Relatividade

Tenho a impressão que a senilidade não me vai ser muito prazerosa, se não por acontecimentos alheios a minha vontade, certamente por minha própria vontade, não vislumbro hoje, aos cinquenta anos, grandes inovações em novas relações, avigorando sobremaneira minha tendência a introspecção, o que não considero de todo mal, afinal assim tenho maior acesso a mim mesmo. Amigos novos são grandes falácias, amizades de fato precisam ser cultivadas ao longo do tempo, maturadas, e como um bom vinho, só dirão a que vieram com o passar dos anos. Raras são as exceções, mas existem, eu mesmo passei por esse processo nos últimos anos renovei meu grupo de bons amigos em oitenta por cento, de três agora tenho cinco, é verdade que na peneira ficaram centenas.

Não sou um homem de fácil convívio, reconheço, mas também não poderia viver isolado neste momento. Penso, e isso é importante, que ainda posso dar minha contribuição para a abolição definitiva de paradigmas, ou sem muita habilidade poderia até com meu sem jeito de dizer, ratificá-los. Tenho certamente uma janela aberta donde consigo observar pessoas, situações, frases desconexas e livros. Transito com versatilidade entre os clássicos sem deixar de notar-lhes contemporaneidade. Nada que seja muito relevante me chama a atenção definitivamente, as frivolidades me inspiram, elas possuem nas entrelinhas lições de vida da mais alta seriedade, exceto em casos extremos, estando sujeito a exame procedimental. Quando entendi a irregularidade do pensamento e sua virtualidade em questões fechadas, entendi também que posições devem ser tomadas à medida que avalizadas pelo íntimo e não por mera conveniência de opção. A opção existe, mas ela não precisa necessariamente transformar-se em escolha. Posso não concordar com algumas ocorrências simplesmente por serem usuais, no entanto não tenho o direito de contrariar a lógica por esse motivo. A dialética para mim é um caminho tortuoso. Suponho que nada seja lógico até que a razão se sobreponha a ilusão, embora só possa atingir a razão se procurar assisti-la dos camarotes, sob a narcótica visão pessoal.

Afirmar reconhecimento sobre determinado pensamento ou posicionamento, entendo ser necessário uma dose extra de coragem. Meu pensamento me conduz a bifurcações permanentes e reconheço esse perigo por não poder estacionar: devo optar, porém isso não significa que esse é um caminho onde a conversão à direita ou a esquerda esteja descartada, tanto que não devo alardear o posicionamento até que se torne sólido e mesmo assim não posso me apegar a ele, pois até os Deuses sempre estiveram presos a relatividade da ponderação. Se há um julgamento é porque a questão não é absoluta.

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 24/04/2011
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