O FREGUÊS DE CURITIBA

Agora chega. Cansei-me. Não dá mais para engolir. É sempre a mesma história. O mesmo filme. O enredo muda apenas de acordo com o ponto de vista. É comédia para eles e terror para nós. E o pior é que não há nenhuma explicação racional. O cenário é igual a todos os outros. Nada mudou. Em todas as ocasiões a esperança se renova. Todavia, indefectivelmente, o resultado mostra-se imutável.

Os Campeonatos Brasileiros são bem diferentes entre si e isto contribui para a magia e beleza do espetáculo. Não conseguimos prever ao certo quem será campeão e quem será rebaixado. Mas todos nós temos uma certeza absoluta: o Flamengo vai perder em Curitiba. Não importa se o prélio é diante do Coritiba, do Paraná Clube ou do a.paranaense. Pouco interessa se o duelo é no Couto Pereira, no extinto Pinheirão, na Vila Capanema ou naquele estádio do Água Verde. Tudo bem, faça-se uma ressalva em relação à Gralha. O Fla venceu os últimos jogos na capital das araucárias contra os oito clubes em um. Mas de que adianta se o Paraná Clube nos aplicou várias goleadas até no Rio? Aqui, vencemos por 1 a 0, quiçá 2 a 0.

Não me proporei a explicar racionalmente o que acomete o Flamengo em cada chegada a Curitiba. Simplesmente porque nenhuma teoria seria cabível aqui. Talvez seja algo no aeroporto Afonso Pena. Ou, quem sabe, a comida do hotel Bourbon não caia bem nos estômagos flamengos. Pode ser que nossos jogadores sejam alérgicos aos pinheiros-do-paraná (ou araucárias, uma árvore típica da região). Quem sabe seja um pouco disso tudo. Porque força das equipes locais, estou certo que não é. Ora essa! Se não é! Tentem me convencer da expressividade e tradição de Coritiba, Paraná e a.paranaense! Um deles é uma equipe que se orgulha da alcunha de "coxa-branca". Hã? É isso mesmo, ter a região superior da perna pálida é motivo de orgulho? Calma, conheço a história. Tudo começou em um encontro entre o referido time e o seu rival a.paranaense. O dirigente Jofre Cabral gostava de ofender os jogadores do Coritiba dessa forma, graças à ascendência germânica dos mesmos. A ofensa virou marca registrada do time do bairro do Alto da Glória. E até hoje são apaixonados por esse apelido afrescalhado. Diga lá, você que não é de Curitiba e nem cresceu no Paraná. O que pensaria de alguém que responde à pergunta "por que time torce" com "ai, eu sou coxa!". Nossa! Que gracinha, não é mesmo?

O outro time não é um time. Não é um só, pelo menos. São oito. Isso mesmo, um oito em um. Ou melhor, que não resulta em uma só equipe de respeito, tanto que hoje frequenta o abismo da Série B sem pretensões de voltar. Só mesmo o Flamengo para dar moral para esses manés. Os times que o compõem? Lá vai: Pinheiros, Colorado, Ferroviário, Água Verde...não lembro o resto. E nem vem ao caso.

O último, de fato, desperta nojo. Asco (esta palavra completa o nome de outro time, engraçado, não?). Ódio. Desejos maléficos. Sede de sangue. O a.paranaense não admite, mas obviamente copiou nosso modelo de camisa e distintivo. Conquistaram um Brasileiro apenas, mas tratam como se fossem 15, 20 títulos. Têm um estadiozinho moderninho, bonitinho e falam do mesmo como se fosse uma nave alienígena de Júpiter. E adivinhem? O Flamengo não vence lá de jeito nenhum! Tudo bem, ganhou na Sul-Americana... um jogo que o técnico deles quis perder. Sejamos francos, confrades rubro-negros: o sabor dessa vitória não é de café-com-leite? Não que o estádio do Água Verde seja um local impossível de se vencer. Nossos rivais locais, que cansam de apanhar da gente nos Estaduais, já venceram lá jogando para valer. Até mesmo o Arapongas, simpática equipe do interior paranaense, já desbancou o a.paranaense na frente da praça Affonso Botelho. Ou seja, não é nenhum ambiente inóspito. Só mesmo o Flamengo, viu...

Como já é de praxe, segue mais um diabólico dossiê rubro-negro! Adianto que não são todas as nossas derrotas aqui, já que precisaria de um grosso livro somente para relatá-las, mas aquelas que mais feriram minha existência flamenguista.

O ano inteiro de 2003

Já começo com uma traulitada sem precedentes! Ou melhor, três. O primeiro Brasileiro dos pontos corridos nos reservou uma tríplice entente de goleadas. Os aliados foram contumazes: Coritiba 5x0, Paraná 6x2 e a. 4x1. Não preciso dizer mais nada.

2004

a.paranaense 2x1 Flamengo

Aqui, estávamos vencendo no meio-estádio quando sofremos dois gols nos minutos finais. Teria sido nossa primeira vitória no Água Verde. Doloroso por demais!

2005

Coritiba 3x2 Flamengo

Depois de ver o Coxa abrir 2 a 0, conseguimos o empate e o jogo estava bom para nós. Mas o gol da vitória alviverde foi conseguido aos 46 da segunda etapa. Arde como brasa!

2006

Flamengo 1x4 Paraná

Na volta da Copa da Alemanha, cedemos à Gralha uma grande goleada. Não se explica o que houve no jogo.

2008

a.paranaense 5x3 Flamengo

Poderíamos ter rebaixado os poodles e entrado na Libertadores. Nem uma coisa nem outra aconteceu.

2009

Coritiba 5x0 Flamengo

A repetição de 2003. Sem praticar um grande futebol e contando com a sonolência flamenguista, o Coxa de Bruno Batata e Ariel Nahuelpán (quem?) não encontrou dificuldades em golear.

2010

Flamengo 0x1 a.paranaense

Não derrotávamos os cãezinhos de madame em Curitiba desde 1974. Eles nunca haviam triunfado no Rio. O tabu em nosso favor caiu primeiro. Amargo! Tenso!

Até o momento, é só, irmãos. Claro que tem mais, muito mais. Fiz apenas uma breve seleção para vós. Creio eu que não há, no mundo, equipe que perca tanto em um só lugar quanto o Flamengo. Aqui em Curitiba, nossa maravilhosa torcida jamais deixou de apoiar o Mengão. Nós passamos por cima do frio, do retrospecto e do racismo. Nosso espírito é imortal e nossa sede é por raça. Mas temos fome por vitória. Ouçam nossa voz, pérfidos dirigentes. Inventem preleções diferenciadas para confrontos em Curitiba. Convençam os jogadores que são jogos diferentes. Aqui, a Nação entra no estádio com raiva antes da bola rolar. Esperançosa, sim. Como também pusilânime, já que mais uma vez, o final parece ser infeliz. Quem sabe da próxima vez? Ou da próxima...da próxima...da próxima... Chega de "próximas". Queremos o futuro aqui e agora. A imensa Nação Rubro-Negra não merece tantos fracassos. Queremos poder dizer um dia: "adeus, freguês de Curitiba!". Mas essa data está muito distante de nossas imaginações.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 14/11/2011
Reeditado em 28/11/2011
Código do texto: T3335188
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