristóteles, o que se observou foi uma ‘re-interpretação’ destes documentos à luz teológica do que se considerou ‘apropriado’ para a Santa Sé.

3.3 Diferentes concepções da mesma Arte e Filosofia

Nas Artes, tudo refletia as tendências estéticas que assumem uma distorção das Escrituras bíblicas. Todo o contexto arquitetônico, por exemplo, era uma perfeita retratação do que se entendia pela interpretação dos dogmas religiosos, como no caso das construções românicas do inicio da Igreja Católica Apostólica Romana: construções fortificadas, sisudas e compactas que representavam o caráter dominador da instituição dominadora que se ergueria sobre os territórios controlados por alianças políticas e ideológicas nos próximos séculos seguintes. Diferente das edificações medievais, o modernismo renascentista já demonstrava uma preocupação com a liberdade e a autonomia do Homem em relação aos poderes seculares da Igreja. Nascia uma nova concepção artística, antropocêntrica, em detrimento do sentido teológico anterior.

Desta forma, nota-se que, enquanto movimento criativo e especulativo, Arte e Filosofia, já nos primórdios da Era Moderna, figuram como uma atividade importante, que revela o que o ser humano é capaz de criar e desenvolver num contexto da Educação, por exemplo, disciplinares corações e mentes, de maneira que sejam aceitos ditames obsoletos favoráveis ao momento histórico da mesma forma que, antagonicamente, pode abrir as portas para uma completa revolução dos paradigmas aceitos.

Tais paradigmas eram um privilégio dos que podiam produzir ou pagar pela produção da atividade artística e do saber filosófico, já que os processos de manufatura eram lentos, artesanais e dependentes dos fatores sazonais para sua atividade tais como clima, oferta de materiais, profissionais treinados e dos elementos relacionados às guerras, pestes e desastres naturais – ingredientes natos da produção e representação artística e no pensar filosófico desde os tempos imemoriáveis do Homo sapiens.

4 AS PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS/VISUAIS E OS MOVIMENTOS FILOSÓFICOS DO SECULO XX

Dentro de um contexto histórico, o séc. XIX e XX foram prodigiosos para as Artes e a Filosofia, já que se experimenta uma liberdade de expressão e produção nestas áreas antes impensáveis do ponto-de-vista tradicional. O espetáculo da Arte invade o espaço particular, levando as massas ao delírio catártico de viver a 'realidade' exposta nas produções. O que já fora privilegio da Metafisica filosófica, agora estava ao alcance do grande público: êxtase, felicidade, contemplação e metempsicose instantâneas. Para a Escola de Frankfurt, pro exemplo, no assunto da Industria Cultural , fica evidente o quanto este mundo feito sob medida pode ser perigoso e manipulador, já que está em jogo a subjetividade de quem paga pelo espetáculo visual, sonoro, fotográfico, teatral e, agora em nossos dias, virtual. Quem paga um ingresso de entrada em uma casa de show ou cinema esta, de fato, acessando uma dimensão ficcional feita para o escape para uma outra vivencia. Tudo que se deseja não é confrontar nossos medos, ódios e hipocrisias, mas sim, fugir para o mais longe possível.

Embora as possibilidades técnicas e econômicas tenham garantido a emergência de novas formas de expressão artística e filosófica, a diluição do processo (efeito em si) é diretamente relacionada ao seu principio de 'democracia' (causa), pois o artista pensador deixa de ser o mensageiro de uma experiência original para se integrar à uma massa onde, alteradamente, o sujeito é artífice e consumidor da sua criação, perdendo o sentido de 'oferta e busca'.

Isto se evidencia logo no final do séc. XIX, com o surgimento da pintura abstrata, abandonando o classismo reinante para atrás, definitivamente, na Historia da Arte moderna. Tal reforma só foi possível com as novas correntes filosóficas que influenciaram os românticos e modernistas europeus, como o Ceticismo e o Pessimismo de pensadores a exemplo deSchopenhauer e Nietzsche, emque um invocaria as influencias de um orientalismo amargo e realista e o outro a necessidade da Vontade de Potencia como motor da Vida e dos impulsos dionisíacos numa sociedade dominada pela paranoia moralista e dogmática.

Nas primeiras décadas do século XX, movimentos artísticos como o Expressionismo, Cubismo, Surrealismo e Dadaísmo irão abalar a própria noção do que é 'Arte' (mesclando varias linguagens artísticas, criando uma nova em cada circunstancia), da mesma maneira que a Filosofia de Russel e Heidegger irão questionar e analisar o fenômeno do Ser, Tempo e Fenomenologia apresentada (ou manifesta) ao sujeito.

Longe desta linha de investigação, Sartre irá trabalhar, no pós-Guerra Mundial, a construção de todas as possibilidades, pois não se nasce 'pronto' para a vivencia do mundo. Neste sentido, tomado pela angustia da existencialidade, o ser humano está só num mundo de solitários (e individualistas) por natureza. É neste contexto que os movimentos culturais representativos das minorias nos grandes centros urbanos dos países ricos (emigrantes, negros, homossexuais, etc) irão ganhar poder de voto e veto nas medidas autoritárias dos governos de seus respectivos países, dando-se mais ênfase ao cinema e o teatro social.

Os trabalhos de Foucault, centrados no campo da Politica e Psicologia, lançaram o discurso sobre a dominação e opressão (bem como dos tratamentos psiquiátricos e clínicos no campo da cognição e alienação patológica) no foco da discussão pública e acadêmica no mundo todo. Inicia-se os grandes festivais de musica pop – principal vitrine cultural no mundo em meados dos anos 60/70 -, o que impulsiona, junto com as ideais questionadoras de pensadores como próprio Foucault, ideias de rebeldia e negação dos costumes e valores tradicionais das sociedades de consumo, emergindo movimentos fortemente influenciados pela cultura oriental, naturismo e programação da subjetividade por meio dos mais variados métodos tais como sexo livre, uso de substancias alteradoras da consciência e desapego material.

No final do século XX., o que mais se evidenciou foi a morte das utopias, o temor de um colapso ambiental causada pelos excessos da atividade industrial e comercial humanas, o terrorismo internacional e a crescente descartabilidade da vida humana, mesmo numa época tecnologicamente auto-suficiente. Pensadores como pós-marxista húngaro Lukács e do norte-americano Noam Chomsky identificam as causas desta distopia como as necessidades artificiais que o próprio ser humano moderno criou para sustentar suas convicções alienadas e infantilizadas pelo poder econômico e técnico.

4.1 Produção e replicação da Obra de Arte e do pensamento filosófico

Desde o final do Medievo , a Arte e a Filosofia deixam der ter o caráter dogmático de antes, período patrístico e escolástico, para se secularizar e tratar dos assuntos 'mundanos', tais como Economia, Politica e Ciências Naturais de uma forma mais voltada para os interesses humanos. Nada mais natural que novas formas de pensar fossem fomentadas nos centros de ensino europeu, onde surgiram as primeiras universidades que, embora profundamente influenciadas pela Teologia e suas variantes, pois se gozavam de privilégios ímpares no mundo acadêmico, foi possível injetar ideias novas que germinariam na forma de disciplinas mais modernas como a Química, a Astronomia, a Biologia, a Antropologia e muitas outras que, se não eram originais do período (assim como no campo artístico, relegado ao estreito conceito religioso), o foram pelo novo enfoque das pesquisas, teorias e propostas.

Sem esta experimentação no universo artístico/filosófico neste período (séc. XVII-XIX), estaria-se ainda numa profunda paralisação nos campos mais cotidianos de mundo moderno, tais como a Eletrônica, a Neurociência, a Aeronáutica e outras demais que nem poderia-se imaginar o dia-a-dia sem as mesmas presentes ao menos durante algumas horas diárias. No entanto, estas possibilidades podem levar a uma errónea conceituação da Arte e do pensamento filosófico, diluindo toda a produção histórica em mero fetiche e produto de ostentação consumista . Se o alcance ao Saber estaria disponível de forma ordinária, numa espécie de supermercado da Educação ‘fast-food’, o que se pode observar é que não há mais nenhuma necessidade de esforço que não seja o mero uso e deleite hedonista dos mesmos. Tal pensamento 'fordista' se encontra, há muito, instalado nas Escolas e currículos tecnicistas, onde o que menos importa é a questionalidade do que se produz para, depois, consumir de forma alienada e sub-prazerosa.

 

5 ENSINANDO A PENSAR A ARTE E A FILOSOFIA

Sob a luz que ilumina a situação pode ser descrita pelo seguinte apontamento: “Está a Escola preparada para o ensino crítico de Arte e Filosofia?” Aparentemente, não. Ao seguir uma padronização de ensino que se utiliza de uma diretriz massificante, a Escola se coloca à serviço destas forças econômicas e ideológicas, mostrando que o mundo, a realidade, é isto que se apresenta pronto e embalado para posterior uso.

Prepara-se mais e mais consumidores do mesmo produto (Arte e Filosofia pasteurizados), abrindo mais mercados para as futuras gerações que ainda estão por vir, fechando um ciclo dito e acreditado perpetuo e legal. Uma demonstração deste fenômeno é a baixa assimilação de que, na sociedade de consumo, tenha mais direitos do que deveres, uma vez que, possuindo acesso aos produtos almejados da individualidade (publicitariamente doutrinada), já atingido a meta total de nossa existência, nos libertando de qualquer barreira moral ou ética .

Outro fator que deixa de ser abordada em sala de aula (já que a Escola é o reflexo da vida em sociedade) reside na questão dos valores de cada época que são aceitos sem questionamento pela maioria do grupo social, ditando normas e regras quase que religiosas, onde os hereges são os que não se enquadram no modismo do momento, quase sempre, seguindo um 'exemplo' heróico ou ilustre .

Uma proposta educacional que unisse Arte e sua produção com o aprendizado e discussão filosófica seria um enorme salto para fora do comodismo mental e da massificação que espera todos que cursam uma instituição de Ensino minimamente preocupada para com o destino de seus docentes. Some-se isto ao fator que, cada vez mais, Escola é sinônimo de 'produção' em massa para a oferta momentânea do mercado de consumo.

Ao entrar em contato com as possibilidades artísticas, o docente pode experimentar o ato de criar algo de acordo com suas expectativas pessoais para, depois, expor tal criação á prova do mundo externo. Por meio da Arte, então, chega-se a um simulacro do real que espera o docente, além da família, Escola e demais 'zonas de conforto'. O trabalho continuado destas atividades fornecem uma capacitação (junto com a discussão em termos propostos pela Filosofia) que auxilia o docente na sua formação intelectual, cidadã e ética/moral, não se esquecendo que a proposta não é uma teoria confirmada ou um método 'milagroso' .

O que se quer mostrar é a validade das possibilidades conjuntas de oficinas artísticas (desenhos, fotografia, musica, artesanato) com grupos de debate (lideres comunitários, professores, profissionais liberais, donas-de-casa, idosos) centrados na Filosofia e suas abordagens acadêmicas (Ética, Moral, Religião, Ciências, Politica, Sociedade, etc.).

Apenas quando se transformar o ambiente e as finalidades da Escola atual será possível colher novos frutos, de acordo com as necessidades modernas. Como a Arte tem esta capacidade de exteriorizar o que sente o ser humano e a Filosofia o capacita a analisar estas emoções e ideias, nada mais racional do que favorecer seu ensino nos polos de formação docente, onde as premissas de uma nova geração de pensadores poderão contar com a alternativa de conseguir opinar de forma plena e consciente, levando em conta todas as faculdades adquiridas no processo de crescimento subjetivo chamado Educação.

 

6 CONCLUSÃO

Fica mais que evidente a importância da Arte e da Filosofia para uma completa, integra, atividade de aprendizado, uma espiral crescente de absorção de dados e experiências que não podem se resumir ao âmbito acadêmico elitista. A produção artístico/filosófica tem de ser uma oportunidade objetiva e pratica, mostrando o quanto o Saber pode ser modificador, reformador e catalisador de um projeto de vida autentico e autônomo.

Para esta realidade se tornar (no âmbito nacional) uma constante, é necessário mais que mero conhecimento enciclopédico dos assuntos em questão. A formação de educadores com especialização em Artes e Filosofia é imprescindível, pois uma mera ‘revisada’ sobre os assuntos não podem conduzir a experiência para os fins objetivados, deixando o docente com uma impressão indecisa sobre os assuntos, levando-o, muitas vezes, para a evasão e desistência nesta e em demais disciplinas. Pensar a Educação como motivacional é preciso, antes, ter profissionais motivados – fator este só atingido mediante sólida formação de base e especialização.

A realidade do mundo do trabalho na área de Ensino – principalmente o público – reflete uma urgência na instrução, formação e atuação no mercado de trabalho o que, na maioria das vezes, alicerça uma carência de experiência letiva e discente diante do desafio da Escola no Brasil. Ainda mais, soma-se o fator que, nas disciplinas de Artes e Filosofia é mais que necessário uma gama de experiências laborais e subjetivas maiores do que nas chamadas Ciências Exatas, onde se irão trabalhar com fatores subjetivos elementos que tendem a seguir um crescente aprofundamento nas suas assertivas ao longo da vida do docente.

O arte-educador e o professor-reflexivo são ambos, lados complementares do mesmo agente transformador: o discente. Estar preparado para este desafio, onde a dinâmica estudante-professor é uma nova etapa de um processo longo e não definido de forma determinística, só aumenta a carga de responsabilidade sobre o papel da Escola, em preparar para a vida social o estudante já desde seus primeiros contatos com as disciplinas mais elementares do currículo escolar básico.

Para se construir uma subjetividade sadia, comprometida com os ideais de Ética e Moralidade exigidos em todo projeto social de excelência, Arte e Filosofia devem se firmar como uma prioridade escolar desde seu mais tenro contato com o estudante, mesmo o que se encontra em situação de risco social ou fora da chamada ‘faixa etária’, sendo assim, estas atividades integradas ao computo comunitário regional, uma ação transformadora e afirmativa, que nutra não uma esperança utópica, mas, uma sistemática que seja complementar e discutida nos seus objetivos.

 

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. ARTE POÉTICA. Tradução, comentários e índices analítico e onomástico de E. de Souza. São Paulo: Nova Cultural 1991 (Os Pensadores vol2).

AZEREDO, Vânia – Pelo Direito à Escolha, revista Filosofia Ciência e Vida, novembro. 2014.

BENJAMIM, Walter – A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica, Abril Cultural, São Paulo, 2001.

CAMPBELL, Joseph - O Poder do Mito.Editora Palas Atenas, São Paulo, 1995.

COX, Maureen. O Desenho da Criança, Martins Fontes, São Paulo, 2010.

ESCOLA DE FRANKFURT , Origem: Wikipédia, a enciclopédia 10-06-2015

GALLINA,Simone. ENSINO DE FILOSOFIA E A CRIAÇÃO DE CONCEITOS, Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 64, p. 359-371, set./dez. 2004 - Disponível em http://www.cedes.unicamp.br e acesso 12-06-2015

KANT, Imannuel - Os Pensadores, Abril Cultural, São Paulo, 1986.

RABUSKE, E. - Antropologia Filosófica, ed. Petrópolis, ed. Vozes, Rio de Janeiro, 1986.

WEBER, Max; A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Companhia das Letras, 2004.