Missão professor

Hoje um aluno do 2º ano do Noturno me perguntou quem era "esse tal de Paulo Freire" que estampava um monte de dizeres que ele viu pixado em lugares pela cidade. Tentei falar brevemente sobre a educação contextualizada, uma vez que tenho 45 minutos de aula semanais de sociologia pra falar sobre o conteúdo e não podia perdurar muito o assunto naquele momento.

Depois da explicação ele olha pra mim e fala "só isso professora? o cara é importante porque falou essas coisas que todo mundo sabe?". Novamente tentei falar pra ele sobre a importância dos docentes de olharem para os estudantes não como receptáculos de conhecimento ou tábulas rasas, de entende-lo como ser humano que tem uma vida pessoal e uma história que influencia muito seu aprendizado, como a pobreza, o racismo, a miséria e a exploração. Disse a ele como por muitas vezes nós professores não temos a sensibilidade de exercitar uma coisa que deveria em tese ser tão simples, como olha-lo como um ser humano, antes de ser um "aluno"

Me senti envergonhada com o olhar que ele me lançava enquanto eu explicava o pouco que sei para ele, pois percebi que por mais indiferentes que esses estudantes possam parecer (principalmente os do noturno), ele acreditam veemente que diariamente temos olhar de Freire para com eles. Esse estudante me observou com um olhar regado de certo desprezo e disse: "não sabia que alguém precisava falar dessas coisas para um professor".

Sim meus colegas, nós falhamos miseravelmente.

Essa noite não será fácil pegar no sono.

Ruana Castro
Enviado por Ruana Castro em 31/01/2017
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