A LEITURA PARA OS FUTUROS PROFESSORES

A LEITURA PARA OS FUTUROS PROFESSORES

Greyce Hellen Santos

Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, greycezem@gmail.com

INTRODUÇÃO

Leitura, uma das maneiras mais inteligentes e eficazes de receber uma informação, compreendê-la e transformá-la, é também, o poder de chegar a todos os lugares, conhecer pessoas que nunca vimos ultrapassar gerações, direcionando-nos até onde nunca imaginávamos. Ler é como diz o especialista Manguel (1999), “é uma grande ferramenta para entender o mundo”, e ouso completar: transformar o mundo.

Visando observar como está sendo a leitura dos professores em formação, tendo em vista que são estes quem também auxiliarão os novos leitores; a turma de Português Instrumental I, do período 2013.2, conduzida pela professora e linguista, promoveu uma pesquisa na Universidade Estadual da Paraíba, a qual foi feito questionários para 65 alunos de Licenciatura em Letras, sem restrição de períodos de curso ou habilitações do curso, podendo ser esses alunos de: Português, Inglês ou Espanhol. A proposta extensiva e direta do Questionário (MARCONI E LAKATOS, 2003) foi preenchido pelos alunos por próprio punho, sem qualquer influência do entrevistador, as questões foram elaboradas pela professora, contendo perguntas e respostas de múltipla escolha e respostas complementares descritivas. A pesquisa não avaliou o nível de proficiência dos leitores.

Foi verificado no Questionário, perguntas relevantes sobre a disponibilidade para a leitura suportes utilizados, além dos sentimentos de prazer e obrigação da leitura. Que de certo modo, pode influenciar na frequência e eficiência da leitura, além de transferir de maneira negativa os alunos dos futuros professores, considerando que o exemplo do professor, pode ser responsável pelo “estímulo-reação” (ROSS, 1979) do aluno.

OBSERVAÇÕES RELEVANTES

A pesquisa apontou em superioridade que 84,61% dos entrevistados afirmam que o tempo dedicado à leitura é insuficiente. Mas se a leitura é tão importante, qual o motivo de não se ler mais? Esta resposta está possivelmente na mesma pesquisa, onde 63,95% dos alunos informaram que não leem mais, por “falta de tempo”, enquanto outros 17,45% alegam poucas condições financeiras, impedindo a frequência da leitura. Observamos que essas duas condições são fortes problemáticas para a leitura, que inclusive podem estar associadas à questão social, incluindo a desvalorização do trabalho, já indicada por Bragança (2007), onde o cidadão precisa trabalhar mais para sua manutenção, mesmo não tendo todas as garantias de uma vida com total dignidade e acessos satisfatórios e informação, portanto, a busca pelo sustento pessoal e básico esbarra diretamente no tempo leitura e recursos para aquisição de livros.

Consideramos que, a falta de tempo e condições financeiras, também pode contribuir para que as pessoas busquem maneiras mais rápidas e baratas de adquirir informações, como o uso de vídeos, artigos informais ou comentários na internet. Verificamos que, essas fontes podem suprir a necessidade de tempo e dinheiro, porém não amplificam os detalhes ou uma reflexão mais completa sobre o tema, podendo contribuir para uma compreensão simplória e sem reflexão crítica sobre o conteúdo lido.

Confirmamos que a agilidade e facilidades do computador, e internet podem ter contribuído para que 52,95% dos pesquisados utilizassem com mais frequência os recursos digitais, pois consideram mais acessíveis e mais baratos; portanto, esses meios contêm pontos negativos e graves, que podem prejudicar na formação e compreensão dos leitores, tendo em vista que, muitos dos materiais disponibilizados na internet podem ser modificados com facilidade, sem qualquer critério de veracidade, podendo encaminhar o leitor ao erro de informação, devido às atualizações sem controle; a falta de critérios também contempla a elaboração linguística dos textos, que pode prejudicar a eficácia da leitura, contribuindo para possíveis dificuldades, contradições e até bloqueios de compreensão.

Não queremos dizer que a leitura digital seja evitada, porém precisa ser ponderada, pois as mesmas podem comprometer a boa visualização e referência do texto lido, pois o processo de leitura “é um evento comunicativo em que operam, simultaneamente, ações linguísticas, sociais e cognitivas”, (ANTUNES, 1937), onde essas atividades intelectuais e cognitivas da leitura, segundo Kleiman (2012), começam pela apreensão dos objetos do texto através dos olhos, para depois haver o processo de interpretação do que é lido; contudo, acreditamos que a leitura digital não dispõe de tantos pontos fixos ou acompanhamento palpável que o livro oferece, podendo influenciar para uma compreensão distorcida ou confundida, diminuindo a fluência e a motivação do leitor, diferente do livro que é palpável, direciona a leitura, além de sugerir mais proximidade para anotações diretamente na superfície do texto.

Outro aspecto importante, observado na pesquisa é que, os dois gêneros mais lidos pelos estudantes são os literários com 32,60% e os acadêmicos com 28,88%. Considerando que esses tipos de leitura requerem mais estratégias do leitor e também são mais específicos para o curso, possivelmente, esse índice indica também, que a leitura desses alunos, não é tão diversificada, fazendo-nos refletir se a leitura é feita em maioria, apenas por obrigação do curso e dos professores. Somando a esta reflexão, verificamos que 34,09 % dos alunos informaram que a principal motivação para a leitura era o prazer, contudo, 33,33 % informaram que a motivação de leitura provia dos estudos.

Somando a nossa reflexão, observamos a diferença da leitura entre prazer e obrigação, de apenas 1 (um) entrevistado, portanto, um empate técnico; o que nos impede de considerar com mais veemência se os estudantes leem por motivos prazer de aprendizagem, desenvolvimento pessoal ou por obrigação, sendo esta, apenas para cumprir determinada tabela de atividades sugerida. Essa estatística nos indica um alerta, pois se a leitura se tornar uma obrigação diária para cumprir metas, se tornando um aborrecimento e frustação, podem também contribuir para que o leitor e professor em formação perca a sensibilidade de diversificar a leitura, que é fonte de interação e enriquecimento de conhecimentos.

Claro que é de suma importância, boa parte da leitura desses alunos ser baseada no perfil do curso estudado, até porque também é um prazer para tal leitor concluir seu curso de formação. Porém, isso não quer dizer que a leitura seja prazerosa ou preencha os objetivos internos de cada aluno. E mesmo sendo esses leitores competentes em suas estratégias de leitura, para textos que requerem mais do leitor, uma lacuna como o prazer pode influenciar na vida profissional dos novos professores e inclusive diminuir as chances de ler mais, até mesmo após a conclusão do curso.

Reafirmamos que é importante essa reflexão, pois o conhecimento que a leitura oferece, enriquece o indivíduo em qualquer período da vida. Portanto, se esses futuros profissionais não estiverem estimulados para a leitura em diferentes sentidos, o desempenho deles na sala de aula pode não promover o verdadeiro valor da leitura para os alunos, que também terão a leitura como obrigação, relevando tabelas e prazos, sem considerar os objetivos e a diversidade de cada indivíduo.

Ainda estimulando o alerta e aguçando nossa reflexão, a partir dos elementos que podem dificultar o acesso e a compreensão da leitura, e considerando que a Universidade é também um universo que amplia o senso crítico do aluno/ leitor: Será que estes futuros professores são competentes em sua leitura ou só reproduzem as informações dos textos lidos, sem relacionar ou refletir sobre? Será que os 67,42% dos alunos que dizem ler por prazer e pelos estudos, após concluírem o curso e tendo mais tempo, irão se dedicar mais a leitura, inclusive diversifica-la?

Não temos exatidão nesses questionamentos, porém acreditamos que a reprodução é ação recorrente dos seres humanos, neste caso, sugerimos que o incentivo a leitura diversificada deve ser mais intenso, começando pelos pais, desde a infância, sendo complementado pelas políticas públicas na força das escolas, através da pessoa do professor, para que no período de formação universitária, por exemplo, o quantitativo indique com mais certeza o prazer pela leitura e diversidade de conteúdo, que são também, duas fortalezas para adquirir conhecimento, compartilhado entre o leitor, a obra e o mundo.

CONCLUSÃO

Este artigo é concluído com uma alerta, se a leitura para os alunos de Letras entrevistados reflete uma realidade nacional, de que a leitura possa ser apenas para concluir atividades, sem um verdadeiro sentido restaurador de conhecimento ou ainda, se o prazer é impedido por muitos motivos, principalmente questões financeiras e tempo. Mesmo com essa problemática, a maneira de mudar o contexto social é a educação, que acontece principalmente por meio da leitura, que é a maneira de valorização do ser humano, conhecimento e melhorias sociais; portanto, acreditamos que a sociedade e os poderes públicos tem seu papel de contribuição, porém um papel exemplar e simbólico está presente no professor, que tem o poder de influenciar na maneira de leitura dos seus futuros alunos, contribuindo para a formação de aliados em todo o processo enriquecedor da leitura e da educação, (Bezerra, 2000). É com a união e com a leitura, que podemos lutar contra todas as dificuldades e barreiras para adquirir o conhecimento, e consequentemente mudar nossa realidade, nosso mundo.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, A. B. Leitura e escrita: Ainda desafios para o próximo milênio, João Pessoa,PB- Graphos, 2000.

RIBEIRO, A. E. Mitos e falácias sobre a leitura no Brasil: Entrevista com Anibal Bragança, Belo Horizonte, MG, 2007.

MENAI, T. Ler é poder: Entrevista com Alberto Manguel. Revista Veja, 1999.

KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura – teoria e prática, 14ª edição. Campinas, SP- Pontes Editores, 2012, Cap. 3.

KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da Leitura, 13ª edição. Campinas, SP – Pontes, 2010, Cap. 1.

ANTUNES, Irandé, 1937. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2010, Cap. 2.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. - 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.

ROSS, Allan Otto. Aspectos psicológicos dos distúrbios da aprendizagem e dificuldades na leitura. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1979.

KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da Leitura, 13ª edição. Campinas, SP – Pontes, 2010, Cap. 1.

Greycensaios
Enviado por Greycensaios em 20/04/2016
Código do texto: T5611339
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