O Deus do Mal

Muito me inquieta o fato de ter sido, alegoricamente, de forma dissimulada colocado o mal em objeto de desejo tão lindo e nutritivo, parecia que era necessário que fosse descoberto para então nos rejubilarmos ao fazer o contrário.

A resposta mais repetida que consegui ouvir, foi de que o mal não teria sido criado por Deus e que ele se instala onde há a ausência do bem, isso quer dizer que o bem de alguma forma se fez ausente, não atingindo todas as esferas criadas é como se a luz em oposição às trevas não atingisse um pontinho escondido por detrás de uma macieira, por exemplo. Não vejo consistência nessa afirmação.

O “mal” pode sim ter sido propositalmente plantado para que se passasse a ter referência do bem, é uma hipótese, mas que por ter sua raiz fixada na superficialidade, o mínimo aprofundamento já não permitiria que sua ação danosa irradiasse propósito, sendo assim facilmente extirpado, podendo ser considerado um tumor benigno.

Com relação a sua rápida proliferação entre nós, minha perigosa dialética acena para a possibilidade teórica de raças externas, oriundas de planos superiores terem sido introduzidas em nosso meio, trazendo em sua bagagem algo mais do que nos necessitaríamos, contudo, não se poderia evoluir inocentemente matando-se uns aos outros nem puramente enfiados em cavernas. Isto é um fato.

Não tenho pretensão nenhuma de fazer apologia a religiosidade alheia, tampouco denegri-la, apenas não posso aceitar respostas enlatadas por conveniência. Considero um insulto que essas respostas quadradas sejam reproduzidas, sobretudo quando o porta-voz inspira “cuidados” recusando-se a atirar-se às águas escuras de seus medos por receio de não aportar. Os fatos aos quais a história se reporta me parecem bem mais coerentes. Fiz minha lição de casa. Meu pensamento não pode ser moldado por preceitos externos, ele é livre. Não tenho a resposta para essa pergunta, ninguém tem, mas tenho minha opinião, isso eu posso ter, também não quero que ninguém comungue dela por meus argumentos, isso seria ainda mais perigoso.

Segundo relatos sobre os “exilados de Capela”, foi imperativo que assim procedessem as divindades superiores, já que os registros, datados de épocas mais remotas nos levam a crer que no máximo os “Adões” que permearam nossas primeiras raças, as impulsionaram no caminho da evolução, mas também trouxeram em contrapeso uma gama de sentimentos rasteiros, os mesmos anseios que motivaram suas derrocadas. Os adâmicos decaídos (lemurianos, incas, maias, astecas, egípcios, etc.) misturaram-se a nós por força de purgações impostas, foram responsáveis por desenvolverem nossas atividades econômicas, morais e linguísticas, além de darem início a toda atividade relevante para nossa existência, suporte técnico mesmo. Depois dos primeiros já tivemos algumas depurações e novas raças se instalaram daí a diversidade de espécimes que norteiam nossas vidas. Mas o estudo é profundo, a leitura é excitante. Não devo me alongar. Seria tentar provar uma idéia antes de sua interpretação em detrimento ao crédito devido.

Se eu admitir que o mal tivesse sua “admissão” propositada, e a instituição do livre arbítrio tivesse sua relevância hiperbolizada como força, me roeria pelo temor de que realmente esse terceiro milênio seja decisivo. Abraçamos coletivamente uma tendência assustadora, um retrocesso aos tempos mais remotos nas formas mais bárbaras, tanto mentais, quanto comportamentais. Grande parte do que hoje deveria ser considerado censurável, tornou-se norma de conduta, ultrapassando todos os limites aceitáveis por quem ainda nutre e cultiva a chama da coerência para o cumprimento do que foi acordado.

A visão religiosa dos preceitos de conduta, costumes e recato pregados pelos institutos doutrinários, atinge prioritariamente os leigos que por sua vez atenuarão seus fardos por simples ignorância. Isso é verdade. A conclusão é que a lascividade, dissimulação, sensualidade e todos os demais adjetivos atribuídos a carne e que são execrados por estas organizações, hoje preponderam em praticamente cem por cento dos humanos, de forma menos ou mais incisiva, tanto em simples mortais, quanto nos homens que detém a manipulação dos “livros” que regem esses comportamentos. Com o pensamento predominante, de quão seria “chata” nossa “vidinha” sem os prazeres da carne, de certa forma, se quer pressupor que ou a luz perdeu sua intensidade e sucumbiu às trevas, ou os humanos são seres carnais com ligeiros flashes de generosidade espiritual, condenados a um novo descenso. Também há uma crescente evolução na condução e oferta a instrumentos do desejo. Se eu admitir que viva o lado obscuro da força, não poderia deixar de reconhecer que lá também se trabalha bem e incessantemente, de tal forma que o controle desse “mundinho” está em suas mãos faz tempo e embora exista uma oposição forte e disciplinada, ainda assim, é constituída do próprio barro e acaba exposta aos mesmos impulsos e vícios pertinentes a carne. Moro num planeta pervertido, aonde as vicissitudes predominam, a vaidade fala mais alto e o homem está cada dia mais isolado em sua ilha de confortos e egos exacerbados. Para qual Deus faço minhas orações e qual tem recebido minhas oferendas diárias? Devo ter acendido duas velas em oratórios distintos. Será que nos dias de hoje, assim como pregam os sacerdotes, não seria bem vinda à presença de um Cristo de Deus? E se ele viesse, será que se pediria exames em seu DNA ou em sua complexão física para avaliar seus fins? Será que me contentaria com as “boas novas” através do verbo ou exigiria um reconhecimento em cartório? Imagine a tábua da lei datada, carimbada, assinada e reconhecida, “Deus”.

Vivo tempos em que as discussões filosóficas e ideológicas manipulam o horário nobre em detrimento da prática que de fato faz toda diferença. Hoje é mais importante especular sobre a forma do meu anjo e o que ele tem a me oferecer, do que propriamente a que porta ele irá me conduzir. Imagino que se me mantiver no topo serei resgatado com destreza, mas esqueço que os resgates imperiosos são para os que choram, pela natural urgência em serem amparados. Com tantas distorções, não tenho certeza a que Deus eu sirvo pelo temor e a quem oferto de bom grado minha alma e meu coração.

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 28/04/2011
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