O RITUAL POÉTICO.

Série: A Poética do Corpo

O Ritual Poético

A Alma é justo o que não vemos em nós, como se estivéssemos de costa para nós mesmo. No entanto, pudéssemos ver as várias fisionomias que fazemos no convívio com o outro, dia a dia, e perceberíamos o quanto de nossa alma, ou toda ela é visível através do corpo.

Todo o nosso repertório facial e físico exibido diante das circunstancias. Toda nossa reação aos estímulos da convivência social, aquilo que aprovamos, ou não, são filtrados pelos nossos sentimentos – atração; rejeição (gêmeos) e indiferença. Baseados nestes sentimentos nos emocionamos, e junto altera-se nossa respiração e a postura corporal, juntos, exatos, no mesmo instante. Da mesma forma, mente corpo e alma (também gêmeos) interagem de imediato e instantaneamente.

A alma exulta-se no corpo e é visível a todos. A respiração alterna-se diante das circunstancias e fatos (são as emoções em seu reboliço), e isto altera a postura física de imediato, o que faz alterar também o raciocínio.

Às vezes nos condenamos naquilo que aprovamos, ou naquilo que escolhemos, as bolhas nas quais entramos e que adiante nos exigirá novas escolhas ou aprovações.

Partindo da premissa que a alma está no próprio corpo, ou o que ele aparenta, temos a poesia, como elemento intrínseco da alma, talvez por ser feita da mesma substância, ou mais exatamente, como um jeito muito especial de mostrar a alma.

O poeta exibe sua alma nos versos, tanto quanto o corpo reage aos estímulos e revela a alma. No corpo puro e simples, a alma saí à revelia do indivíduo, na poesia, embora sendo um produto elaborado - passa evidentemente pelo mesmo crivo dos sentimentos e está totalmente envolto nos lençóis da emoção.- também se revela, mesmo que o poeta se faça de personagem ou coisa parecida.

A poesia não se furta a abraçar os quereres da alma, antes, torna-se a própria alma do poeta.

A corporeidade da poesia no entanto, não restringe-se somente ao fazer poético, mas na sua relação com o leitor. O verbo surge não mais pela compreensão do trabalho de leitura, mas, pela busca de inseri-lo em uma representação que se (des)organiza em imagens onde objetos, gritos, silêncios e ritmos originam a linguagem física para atingir o leitor/espectador pelos sentidos. Provoca rupturas, seja por íntima proximidade ou por inclusão de um no outro em uma cerimônia comunal e comungante.

O ritual é instalado. A poesia além de leitura passa a ser lugar de olhar, lugar de tocar, de cheirar, de sentir.

O corpo e a alma são estimulados a dar conta desse ideário de rompimento da barreira entre arte e a vida. Tal ruptura é requerida não apenas como um conceito, mas como experiência a ser concretizada no fazer. A poesia perde o pudor e a nudez física e emocional se equiparam na exposição da alma, intérprete que se oferece exacerbadamente ao desnudar-se. A poesia entre outras artes, ganha o privilégio da “ritualidade”: é um ato coletivo, o leitor/espectador tem a possibilidade de co-participar, do espetáculo, uma espécie de ritual coletivo, de sistema de signos. A cumplicidade explicitada no ritual poético não se dá somente pela palavra, pelo texto. A palavra se faz carne, sem que a pena e voz do poeta ou com ela se apresente como um amontoado de palavras sem que se perca “sua unidade integral, emocional e lógica”