Capoeira: Mestre Popó de Santo Amaro e o Maculelê !

Maculêle - Mestre Alcides de Lima - Mestre Popó

Texto escrito a partir de entrevista cedida em 16/12/1968 à Maria Mutti por Mestre Popó em Santo Amaro da Purificação - BAHIA.

Segundo Mestre Popó, maculêle é luta e dança ao mesmo tempo, se um feitor aparecia na senzala anoite, pensava que era a maneira de adoração aos deuses das terras deles (dos negros escravos), as músicas não davam ao feitor entender o que eles cantavam.

A festa era realizada de 8 de dezembro (consagração de Nossa Senhora da Conceição) e 2 de fevereiro (dia de Yemanjá) em Santo Amaro da Purificação. Acontecia nas praças e nas ruas da cidade e era considerada uma festa ``profana'' realizada pelos negros escravos.

/Plaé, plaé /plaé, plaé, plaé / plaé, plaé/

em marcha guizada, a "Marcha de Angola'', que tem algo de Capoeira e de Samba, tudo isso em Movimentos sempre ao compasso das batidas das grimas (bastões).

Quais os instrumentos apropriados?

Segundo Mestre Popó são 3 os atabaques usados no Maculêle, com as seguintes denominações e funções:

- o Rum: é o atabaque maior com som grave;

- o Rumpi: é o atabaque de tamanho médio com som "médio";

- o Lê: é o atabaque pequeno com som mais agudo.

Os dois primeiros atabaques, o Rum e o Rumpi, fazem a base do toque com pouco improviso, enquanto o atabaque Lê, sendo mais agudo, sua função é praticamente repiques de improviso.

Segundo Mestre Popó os tocadores devem ser muito bons.

Essa organização dos atabaques do Maculêle é semelhante a organização dos berimbaus na capoeira Angola, onde temos:

-o Gunga ou Berra-Boi: é o berimbau mais grave;

-o Médio: é o berimbau de afinação;

-o Viola: é o berimbau mais agudo.

Os dois primeiros fazem a base do toque, mas agora o Médio também pode seguir um pouco no improviso, "desafiando" o Viola, que fica somente na improvisação.

Na época de Mestre Popó eram usados outros instrumentos, que não são mais usados. São estes: o Agogô e o Caxixi ou Ganzá. Para o Mestre, o Agogô não podia faltar pois este dá início a marcação para a entrada dos atabaques ao som, e por último entra (começa) o Ganzá.

E as músicas?

Segundo o Mestre Popó, o Maculelê tem poucos cânticos sendo alguns inclusive com origens no Candomblé de Caboclo.

Tumba é cabôco

Tumba lá e cá

Tumba é guerreiro

Tumba lá e cá

Ah! Eu sou cobra do morro

Sou cabôco Mineiro

Tumba lá e cá

As músicas tem funções especiais:

-para sair à rua;

-de chegada a uma casa:

pediam permissão para entrar na casa;

-de homenagem: pessoas importantesda história;

-de agradecimento:

quando saiam da casa, agradecendo a hospitalidade;

-de louvação:

aos ancestrais;

-peditório:

quando passavam um chapéu para arrecadar algum dinheiro;

Podemos citar algumas musicas que se enquadram neste esquema:

Musica de saudação temporal:

Ô boa noite pra quem é de boa noite

Ô bom dia pra quem é de bom dia

A benção meu papai a benção

Maculêle é o rei da valentia.

Homenagem à Princesa Isabel:

Vamos todos louva

A nossa nação brasileira

Viva a dona Isabel

Ai meu Deus

Que nos ?livrou do cativeiro?.

Peditório (ocorre nas saídas as ruas):

Deus que lhe dê, ê

Deus que lhe dá, á

Lhe dê dinheiro

Como areia no mar.

Louvação aos pretos de Cabindas ou Louvor a Nossa senhora da Conceição:

Nos somos pretos da Cabinda de Aruanda

A Conceição viemos louvar

Aranda ê, ê, ê

Aranda ê, ê, á.

Fulô da Jurema, de influência indígena:

Você bebeu Jurema

Você se embriagou

Com a fulô do mesmo pau,

Vosmicê se levanto.

Saudação de chegança:

Ô sinhô dono da casa

Nós viemos aqui lhe vê

Viemos lhe pergunta

Como passa vosmicê.

Saudação de despedida:

Quando eu for embora ê

Todo mundo chora ê.

E a Indumentária e Pintura?

Na época de Popó a indumentária era simples, de acordo com as condições cotidianas dos dançarinos. Geralmente usavam camisas e calças comum aos africanos, dealgodão cru e pés descalços.

Estes pintavam os rostos e as partes desnudas com tintas feitas com restos de fuligem de carvão ou de fundo de panelas. Exageravam na tintura vermelha que usavam na boca que era feita com sementes de urucum. Algumas pessoas do grupo empoavam suas cabeleiras com farinha de trigo, usavam touca nas cabeças ou lenço no pescoço.

Mestre Popó começou a aprender o Maculêle com um grupo de pretos velhos, ex-escravos Malês, livres. Segundo ele já não tinha mais escravidão nessa época e eles se reuniam à noite: João Oléa, Tia Jô e Zé do Brinquinho: "eles eram livres, mas quem botou o Maculêle fui eu mesmo" (Popó).

Segundo Plínio de Almeida (Pequena História do Maculêle) o Maculêle existe desde 1757 em Santo Amaro da Purificação e as cores branca e vermelha nos rostos, que assustavam as pessoas , poderia ser símbolos de algumas tribos Africanas, como por exemplo os Iorubas. Mas na verdade fica muito difícil identificar exatamente à qual grupo étnico está associado a origem do Maculêle. Podemos citar, por exemplo: os Cabindas, os Gêges, os Angolas os Moçambiques, os Congos, os Minas, os Cababas.

O objetivo deste trabalho é dar uma pequena visão do que é o Maculêle, e faz parte da linha ideológica do CEACA, a pesquisa para que possamos entender melhor os fundamentos da Capoeira sem dissociá-la da História e dos Movimentos sociais negros para sua independência

e defesa de sua cultura, criando um movimento de resistência que dura até hoje em alguns recantos do Brasil.

BIBLIOGRAFIA:

-Mutti, Maria: ?Maculêle?, Santo Amaro da Purificação, 1968.

-Carybé: ?As Setes Portas da Bahia?, Coleção Recôncavo, Ed. Livraria, 1951 2a.Edição.

-Almeida, Plínio de: ?Pequena História do Maculêle?.

Popó de Santo Amaro !

Fonte:

https://www.ime.usp.br/~salles/ceaca/maculele/maculele.html

Fonte:

https://www.discogs.com/pt_BR/release/10298284-Maculel%C3%AA-De-Santo-Amaro-Da-Purifica%C3%A7%C3%A3o-Bahia-Maculel%C3%AA (1974)