De onde vem a expressão "vale a pena"?

De onde vem a expressão "vale a pena"?

Pena, neste contexto, deriva de "penar", padecer, sofrer ou sentir dor para alcançar algo. A expressão significa advir recompensa do esforço feito. Ficou célebre por ser usada por Fernando Pessoa, no poema "Mar Português": 'Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena".

Mas, de onde e como surgiu?

Pena é uma das minhas palavras preferidas, senhora de múltiplos significados. Há a pena que simboliza o ofício do escritor; a pena como punição; a pena de sofrimento; a pena dó e compaixão; a pena sinônimo de lástima ou desgosto; a leveza do peso-pena; a pena clemência; a pena esforço; o travesseiro de penas; a penalidade máxima; o êxito obtido a duras penas. Nunca se dirá pena com um sentido apenas.

Houve um tempo em que as (poucas) pessoas que escreviam usavam penas preparadas para isso - penas mesmo, de ave, geralmente penas de ganso, que eram consideradas as melhores. Além de serem de ganso, mandava a tradição que fossem, se possível, da asa direita, já que se acreditava que essas eram as de melhor qualidade. Acontece que, como instrumentos de escrita, as penas desgastavam-se rapidamente e precisavam ser refeitas ou substituídas. A invenção das penas de metal (um longo processo, principalmente ao longo do século XVIII) resolveu em parte o problema do desgaste, conservando-se nos novos instrumentos de escrita a forma básica das antigas penas, assim como, por metonímia, o nome.

Restava ainda a solucionar a questão de que, ao escrever, a pena necessitava, a cada instante, ser molhada em um tinteiro, o que contribuía para tornar a escrita irregular e extremamente morosa (embora eu às vezes me pergunte se isso não resultaria em uma vantagem, ao possibilitar maior tempo para reflexão sobre o que se escrevia). De qualquer modo, papel, naqueles tempos, era um artigo dispendioso que devia ser usado com sabedoria, para propósitos bem definidos e não para registrar garatujas imprestáveis. Quase todos haveremos de concordar que ainda precisamos dessa parcimônia, já não em virtude do preço, mas porque as árvores precisam viver.

Desse modo, “valer a pena” é escrever o que vale o sacrifício!

ALVES, Celma - 2021.