O LÚDICO: Brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil

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Adriana Helena Mattos Barroso

Com Licenciatura Plena em Pedagogia – PARFOR/UFPA

Francisco de Assis Pinto Bezerra

Economista, Consultor Acadêmico. Educador.

SINOPSE

A grosso modo, o termo Lúdico é associado às atividades que envolvem jogos o que, por conseguinte, implica em divertimento. Estudos outros atribuem ao Lúdico, além de jogos, as brincadeiras, cujo principal componente é os brinquedos e com divertimento. Consideram, ainda, que o ato de brincar seja uma necessidade humana, independente da faixa etária, como também que a mesma não pode ser visto apenas pelo aspecto de diversão (SALOMÃO; MARTINI; JORDÃO, 2007).

O lúdico, definido como brincadeira e divertimento, é tão significativo que tem efeito positivo no desenvolvimento da criança, visto que é “sob o brinquedo que ela aprende agir e tomar decisões, influenciando diretamente no seu aspecto cognitivo, embora isto dependa das motivações internas da criança, e não por apenas incentivos proporcionados por objetos externos” (SALOMÃO; MARTINI; JORDÃO, 2007, p. 4).

De fato, as atividades lúdicas despontam no sentido de desenvolver o raciocínio, coordenação motora, agilidade, habilidade, socialização, entre outros aspectos da criança. Tal que estudos de Leite (2010) mostram que a criança, por ainda não ter capacidade de julgamento, necessita de oportunidade para escolher, pois só assim ela pode colocar em prática suas próprias atitudes. Afinal, o lúdico é fator de desenvolvimento cognitivo e que, por conta disso, é também fonte de aprendizagem significativa da criança, como bem prescreve Piaget (1985).

Na educação infantil seguramente o lúdico encontra um ambiente propício para ser trabalhado e desenvolvido, já que esse nível de ensino representa a primeira etapa da educação básica, em particular às crianças na faixa de 4 a 5 anos de idade, como prevê o Plano Nacional de Educação – PNE, Lei n. 13.005/2014 (BRASIL, 2014). Sem sombra de duvida que as crianças são atraídas por brinquedos, brincadeiras, divertimento e alegria, cujo ambiente de ensino espontâneo pode significar fator de aprendizagem e de desenvolvimento.

Não é por acaso que autores como Kishimoto (2001) e Rojas (2007) defenda a posição de que o Lúdico seja a âncora na educação infantil, por contribuir com o desenvolvimento de vários aspectos da criança, em especial o cognitivo, tornando-se um potencial recurso para apoiar a prática docente e, sobretudo, gerar aprendizagem significativa. Portanto, podemos concordar que o lúdico apresenta possibilidades pertinentes no processo ensino aprendizagem na etapa de ensino infantil. Diante disso, a pesquisa envereda pela seguinte linha de investigação: Quais as atividades lúdicas que mais contribuem com a aprendizagem e desenvolvimento da criança na educação infantil?

Para alcançarmos o objetivo de identificar os principais elementos das atividades lúdicas que representam aprendizagem e desenvolvimento da criança, recorremos aos autores especializados e que propõem o lúdico para ser trabalhado na educação infantil. No entanto, como o lúdico representa duas questões-chaves: jogos e brincadeiras; restringimos a aprofundar esta temática com recorte apenas nas atividades referentes aos brinquedos e às brincadeiras, sendo excluídas as atividades com jogos.

Que de certo o lúdico pode ser discutido por várias abordagens, visto as tantas percepções e interpretações sobre esse este objeto, no entanto para este manuscrito optou-se por discutir o tema tomando a linha de pensamento de Luckesi (2010); o qual defende a posição de que a brincadeira, como componente lúdico, significa fonte de restauração da vida natural e saudável da criança, cuja liberdade no ambiente de ensino sobrepõe os problemas de limitação de aprendizagem. Outros pensadores também fizeram parte desse pequeno ensaio, abordando e definindo categorias de termos inerentes a esta pesquisa.

FUNDAMENTAÇÃO LÚDICA

Há tempo a educação por si só não vem dando conta de cumprir o seu papel junto a sociedade, em particular na formação de sujeitos com valores éticos, dotados de conhecimentos e habilidades para serem aplicados na sociedade. Ou seja, a educação precisa de certos “apetrecho” e de arranjos para aprimorar e garantir o processo ensino aprendizagem, principalmente nas series iniciais, que é a base da formação humana.

Tanto é que a educação carece de complementos que Leite (2010) considera o método tradicional de ensino pouco dinâmico e, por isso, o mesmo gera obstáculos à iniciativa individual, a espontaneidade, a autonomia e a criatividade do individuo. Essa rígida metodologia de ensino resulta em dificuldade de aprendizagem, já que a criança pouco participa da produção de saber e de conhecimento e, por isso, o desenvolvimento pleno da mesma deixa de ser trabalhado.

Costa Val (1999) reforça com severas criticas ao modelo de educação infantil vigente, porque entende que a mesma seja marcada por prática tradicional de alfabetização, caracterizada por uma didática estática e mecânica, onde os educadores apenas prescrevem o soletrar, copiar, ligar e cobrir. Essa obsoleta estratégia pouco contribui para desenvolver a criança na totalidade das suas faculdades, já que o ensino se dá de maneira descontextualizada da realidade social da criança. Para mitigar essa situação, essa catedrática trabalha a Redação e Textualidade na educação infantil.

Elizabete Gouvêa (2011) mostra que a criança é visualizada por várias concepções: uns valorizam aquilo que a criança já tem; outros dizem que a mesma é incompleta; outros consideram que a criança carece da orientação do adulto; outros percebem a criança como um ser frágil; Os demais concebem a criança como um ser dotado de competências, capacidades e habilidades.

No geral, esta autora constatou duas correntes de pensamentos sobre a criança: a) Uma que vê a criança como sujeito passivo e que não sabe se defender, não pensa adequadamente, não tem valores culturais e que necessita se submeter ao processo de instrução. E a outra, a minoria, concebe a criança como um agente capaz de produzir, construir e interagir com outros saberes, e não como um ser passivo e que recebe apenas conhecimentos pré-elaborados.

De fato, muito embora tenhamos uma plêiade de pensadores, com destaque a Emilia Ferreiro; Costa Val e Magda Soares, que defende a concepção construtivista da educação, a qual coloca no centro do processo a criança, e não o professor, como agente da aprendizagem, no entanto ainda impera o método tradicional de ensino, que prima pela imposição de conteúdos e pela disciplina no ambiente escolar

Não é por acaso que Flávia Barros (2009) constatou nas suas pesquisas que não existe a arte de brincar nas escolas de educação infantil. Essa ausência das brincadeiras apenas indica que as escolas não valorizam a infância da criança, e sim apenas a sua educação, como ocorria em tempos outrora. Esta autora retorna ao século XVI para explicar a cisão do mundo adulto e da infância, como efeito do surgimento da maquina tipográfica, que possibilitou o surgimento da escrita e a leitura, como algo exclusivo dos adultos, sendo que a criança foi excluída desse universo. A partir de então, surgiu a preocupação com as especificidades da infância da criança, o que resultou na instituição das escolas.

Luciana Valle (2010), inclusive, explica que o surgimento das primeiras escolas para as crianças foi reflexo da Revolução Industrial, século XVIII, quando aumentou a demanda por trabalhadores par ser ocuparem nas fabricas. Com isso, as responsabilidades para com as crianças foram delegadas a terceiros, onde a escola cumpriu este papel, notadamente as instituições de ensino religiosas, onde passaram a atender e cuidar das crianças. No entanto, essas primeiras escolas não eram voltadas para promover a aprendizagem, mas tinha finalidade de apenas atender as necessidades físicas e biológicas das crianças, sendo considerada pela autora como uma educação assistencialista.

Verificamos - como aprendizagem, que nem sempre os brinquedos e as brincadeiras foram algo inerente à criança, porque a mesma não era dotada de infância pela sociedade até por volta do século XVI. Daí, agora, entende-se o porquê os educadores e a escola têm dificuldade de trabalhar a infância da criança a partir das brincadeiras, ou seja, ainda prevalece à cultura legada de épocas outrora na educação. A outra dedução é que a escola nem sempre foi sinônimo de educação e de aprendizagem, podendo assumir outros papeis.

A criança sem infância era algo tão maculado que Fabíola Cruz (2011) diz que na idade média a criança era concebida como “um adulto em miniatura”, como efeito da educação dos adultos, os quais transmitiam conhecimentos a partir das experiências vivenciadas. Para desenvolver a infância, esta autora propõe o lúdico, a partir das brincadeiras, como instrumento fundamental para o desenvolvimento cognitivo da criança e para superação do fracasso escolar na educação infantil.

Ana Leite (2010) discute os brinquedos e as brincadeiras como suporte da construção lúdica, com vista a ressignificar a prática pedagógica docente na educação infantil. Assim, o lúdico pode ser desenvolvido a partir de três formas de brincar: A brincadeira livremente, onde a criança é autônoma e não sofre limites para criar, experimentar, explorar ou pesquisar, onde há a valorização do brincar espontâneo e sem imposição de normas ou regras.

A brincadeira tradicional, que representa as culturas populares transmitidas de geração em geração, como as brincadeiras de rua, luta corporal, esconde-esconde, amarelinho e pula-corda. A terceira é a brincadeira lúdica dirigida, desenvolvida a partir do brincar espontâneo e das brincadeiras tradicionais, cuja finalidade é permitir a escolha de brinquedos, adequados aos conhecimentos escolares específicos na educação infantil.

Vicente Leite (2000) investiga as brincadeiras na educação infantil colocando no centro das discussões o ambiente de ensino, pois entende que o espaço escolar tem ser bem estruturado e adequado, levando em conta a faixa etária e as necessidades das crianças, pois as instalações físicas são fatores que podem prejudicar ou propiciar a aprendizagem. O lúdico tem que ser desenvolvido em um espaço arejado e iluminado, além da disposição adequada das carteiras e da disponibilidade de materiais para brincar.

Salomão, Martini e Jordão (2007) defendem as brincadeiras livres na educação infantil, ou seja, as brincadeiras não voltadas para aprendizagem de conteúdos. Até porque essas autoras consideram o lúdico como brincadeira e divertimento, porém tem grande representatividade para a criança na medida em que o lúdico gera efeito positivo no desenvolvimento da criança. Argumentam que é sob o brinquedo que a criança aprende agir e tomar decisões, estimulando seu aspecto cognitivo, sendo válido isso para qualquer faixa etária, porque entendem que “brincar seja uma necessidade humana”.

Cipriano Luckesi (2010), por seu turno, discute a Atividade Lúdica abordando a experiência interna da criança. Defende a posição de que a brincadeira lúdica seja fonte de restauração da vida natural e saudável da criança, cuja liberdade na escola sobrepõe suas limitações de aprendizagem na educacional infantil.

Mara Siaulys (2005) se aproxima deste último pensamento, ao tomar a Brincadeira como fator de inclusão. Acredita que a brincadeira seja essencial para a vida das crianças, pois o brincar é fonte de alegria e de motivação, permitindo uma aprendizagem espontânea e feliz, a partir de trocar experiências, independente das condições físicas, intelectuais e sociais da criança.

Jean Piaget (1985), a partir da obra Psicologia na Pedagogia, diz que o lúdico requer a livre ação da criança sobre os brinquedos e brincadeiras, de modo a expressar seus aspectos internos cognitivos, como o raciocínio lógico e a inteligência. Trata-se de uma Nova pedagogia em que o lúdico possa substituir a disciplina imposta pela educação tradicional, onde a criança possa se desenvolver a partir da sua vida social e com participação efetiva no processo ensino aprendizagem.

Tizuko Kishimoto (2001) corrobora o lúdico como sinônimo de brincadeiras na educação infantil. Entende que o ensino dos conteúdos pode ser potencializado através das brincadeiras, na medida em que um material pode ter vários significados, contribuindo para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, afetivos, motor, sociais da criança. Por isso, considera que o lúdico seja fonte de aprendizagem significativa na educação infantil.

Tanto que Regina Grando (2008) e Venturini e Guimarães (2012) trabalham o lúdico como plataforma para ensinar conteúdos de matemática. Defendem a posição de que sejam no ambiente de sala de aula que são desencadeadas as ações, propícias ao desenvolvimento da imaginação das crianças, principalmente quando se trabalha em grupos, onde são criadas novas formas de se expressar, enriquecendo o repertório de aprendizagem da criança. Por isso, consideram que o lúdico seja uma atividade que promove o senso crítico e investigador da criança, contribuindo no seu desenvolvimento pleno.

INDÍCIOS DA PESQUISA

Em linhas gerais, os resultados da Pesquisa revelaram que o lúdico gera benefícios positivos na aprendizagem e no desenvolvimento da criança, como efeito da exploração dos brinquedos e das brincadeiras, as quais facilitam aquisição de conteúdos e de conhecimentos.

A análise dos autores supracitados permitiu concluir que:

a) O lúdico é importante para o desenvolvimento da criança na educação infantil, por que a mesma tem seus aspectos cognitivos, físicos, psicológicos, sociais e motores desenvolvidos, enriquece a experiência sensorial, estimula a criatividade e desenvolve habilidades, tornando a criança um agente efetivo na construção de conhecimentos, na medida em que aplica seus conhecimentos prévios sobre as brincadeiras; e

b) São as brincadeiras, como principais componentes lúdicos, que contribuem com a aprendizagem significativa da criança na educação infantil

Consideramos que o lúdico represente um recurso a mais para auxiliar o educador no trabalho pedagógico, de maneira a facilitar o processo ensino aprendizagem, embora isso dependa de uma Infraestrutura física, voltada para as atividades lúdicas, e de Recursos Humanos qualificados, onde Professores; Coordenadores e Gestores sejam capacitados para mais bem atender e dar uma formação adequada à criança na educação infantil; e não que o lúdico venha substituir a educação tradicional.

AUTORES REFERENCIADOS

BARROS, Flávia Cristina Oliveira Murbach de. Cadê o brincar? Da educação infantil para o ensino fundamental. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.

COSTA VAL, Maria da Graça. 1999. Redação e Textualidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

CRUZ, Fabíola Peres da. O lúdico como instrumento importante no desenvolvimento cognitivo da criança e para superação do fracasso escolar. 61 f. TCC (Curso de Especialização em Neuropedagogia e Psicanálise) – Programa de Pós-Graduação da Faculdade Ávila, Goiânia, 2011.

GOUVÊA, Elizabete Gaspar. Cultura Lúdica: Conformismo e Resistência nas vivências das brincadeiras Infantis na escola. 188 f. Dissertação (Curso de Mestrado em Educação). Belém, Universidade do Estado do Pará, UEPA, 2011.

GRANDO, Regina Célia. O jogo e a matemática no contexto da sala de aula. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2008.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil: Jogo, brinquedo e brincadeira. Florianópolis. Rev. Perspectiva. UFSC/CED, NUP, n. 22, p. 105-128, 2001.

LEITE, Ana Maria. Caixa de brinquedos e brincadeiras: Uma aliada na construção de atitude lúdica para a ressignificação da prática pedagógica do movimento na educação infantil. 74 f. Dissertação (Curso de Mestrado em Educação Física) - Escola de Educação Física e Esporte da Universidade do Estado de São Paulo, 2010.

LEITE, Vicente. Rev. As brincadeiras na educação. Psicologia da educação, v. 1, n. 1, Dez. 2000.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Ludicidade e Atividade Lúdica: Uma abordagem a partir da experiência interna. Perspectivas atuais, Nov. 2010.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Desenvolvimento dos estados de consciência e ludicidade. Cadernos de Pesquisa do Núcleo da UFBA, v. 2, n. 21, p. 19-30, Dez.1998

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária Ltda., 1985 (Segunda parte da obra).

ROJAS, Jucimara. Jogos, brinquedos e brincadeiras: a linguagem lúdica formativa na cultura da criança. Campo Grande: UFMS, 2007.

SALOMÃO, Hérica Aparecida Souza; MARTINI, Marilaine; JORDÃO, Ana Paula Martinez. A importância do lúdico na educação infantil: Enfocando a brincadeira E as situações de ensino não direcionado. Rev. Psicologia.com.pt, 7 Set. 2007

SIAULYS, Mara O. Campos. Brincar para todos. Brasília, DF, Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial, 2005.

VALLE, Luciana Rocha de Luca Dalla. Fundamentos da educação infantil. Curitiba: Editora Fael, 2010.

VENTURINI, Ângela Maria; GUIMARÃES, Flávia Maria de carvalho. As contribuições da mediação professor e aluno e a importância do lúdico no ensino da matemática nos anos iniciais do ensino fundamental. Rio de Janeiro: Instituto superior de educação do, 2012.

ASSIS BEZERRA e Adriana Barroso
Enviado por ASSIS BEZERRA em 07/12/2015
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