Os Contrastes Sociais dentro da Literatura Infanto/Juvenil

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS – ESPANHOL

VERÔNICA OLIVEIRA SANTOS

OS CONTRASTES SOCIAIS DENTRO DA LITERATURA INFANTO/JUVENIL

SÃO CRISTÓVÃO – SE

2010

VERÔNICA OLIVEIRA SANTOS

OS CONTRASTES SOCIAIS DENTRO DA LITERATURA INFANTO/JUVENIL

Monografia apresentada ao colegiado do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe – UFS, como requisito parcial para obtenção do grau de licenciada em Letras Português-Espanhol.

Orientadora

Maria Cristina Melo Nascimento

SÃO CRISTÓVÃO – SE

2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS – ESPANHOL

VERÔNICA OLIVEIRA SANTOS

OS CONTRASTES SOCIAIS DENTRO DA LITERATURA INFANTO/JUVENIL

Monografia apresentada ao colegiado do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe – UFS, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Letras Português-Espanhol.

Aprovada em:__/__/__

Professora Mestre Maria Cristina Melo Nascimento

Orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso

Dedico

A minha família todo esse ciclo da minha vida, que esteve comigo em todos os momentos importantes, aos meus amigos que também estivem ao meu lado e me ajudaram muito. A todos os meus sinceros agradecimentos por tudo, e principalmente dedico a Deus este momento da minha vida.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por sempre está ao meu lado em todos os momentos da minha vida, e por permitir que eu alcançasse meu objetivo.

Meus pais, Valter dos Santos e Hortência Dantas Oliveira, irmãos e irmãs, a minha tia Brizabela por ter me ajudado durante esse período tão importante da minha vida, enfim meus pais por terem acreditado em mim e me ajudaram a realizar esse sonho.

Meu namorado Carlos Emmanuel, por sua compreensão e atenção em todos os momentos.

Minha professora orientadora Maria Cristina Melo Nascimento, por ter aceitado me ajudar em um momento em que eu estava sozinha, e por ter me auxiliado na correção deste trabalho.

Meus amigos, Jucielly, Mara, Roselaine, Ronaldo, Arali, Fátima, por sempre estarem a meu lado e apoiado em todos os momentos em que precisei.

Universidade Federal de Sergipe, por conceder a oportunidade de adquirir um nível superior, e pelo crescimento pessoal e profissional que obtive nesses quatro anos em que passei nesta unidade.

A todos os mediadores deste processo: em particular Augusto e Brizabela pessoas que ajudaram a realizar e concretizar este sonho.

Meus professores, por ter enriquecido os meus estudos e meu crescimento pessoal.

Agradeço

E, por acreditar ainda na literatura como veículo essencial para o desenvolvimento da imaginação criadora, bem como para a perpetuação de valores fundamentais, tal preocupação, como não poderia deixar de ser, voltar-se, e de maneira incisiva, para o ensino literário.

Maria Thereza Rocco

RESUMO

Este trabalho de pesquisa tem por objetivo mostrar os contrastes sociais dentro da literatura infanto/juvenil abrangendo todos os possíveis problemas que estejam interligados a essa temática, e colocar possibilidades de soluções. A finalidade foi expor a existência desses contrastes e, com eles, os problemas e benefícios que podem trazer para criança, e o quanto isso pode prejudicá-las ou beneficiá-las. Ao debater esse tema, o leitor poderá refletir sobre os valores individuais e as atitudes sociais presentes em nossa sociedade, podendo assim analisar suas próprias ações, buscando possíveis soluções. E cresçam com um conhecimento de mundo, e assim tenham a oportunidade de compreender as diferenças entre esses valores, e desse modo evitar que preconceitos e contrastes existam e interfiram no seu desenvolvimento. Ao propor que sejam analisadas as leituras com foco nestes contrastes, queremos evidenciar que estes, contribuem na formação moral e ética da criança, os quais podem interferir na construção de identidade, daí a importância de professores e pais bem preparados no auxilio da formação da criança. O trabalho pretende ainda, expor o preconceito contra o negro dentro da literatura infanto/juvenil, evidenciando a importância desse tema para a sociedade e expondo os valores que devem ser guardados. O referencial teórico encontra aporte em Coelho (2000), Freire (2003), Oliveira (2008), Penteado (2002), Simonsen (1884), dentre outros. A metodologia empregada foi a pesquisa em obras literárias e teóricas coerentes com a temática.

PALAVRAS-CHAVES: Contrastes sociais, criança literatura infanto/juvenil, valores,

RESUMEM

Este trabajo de pesquisa tuvo por objetivo muestrear los contrastes sociales dentro de la literatura infanto/juvenil abranyendo todas las posibles cuestiones que tengan una interconexión a ese tema, y colocar posibles soluciones. La finalidad fue exponer la existencia de eses contrastes y con elles las cuestiones y beneficios que pueden traer para los niños, y lo cuanto eso puede les beneficiar o les causar perjuicio. Al debatir ese tema el lector podrá reflejar sobre los valores individuales y las actitudes sociales presentes en nuestra sociedad, podendo así analizar suyas propias acciones y buscar una solución. Y crezcan con un conocimiento de mundo, y así tengan la oportunidad de comprender las diferencias entre eses valores y de ese modo evitar que prejuicios y contrastes existan y interfieran en lo desarrollo de los niños. El principal objeto de esa pesquisa fue evidenciar que los contrastes sociales contribuyen en la formación moral y ética del niño, los cuales pueden interferir en la construcción de la identidad, de ahí la importancia de profesores bien preparados, además de los padres en lo auxilio de la formación del niño. El trabajo pretende aún expor el prejuicio contra el negro en la literatura infanto/juvenil, evidenciando la importancia de ese tema para la sociedad y expondo los valores que deben ser guardados. El referencial teórico encuentra aporte en Coelho (2000), Freire (2003), Oliveira (2008), Penteado (2002), Simonsen (1884), entre otros. La metodología empleada fue la pesquisa en obras literarias y teóricas coherentes con la temática.

PALABRAS-LLAVES: Contrastes sociales, literatura infanto/juvenil, valores, ninõ.

SUMÁRIO

RESUMO

RESUMEM

1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………….......................10

2 CONTEXTO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO/JUVENIL…....................11

2.1 Os precursores da literatura infanto/juvenil no Brasil....................................................13

2.2 As fases da literatura infanto/juvenil...............................................................................15

2.3 O papel da literatura infanto/juvenil na formação da criança.......................................................................................................................................20

3 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA............................................................................46

3.1 O hábito da leitura........................................................................49

3.2 O ato da leitura...........................................................................................................

4 A QUESTÃO DO PRECONCEITO...............................................................................................25

4.1 O negro em nossa história.........................................................................25

4.2 O negro na literatura infanto/juvenil.............................................26

5 O PAPEL DO PROFESSOR NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL.............32

5.1 As ilustrações...................................................................................................37

5.2 A relação professor/aluno.......................................................................39

5.3 Práticas de ensino...........................................................................................

6 OS CONTRASTES SOCIAIS: a literatura em sala de aula.................................18

gg

6.1 Análise de Patinho feio................................................................................................19

6.2 Análise de a Gata borralheira

6.3 Análise de Menina bonita do laço de fita

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................51

8 REFERÊNCIAS.............................................................................................................52

1 INTRODUÇÃO

Na minha infância não tinha quem me motivasse a ler. Filha de pais não leitores, não atribuíam importância a leitura na formação da criança, por esse motivo nunca incentivaram. O primeiro e único contato dessa fase de leitura que tive foi através dos livros didáticos, os quais, muitas vezes, não tinham acesso garantido. A escola não contava com biblioteca, dessa forma, o nosso contato com a leitura era quase zero.

Na adolescência, já com dezesseis anos, tive meu primeiro contato com a leitura, pois a escola agora contava com uma sala de leitura que logo se transformada biblioteca, e se tornou em meu refúgio no recreio e horários vagos.Lá, pude ler meu primeiro livro “O jogo do detetive” (obra de Tey de Louré), foi um fascínio “viver” as aventuras postas de forma escrita, a partir daí não parei mais, o gosto pela leitura tomou conta de mim.

O curso de Letras na Universidade Federal de Sergipe aconteceu de forma natural, nele mantive contato ainda maior com a leitura, principalmente com a literatura infanto/juvenil, paixão a primeira vista. Vista em uma disciplina específica pude perceber o meu gosto por este tipo de leitura, sendo está literatura à motivadora desta pesquisa. Esta encontra justificativa no intuito de poder, de alguma forma, colaborar com acadêmicos e futuros professores no estudo da LTIJ como meio para compreender a nossa sociedade, assim como saber lidar com as intempéries da formação dos leitores. Como aponta Penteado (2002, p.34):

É preciso atuar como um propiciador/agilizador da comunicação de saberes para que ocorra um fluxo contínuo entre as relações professor/aluno, aluno/aluno, resultando em reelaborações de qualidades. Qualidade esta a ser garantida pelo agir comunicacional e pelas ciências de referência das disciplinas escolares postas a serviço da compreensão de questões da realidade trazidas por professores e alunos e significativas para eles.

Enfim, é necessário que o professor tenha conhecimentos teóricos e também práticos – adquiridos na sua própria vivência em quanto aluno - de formação que insira a Pedagogia da Comunicação podendo contribuir o uso e divulgação da Literatura infantil no contexto escolar, de modo que fique atento ás possibilidades de cognição dos discentes, ou seja, compreendendo e desenvolvendo mecanismos que os levem a interagir com a leitura e com a LI como um todo.

Dessa forma, para Oliveira (2008) a LI é uma semente fecunda, carregada de vida, pronta para desabrochar na mente e no coração dos leitores a esperança de um futuro mais humano. Mas, como toda semente, necessita de cultivo e encontra na escola a sua terra fértil.

Portanto, a literatura trás em si não só uma linguagem especial, mais também contrastes que são reais e que estão dentro de nós, seja, de forma aguçada ou branda. Conhecer esses contrastes é, sem dúvida, conhecer o ser humano em toda sua complexidade, levando-nos a compreender as ações e atitudes que colaboraram para delinear a história da literatura infanto/juvenil, e assim trouxeram a evolução que vemos hoje.

Diante disso, fica claro a importância de se estudar os contrastes na LTIJ. Estudá-la é mostrar que preconceitos, diferenças, valores existem e devem ser revelados para os alunos, de forma que venham a ter o conhecimento de mundo, necessário para se tornarem cidadãos conscientes de seu papel na sociedade.

Esse trabalho justifica-se pela sua proposta de mostrar todos os contrastes que possam existe no mundo dos livros de literatura infanto-juvenil, e o quanto eles podem ser benéficos ou trazer prejuízos para os alunos. Além de expor problemas que estão no dia a dia de todas as crianças e adolescentes como, por exemplo: o preconceito, seja de raça, cor etnia, classe social, beleza, etc. Colocando-os desse modo, a par das causas e efeitos destes contrastes, não só para as crianças como para todos.

Destarte, pretendemos comprovar que não há uma interação entre os professores com os alunos, o que leva o professor a não respeitar o limite de comunicação da criança com o texto, ou seja, o reconhecimento e a exploração da história tão importante para o desenvolvimento do aluno. Por fim, nesta pesquisa pretendemos trabalhar com contos de fadas e fábulas, contidos neste gênero.

O presente texto monográfico traz o contexto histórico da literatura infanto-juvenil, os precursores, as fases e o papel, englobados com a importância da leitura, seus atos e hábitos, além de entrar na questão do preconceito, que vai conta a história do negro no Brasil e na literatura infanto/juvenil, interligando a relação do professor nessa mesma literatura, expondo desse modo a importância das ilustrações, a relação professor/aluno e as práticas de ensino. Em outra fase mostra os contrastes sociais: a literatura em sala de aula onde vão ser analisados os contos do Patinho Feio de Andersen, a Gata Borralheira dos irmãos Grimm e Menina Bonita do Laço de Fita de Machado. Por fim, as considerações finais onde coloco as conclusões, reflexões, problemas, soluções acerca deste trabalho, seguida das referências.

2 CONTEXTO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

A literatura infanto-juvenil teve seu início na França no século XVII, durante a monarquia absoluta de Luís XIV, com os autores Charles Perrault, La Fontaine e Mme. D’Aulnoy, os quais foram os pioneiros no mundo literário para criança, e que resulta na valorização da fantasia e da imaginação. Todos eles tinham como tema central a moralidade, a crítica a política e ao social, ou seja, era uma literatura que denunciavam a miséria, desequilíbrios ou injustiças de sua época, um exemplo está no trecho do livro Panorama histórico da literatura infantil/juvenil no qual Coelho (1995, p.82) afirma que “ La Fontaine mostra a corte tal como vai ser mostrada por La Bruyére: como um país de parasitas, maquinadores de imposturas”. Portanto, fica claro o quanto esse tema era utilizado na época, porém, de forma cômica como preferia La Fontaine com suas fábulas. Já Charles Perrault, valorizava a literatura popular e não limitava suas obras a expor tensões sociais, fato que fica claro quando Coelho (1995, p.85) diz:

Os contos de Perrault responderiam perfeitamente, pois “não se limitavam a exprimir tensões sociais”, mas são organizados “em torno de interdições ou de permissões que estruturam a família e a sociedade. Eles são ainda um repertório de experiências ancestrais, um grande reservatório de condutas possíveis, um corpo de censuras sociais expresso sob forma simbólica [...] suscetíveis de retomar vida à vontade, tão logo uma experiência humana as assuma”.

Perrault não se limitava em falar de tensões sociais, uma vez que também focava em temas como a família e a sociedade, ou seja, tanto La Fontaine como Perrault faziam críticas severas ao poder da época. Por fim, Mme. D’Aulnoy, conhecida por seus contos de fadas, foi a pioneira em tal estilo que perdura há anos.

No Brasil, o fim do século XIX e começo do século XX, marcam o início da literatura infanto-juvenil, porém não existem documentos que comprovem a existência de uma literatura voltada para criança, mas, de acordo com Maria Alexandre, no seu livro A literatura para crianças e jovens (2008, p.48), “no Brasil o início da literatura infanto-juvenil esteve ligado à miscigenação das três etnias que, originalmente, formaram o povo brasileiro: a indígena, a européia e a negra”. Contudo pode-se dizer que o início da literatura infanto-juvenil brasileira segundo Oliveira (2008, p.54),

O que fica registrado é que a L.I., para construir sua história, fez parte de um amálgama com o ensino, pois a falta de uma política educacional priorizando a abertura de escolas e o acesso aos bancos escolares impediram uma formação de leitores¬ – crianças e jovens – que demandassem livros infantis para o desabrochar dessa literatura.

Diante disso fica claro que o surgimento dessa literatura no Brasil se deu por fatores educacionais, já que as grandes traduções eram usadas para fins didáticos, segundo a autora, a sua existência só se justificava por questões didáticas. Por fim, podemos dizer que o início da literatura infanto-juvenil no nosso país se deu pela questão educacional que tinha como norma o bom comportamento, a boa conduta, os valores sociais, ou seja, a literatura infanto-juvenil era um meio de induzir a criança/aluno a obedecer às normas já consagradas pela sociedade a qual pertencia.

2.1 Os precursores da literatura infanto-juvenil no Brasil

O principal precursor foi Figueiredo Pimentel, que entrou na história da L.I.J. pelo seu instinto revolucionário, através dos contos da carochinha, e claro por sua notada veia popular. Uma grande característica deste autor é o fato dele não fazer livros voltados para o sistema educacional, e sim, para a infância brasileira. Outra precursora foi à professora Alexina de Magalhães Pinto, escritora e pesquisadora mineira, escrevia livros voltados para o público infantil, ao escrever seus livros a autora tinha como objetivo a reintegração da criança com a verdade da terra e sua cultura oriunda da confraternização do português com o índio e com o negro. E ao contrário de Pimentel, Alexina trabalhava com obras para o sistema educacional. Diante disso Oliveira (2008, p.62) comenta que

A importância dessa escritora, dentre os precursores da L.I. No Brasil, está nesse espírito que valorizava a terra e sua história, construída na memória daqueles que efetivamente formaram o povo brasileiro.

Diante disso, fica claro a importância que Alexina teve na história da literatura infanto-juvenil brasileira, e o quanto ela se preocupava com a valorização da terra e sua história. Há ainda muitos outros autores e incentivadores que ao longo da história da literatura enriquecem a literatura brasileira . Não poderíamos encerrar esse tópico sem falar no pai da literatura infanto-juvenil brasileira Monteiro Lobato, o qual escreveu várias obras que marcaram a vida de milhares de crianças e adultos, um autor ousado, criativo, provocativo, que não tinha medo de falar da realidade à criança. Com suas personagens astutas, transgride as barreiras das leis vigentes com inteligência, sabedoria e espírito crítico, para confirmar essa visão vanguardista do autor. O próprio Lobato se apropria da “voz” de Dona Benta para conceituar Literatura, sobre isso Lobato (1994, p.18) aponta

Dona Benta suspirou. – Meu filho, há duas espécies de literatura, uma entre aspas e outra sem aspas. Eu gosto desta e detesto aquela. A literatura sem aspas é a dos grandes livros; e a com aspas é a dos livros que não valem nada. Se eu digo: “Estava uma linda manhã de céu azul”, estou fazendo literatura sem aspas, da boa. Mas se eu digo: “Estava uma gloriosa manhã de céu americanamente azul”, eu faço “literatura” da aspada – da que merece pau.

Com isso, podemos notar toda sua irreverência e agudez de pensamento que rompem com a estrutura moralista de fazer literatura. Lobato prezava a qualidade literária, e segundo ele, o livro não era só um produto cultural, mas uma semente de transformação. Como semente deveria germinar e dar frutos. Isso fica evidente quando Oliveira (2008, p.79) elucida que

Seu empreendimento em curto prazo alcançara o sucesso. A venda de suas publicações o impelia a investir cada vez mais no mercado editorial, e, como vanguardista, Lobato importava equipamentos de ponta, sempre privilegiando a qualidade gráfica, além do conteúdo.

Lobato, com sua capacidade de comunicação com o leitor, fascinou tanto o público infantil como o adulto, em uma mistura de realidade e sentimentos, tudo em uma linguagem original, rica e, acima de tudo, criativa e coloquial. Ou seja, um autor que para muitos foi o profeta da literatura infantil, segundo Maria Alexandre, como todo profeta, foi perseguido pelo poder dominante de sua época. Portanto, Lobato, considerado o pai da LTIJ, marca uma das fases mais importante dessa literatura.

2.2 As fases da literatura infanto-juvenil

Ao propor um levantamento dos principais períodos da LIJ. clássica, tradicional e contemporânea, demonstra-se que juntas vão compor um dos quadros mais importantes da própria literatura mundial. Vamos começar pelo período clássico que tem como principal característica a perenidade uma vez que passa de geração em geração. A sua permanência está ligada a questão existencial presente em cada ser humano, e que ultrapassa o tempo. Essa fase tem como predominância textos que abordam sentimentos e comportamentos presentes em seres humanos, tais como o ciúme, o medo, a inveja, dentre outros. Conforme elucida Coelho (1995, p.75),

É essa uma literatura que resulta da valorização da fantasia e da imaginação e que se constrói a partir de textos da antiguidade Clássica ou de narrativas que viviam oralmente entre o povo. Tal “tradição”, popularizante ou erudita, redescoberta ou recriada por escritores cultos, contrasta vivamente com a alta literatura clássica produzida nesse momento.

Fica claro que cada texto trás um encontro do leitor consigo mesmo, daí o motivo de adultos e crianças se reconhecerem neles. No Brasil, dentre as obras de literatura clássicas mais difundidas estão as dos autores Charles Perrault, Jakob e Wilhelm Grimm e Hans Christian Andersen. Segundo a autora Oliveira (2008) Perrault se coloca em defesa da modernidade, dirigiu seu olhar para a arte popular e descobriu na literatura oral os contos. Ainda segunda a autora, Perrault tinha como característica essencial a moralidade com inspirações no cristianismo, a qual, para ser eficaz, deve ser exposta de forma indireta.

O período tradicional começa no séc. XX e vai até a década de 70, tinha como objetivo conservar valores sociais, religiosos e familiares, além de ter como características o racismo, a reverência ao passado, espírito individualista, entre outras. Sobre esses valores Coelho (1995, p.23) explica que o

Racismo marca a sociedade tradicional, como prolongamento de uma “instituição” que vem do início dos tempos: a escravização de uma raça pela outra, resultante das conquistas, sangrentas ou não, de territórios ambicionados por suas riquezas. E, como conseqüência, a escravização da força-trabalho dos vencidos – força indispensável ao progresso de qualquer grupo social. Nessa imensa luta pelo poder, [...], a “raça branca” foi a vencedora; e com isso instaurou no mundo ocidental um processo de injustiça humana e social que até os nossos tempos não pôde ser totalmente extirpada. (grifo da autora)

Nesse contexto, a criança era vista como adulto em miniatura, contudo sem direito de dar sua opinião, e dessa forma tratada como um ser inferior. Cabendo a ela obedecer ao adulto, ou seja, ser comportada, estudiosa. Sobre esta realidade Coelho (1995, p.23) explica que

A literatura tradicional procurou denunciar essa aviltante injustiça contra as raças consideradas “inferiores” pela raça vencedora, mas se limitou aos aspectos sentimentais e puramente humanos, deixando de lado suas fundas raízes político-econômicas. Na Literatura Infantil, a separação entre brancos e negros é notória: reflete uma situação social concreta.

Portanto, fica evidente a valorização de uma minoria em detrimento de uma maioria financeiramente privilegiada, e o quanto essa questão está fechada, como disse a autora, em fundas raízes político-econômicas, para nós, também culturais. Haja vista que a literatura é ao mesmo tempo produto e reflexo cultural da sociedade que a produz.

De volta ao cenário brasileiro, na poesia, Olavo Bilac grande poeta parnasiano que se destacava pela devoção ao culto da palavra e claro ao estudo da língua portuguesa, fez grandes obras como Via Láctea, Hino da Bandeira, entre outros. Na literatura infanto/juvenil Bilac teve grandes obras como A borboleta, A avó, As formigas, entre outras, conhecido como “O poeta da criança” por abordar o mundo juvenil idealizado, destituído de miséria, ressaltando assim o aspecto nobre patriótico e doméstico.

Bilac possui cinquenta e oito livros infantis, que falam sobre assuntos naturais, humanos, simples, segundo Bilac assuntos que fugissem da banalidade, e não fatigassem o cérebro do pequenino leitor, exigindo dele uma reflexão demorada e profunda. Com uma linguagem elaborada e inversões gramaticais, Bilac buscou a forma perfeita, seus textos tinham a forma fixa de sonetos com doze silabas poéticas. Diferente de Lobato, Bilac além de poeta fundou alguns jornais como a Cigarra, O Meio, e a Rua. Em fim, Bilac foi um dos mais notáveis poetas existentes do Brasil.

Já na prosa, Lobato sabia como ninguém encantar ao público com suas personagens matreiras, ultrapassa as leis da sociedade com sabedoria, espírito crítico e acima de tudo inteligência, além de saber conservar a criança permitindo-lhe ter um espaço ilimitado para dar vazão as amaras do mundo adulto. Foi assim, com esse espírito, que Lobato chegou ao mais alto degrau da nossa literatura infantil, como se não bastasse além de grande escritor, tornou-se também o primeiro grande editor de autores brasileiros, não só na ficção, mas nas áreas de Ciências Sociais e História.

Monteiro Lobato representa um marco na LTIJ brasileira. Começando por sua visão de criança que vai de contra a visão cega de sua época, ou seja, reconhecia nas crianças a força da transformação. Como aponta Oliveira (2008, p.80):

Lobato acreditava que através da literatura e da educação era possível conceber um mundo menos justo, e para isso a criança deveria ser amada e respeitada [...] Ao se expor, defendendo à criança o seu direito de ler, de ser ela mesma, Lobato abriu espaço na literatura para que a voz da infantil se fizesse presente.

Portanto, Lobato fez uma revolução na literatura infantil brasileira, uma revolução de opiniões, idéias, que marcaram a nossa história, e que deu espaço para todos: o grande, o pequeno, o adulto, o jovem e a criança. Um espaço de esperança, sonho e acima de tudo de liberdade.

Por fim, o período contemporâneo, que tem seu início nos anos 1970, e surgiu em um período que a literatura infantil buscava a libertação do tradicional e das amarras do determinismo da literatura européia. Um período que rompeu com o preconceito, o individualismo, com o tabu, deixando para trás valores ultrapassados, respeitando e valorizando as etnias, diferenças, o ser e não o ter, e a essência e não simplesmente a aparência. Como aponta Coelho (1995, p.25)

Os efeitos dessa transformação já aparecem na literatura para crianças, ora através da perspectiva dos filhos que perderam o “porto seguro”, representado pela mãe dona de casa; ora através da igualdade entre meninos e meninas, não mais estigmatizados pelo que é certo ou errado para o homem e para a mulher. Há ainda uma literatura juvenil “engajada” que se empenha na denúncia da miséria social decorrente do caos presente.

Dentro desse contexto, esse período trouxe uma literatura mais aberta, que interage com o processo educacional do leitor e ao mesmo tempo dialoga com o mundo real e ficcional. Contudo, Oliveira deixa uma ressalva (2008, p.136) quando argumenta que

Apesar das aberturas constatadas, a sociedade brasileira ainda não soterrou todas as formas de preconceito racial e sabe-se que, de uma maneira consciente ou não, há intolerância e desrespeito, às vezes de forma velada, quanto aos negros. Em tempos passados, o problema do preconceito nem sequer era discutido em público; hoje, essa situação já ocupa espaço nos meios de comunicação e, paulatinamente, os órgãos públicos vêm aprovando leis que punem essa conduta injusta.

Ou seja, tem-se em um modelo contemporâneo, com resquícios do tradicional, um modelo que trás novos valores, visões de mundo, em um processo gradual de mudanças, por esse motivo ainda encontramos traços do período tradicional.

Algumas características importantes dessa fase são o espírito solidário, o questionamento da autoridade, o anti-racismo, a valorização da intuição entre outros. Características que trouxe mais leveza para literatura infantil, estímulo ao imaginário do leitor, linguagem clara e objetiva. Contudo esse é um processo lento, mas necessário para que se assimilem novas ideias e estas se traduzam em ações e comportamentos. A esse respeito Coelho (1995, p.27) fala:

[...] tais dados são básicos para o exercício de uma leitura crítica avaliadora dessa literatura nova, que, sem deixar de ser um instrumento de emoção, diversão ou prazer, poderá auxiliar, e muito, a tarefa da Educação, no abrir caminho aos que estão chegando, em direção à nova mentalidade a ser conquistada por todos, em breve tempo.

Podemos concluir que esses períodos tiveram uma grande importância na história da literatura infanto-juvenil, e contribuiu para chegar onde estamos hoje, com um reconhecimento de que a literatura infantil é sim um gênero literário e como tal merece seu valor.

O papel da criança nessa nova literatura é de um ser em formação, em processo de crescimento, cujo potencial a ser construído através de saberes a partir de suas experiências, com liberdade e respeito, para assim alcançar total plenitude em sua realização.

2.3 O papel da literatura infanto-juvenil na formação das crianças

A literatura infanto-juvenil , enquanto instrumento de educação presente na escola, tem como principal papel formar crianças conscientes sobre questões sociais, morais, que cercam nossa sociedade. Crianças que deverão internalizar valores para que sejam capazes de atitudes e sentimentos de respeito, e mais tarde, quando forem adultos sejam conscientes de seu papel no mundo que a cerca.

A leitura na infância tem extrema importância no desenvolvimento da criança, pois estimula a inteligência, o senso crítico, promovendo a reflexão sobre fatos ou acontecimentos que a rodeia, e a leva a um mundo fantástico maravilhoso da literatura infantil. Mundo esse onde a criança se vê cercada de magia e encanto, que provoca sensações, uma vez que esta pode, por meio da leitura, se vê dentro da história lida e se colocar na própria figura do herói, das fadas, bruxas ou mocinhas e esquecer a realidade.

Daí a importância do livro que a criança vai ler, já que a escolha é de enorme influência na formação da criança. E se o contrário ocorrer, ou seja, um livro for mal escolhido, isso pode provocar na criança preconceitos apresentados durante o texto, resultando assim em adultos não-conscientes de seu papel, e formando apenas ledores e não leitores formadores de opinião.

Já os autores de literatura infanto-juvenis mais lidos no mundo e utilizados nas salas de aula são: Os Irmãos Grimm, Perroult, Mark Twaim, entre outros. Porém nos livros destes autores, o personagem negro praticamente inexiste. O contrário ocorre com os personagens brancos que são exaltados ao máximo, reforçando a superioridade da raça branca pregada por Adolf Hitler, ou seja, o preconceito oculto existente contra o negro. Do outro lado, estão alguns autores brasileiros, que quando não silenciam, marginalizam e inferiorizam os negros. De um modo geral o preconceito ainda se encontra forte em nossa sociedade, só que encapuzada, vendada. A sociedade fecha os olhos para tal preconceito e se questionada sobre sua existência afirmam não existir, sendo que está ali presente tanto no dia-a-dia, quanto em nossa literatura.

No Brasil, sempre houve a questão de que a escravidão do negro foi suave, que o negro era submisso e não reagia. Ao contrário Cotrim 1999, coloca que a escravidão negra é uma história cheia de violência do senhor de escravos, cheia de revoltas e lutas do negro, que procurava a libertação.

Portanto, diante de tudo que já foi exposto, pode-se ressaltar que o negro até hoje sofre com esse preconceito, que aqui denomina-se como velado, já que, não é explicito como antes.

Atualmente, existe na prática das relações sociais a vigor da lei para coibir os abusos que ainda ocorrem, mas ainda que se busque acabar com o preconceito, conclui-se que é necessária a mudança de mentalidade, sem a qual apenas a existência de normas não dará conta do mal que milenarmente tem afligido a sociedade através de atos abusivos para com o negro.

Espera-se que esta pesquisa contribua para que o leitor sinta-se estimulado a buscar outras fontes de pesquisa e ampliar o debate sobre a temática que é relevante, e assim tornar conscientes os cidadãos que formam a sociedade, colocando aqui a importância da leitura, que servirá como alicerce uma sociedade mais justa e consciente.

3 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

Sem dúvida a leitura tem um papel de destaque na formação da criança e do adolescente, e é papel da escola inserir isso para os alunos. Uma escola em que os discentes possam ter uma dignidade humana e uma liberdade do domínio da palavra. Como afirma Perrotti (0000, p.29):

A formação de uma sociedade leitora envolve não apenas a criação de instituições indispensáveis a sua constituição (escolas, bibliotecas, editoras, livrarias, entre outras), como também uma reflexão aprofundada sobre a natureza dessas instituições, o sentido de suas orientações e de suas práticas.

A leitura trás em seu intimo muito mais do que um simples ato de ler, trás o poder do conhecimento, de viajar, de ter o mundo na palma da suas mãos. E justamente porque a leitura tem esse poder que Perrotti faz uma divisão de leitura, a qual segue entre leitores e ledores. Segundo ele os primeiros seriam seres em permanente busca de sentidos e saberes, e aqueles seriam sujeitos que se relacionam apenas mecanicamente com a linguagem, não se preocupando em atuar efetivamente sobre as significações e recriá-las. Sobre isso Perrotti (2003, p.28) diz:

Ao se atuar no campo da formação de leitores, acredito que seja preciso a explicitação de uma concepção de leitura e de leitores que faça distinção entre os conceitos apontados. Mas como o que se deseja é a atuação na ordem histórico-cultural, é a formação de leitores e não de ledores, torna-se necessário desenvolver práticas afinadas com princípios implicados na distinção.

Dessa forma, vemos que a maioria dos livros são destinados a ledores e não leitores, já que muitos por ordem da professora leem dois, três livros em uma semana, não entrando a fundo no livro, tornando-se uma leitura superficial e não aprofundada como deveria ser.

Porém, é necessário lembra que nossa sociedade não tem nem o hábito nem o ato da leitura, o que contribui bastante para o surgimento de ledores. Segundo Perrotti a leitura é vista como comportamento diferenciador, a que somente seres privilegiados, bem dotados intelectual, cultural e economicamente, podem ter acesso. Daí o pensamento de que só quem pode e tem direito de ler é quem tem dinheiro, é também daí que parte o preceito da sociedade brasileira não ter o hábito nem o ato da leitura.

Portanto, a leitura no nosso país é prejudicada em grande parte pelas condições humilhantes impostas à educação, como coloca Perrotti quando diz que o desestímulo a leitura resulta da desmobilização pessoal e da ausência de comprometimento político, educacional e cultural. Sendo assim, fica claro que a leitura para se torna um hábito em nosso país é necessário uma grande reforma nesses setores, e claro na escola como aponta Perrotti (2003, p.32) quando argumenta que

È evidente que a escola terá que mudar suas concepções, suas relações tradicionais com a leitura e com a atividade pedagógica em geral. Em primeiro lugar, como já foi expresso antes, será preciso redefinir orientações teóricas, objetivos, metodologias.

Desse modo, é notório dizer que é preciso desenvolver práticas que articulem todos os nossos problemas como a fome, a pobreza, a violência, entre outros, para assim atingir uma grande parte de nossa população, inserindo desse modo o habito e o ato da leitura.

3.1 O hábito da leitura

Como já havíamos falado anteriormente o Brasil é um país que não possui o hábito da leitura , conseqüentemente o ato, e também é claro que tanto o hábito quanto o ato estão ligados à questão do poder. Com isso, queríamos destacar a importância desses dois fatores, que são fundamentais para a formação de adultos conscientes do seu papel na sociedade. Como aponta Freire (2003, p.15) quando diz:

Do ponto de vista critico, é tão impossível negar a natureza política do processo educativo quanto negar o caráter educativo do ato político. Isto não significa, porém, que a natureza política do processo educativo e o caráter educativo do ato político esgotem a compreensão daquele processo e deste ato. Isto significa ser impossível, de um lado, como já salientei uma educação neutra, que se diga a serviço da humanidade, dos seres em geral; de outro, uma prática política esvaziada de significação educativa.

Neste sentido, podemos notar que política e leitura estão intimamente ligadas, ou seja, a política e a educação são inseparáveis, como coloca Freire: a educação burguesa a que criou ou formou a burguesia, mas a burguesia, que chegando ao poder, teve o poder de sistematizar a sua educação. Assim esta relação se coloca clara e objetiva, a de que não podemos ter uma educação totalmente neutra.

Assim, o hábito da leitura em nosso país, está ligado ao sistema educacional, que afetou e afeta a todos, pais, filhos, avós, ou seja, um problema que se arrasta há séculos, e que perdura até hoje. O hábito da leitura implica somente em ler, e não em saber ler, já que este saber permite perguntar e indagar, ao contrário do hábito, o qual não trás estas indagações, seria ler por ler sem aprofundamento, ocasionando uma leitura fechada sem compromisso, algo a se preocupar nos dias de hoje, onde a leitura é fundamental na construção de uma sociedade consciente. Portanto, se faz necessário o ato da leitura, como instrumento para uma leitura crítica de mundo.

3.2 O ato da leitura

O ato de ler é tão importante quanto o hábito . Segundo Freire: o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. Diante disso, vemos o quanto é importante o ato da leitura, conseqüentemente, o hábito.

Um dos problemas que prejudica o ato da leitura é o fato dos professores pedirem/obrigarem seus alunos a ler vários capítulos de um livro em uma semana, o que levam os alunos a não exercerem o ato da leitura, e sim uma memorização do livro, transformando-se assim em ledores e não em leitores. Como mostrar Freire (2003, p.12):

Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas aprender a sua significação profunda. Só aprendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em conhecimento de objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real a leitura, nem dela, portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.

Diante disso, fica claro o quanto o ato de ler é importante, mas ler no sentido de aprender e não de memorizar. Ainda segundo o autor a insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Assim é necessário ler com atenção adentrando no universo do livro para desse modo surgir uma compreensão e consequentemente um conhecimento.

Por fim, lembramos que o ato de ler é tão importante quanto o hábito, porém no Brasil ainda é tímida o ato da leitura, sobressaindo à cultura da televisão, o que prejudica a formação das crianças, que por não terem o hábito da leitura se apegam a televisão como um meio de cultura ao qual são apresentados e estão acostumados. Enfim, como já foi dito antes, mudanças precisam ser feitas para reverter esse quadro, um incentivo que tem que partir no só da escola, mas também da família.

Em conjunto escola e família a mudança será grandiosa, e só quem ganha somos nós, que teremos um futuro em que os adultos serão mais conscientes do seu papel na sociedade em que vivem.

4 A QUESTÃO DO PRECONCEITO

4. 1 O Negro em nossa história

A partir de obras coerentes com a pesquisa buscou-se esclarecer que desde o descobrimento da América a vida do negro não foi fácil. Arrancados de suas terras e levados para outras, a força para trabalhar como escravos, sem direito algum, tratados como animais, sendo forçados a aprender uma nova língua, cultura, religião, vendidos como mercadorias. Esse é o negro da nossa história. Desde sempre o papel do negro foi de servir, aspecto que perdura até hoje, e provoca o tão conhecido preconceito racial. No período colonial eram tratados das piores formas possíveis, trabalhavam de dia à noite, se alimentavam mal, viviam em senzalas, uma habitação rústica e pobre. Geralmente, eles se aglomeravam num único compartimento miserável e promíscuo. Segundo o historiador Roberto Simonsen (1884). “O excesso de trabalho, a má alimentação, as condições de higiene, os castigos e outros fatores, contribuíram para debilitar a saúde dos escravos. Por essa razão, a média de vida de um negro era de aproximadamente sete a dez anos de trabalho”.

Com a chegada dos negros ao Brasil, surgiu a miscigenação racial, alguns autores, como o sociólogo Gilberto Freire (autor do clássico casa grande e senzala 1933), concluiu que o Brasil foi palco de uma verdadeira democracia racial, já o autor Gilberto Cotrim 1999, vê essa democracia racial como mito, ou seja, uma imposição dos padrões culturais europeus. Prova disso está no trecho em que Cotrim (1999, p.66) diz:

A cultura brasileira seria o complexo produto de uma harmonização de influência indígena, negros e europeus. Na verdade, essa harmonização não ocorreu, pois os laços da dominação metrópole-colônia não se restringiram ao setor econômico, alcançaram também os aspectos socioculturais. Ou seja, o colonizador europeu impôs ao Brasil os padrões culturais europeus, desprezando ao máximo os legados culturais do índio e do negro, considerando-os contribuições de classes inferiores.

Portanto, fica claro que não havia democratização racial, o que existe era uma forte e dura imposição da cultura européia, sem respeitar as culturas indígenas e negras. Anos mais tarde, o negro teria sua história contada em forma de literatura.

4.2 O negro na literatura infantil-juvenil

Destaca-se o período da abolição em 1850 em que não existia uma literatura que abordasse o negro, ou uma literatura infanto-juvenil que falasse sobre o tema, existindo apenas textos literários que abordavam o modo como eram tratados, e nesses textos os escravos eram descritos com desgosto, piedade e de forma desumana

Na atualidade, o negro ainda é visto com piedade nas histórias ou contos e é quase sempre, classe média baixa, e com papéis inferiores, dificilmente tem-se encontrado uma criança negra como princesa, rica, ou de classe social alta.

Geralmente, os papéis atribuídos aos negros são de: empregada, serviçal, lavadeira, porteiro, ou seja, sempre papéis que diminuem a moral do negro.

Porém, estão começando a aparecer autores cujas obras estão colocando o negro com destaque, contudo, ainda é tímida a produção literária.

A literatura infanto-juvenil surgiu no século XVIII, no Brasil o seu início e principal representante foi Monteiro Lobato, o qual tem em suas obras características marcantes como: questões nacionais, sociais, e morais. Mesmo assim em relação ao negro, os preconceitos são perceptíveis tanto na sua literatura tradicional, ou seja, para adultos, quanto para a literatura infantil. Apesar de ser um dos maiores escritores brasileiros, Monteiro Lobato deixa transparecer o preconceito para com os negros, a exemplo da principal personagem negra do sitio do pica-pau amarelo, tia Nastácia que é chamada: a negra de estimação, e negra que é tratada como parte da família. No entanto, é a cozinha seu habitat natural, o que reforça sua inferioridade e sua desqualificação social.

Segundo Brookshow (1983), as histórias de Monteiro Lobato, embora charmosas, contribuíram e reforçaram, por gerações afora, o estereótipo do negro como uma criatura fundamental ilógica, para não ser levada a sério no mundo real do adulto.

No entanto, a falta de personagens negros dentro da literatura infanto-juvenil, faz com que as crianças tenham uma visão preconceituosa nas relações intersubjetivas, e contribui para uma sustentação de uma ordem racial desigual, interferindo no processo educativo, e na formação tanto da criança negra, quanto da branca, podendo está subestimar, estigmatizar e até mesmo fragmentar a auto-estima da criança negra.

Vários estudiosos dessa área afirmam que esse preconceito existente dentro e fora da literatura infanto-juvenil, não tem solução aparente, já que é difícil mudar o pensamento preconceituoso de nossa sociedade. Todavia, existe exemplos dessa conscientização dentro da literatura infanto-juvenil, e já é possível ver livros infantis com personagens principais negros como: A menina bonita do laço de fita (1986) de Ana Maria Machado, Bruna e a galinha D’angola(2003) de Gercilda de Almeida, História de preta(1999)de Heloisa Peres Lima e o Menino Marron (1986) de Ziraldo Alves Pinto. Todas estas obras retratam a questão do negro na literatura infanto-juvenil, ou seja, o cotidiano, a questão racial e assim por diante.

Ressalta-se que, esse preconceito existente dentro da literatura infanto-juvenil e fora dela, demonstra o quanto a sociedade é preconceituosa, perpassando esse sentimento para seus filhos, que em um futuro próximo irão se tornar iguais a seus pais, ou seja, ter os mesmos sentimentos e atitudes com relação ao negro. Contudo, é necessário conscientizar a sociedade de que todos devem merecer o mesmo respeito e consideração já que a população é formada por uma grande miscigenação racial, portanto, sem razão para o preconceito. E assim, as crianças negras possam ter espaço na sociedade, na literatura e fora dela.

Diante de tudo que foi exposto através deste estudo, os negros ainda não foram reconhecidos, apesar das contribuições relevantes que compõem a cultura do país que conta com vários legados como os alimentos, a religião (umbanda, candomblé), a música e o vocabulário que estão presentes até hoje no cotidiano do povo brasileiro engrandecendo a cultura que é tão vasta.

Espera-se que este estudo, ainda que reconhecendo ser uma síntese da história, que marca a trajetória do negro, cujo preconceito esteve presente até na literatura Infanto-juvenil, possa contribuir para as mudanças que se fazem necessária, a fim de que a sociedade alcance o convívio social harmonioso. Para isso se faz necessário a presença da figura do professor, com o papel mediador desse processo.

5 O PAPEL DO PROFESSOR NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

Inferimos de todo esse percurso literário infanto-juvenil brasileiro para chegar ao papel do professor na atualidade, e os novos aspectos que os livros de literatura infantil estão propondo como, por exemplo, as ilustrações, além da relação professor/aluno. Há muito pouco tempo o professor era o dono do saber, ditava as normas e o aluno obedecia, era uma relação vertical, na qual o aluno era o maior prejudicado. A metodologia empregada era a expositiva, fala e giz, com exercícios formais, com uso de memorização, além de repetitivos, uma metodologia arcaica que trilhava por um caminho contrário dos objetivos da educação, ou seja, a formação do ser humano. Sobre isso Oliveira (2008, p.86) aponta:

Tratava-se de uma educação que não visava transformar o individuo, era conteudista, de modo a garantir o status quo do poder dominante da época. O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de formação, era manipulado de maneira que atendesse os interesses da classe dos poderosos – fazendeiros, juízes, políticos -, cuja medida era dada pelo dinheiro, por posses, riqueza, herança.

Ainda segundo a autora os conteúdos não se relacionavam com a realidade do aluno e muito menos com o contexto social brasileiro: eram genéricos, abrangentes e informativos. Nesse contexto, os representantes dessa ideologia da classe dominante eram os que ditavam as regras dos métodos educacionais, com isso garantiam essa posição e impediam a evasão dos seus bens.

Em contramão, a essa postura a educação contemporânea coloca o aluno como sujeito da própria educação, um ser em processo de formação, que carrega em sua essência experiências culturais, seja ele em nível pessoal, familiar ou social. Porém na teoria a educação contemporânea possui diretrizes que demonstram avanços, além de serem transformadoras; mas ainda existem muitos desafios a ser superados, já que ainda é presente o modelo de educação tradicional.

Não só benefícios trás a educação contemporânea, ela também tem problemas, e o principal é a formação inicial do educador. Como mostra Oliveira (2008, p.89)

De acordo com as diretrizes da educação contemporânea, exige-se que o professor tenha uma bagagem teórica capaz de responder não só aos conteúdos programados, mas de criar estratégias de aprendizagem ou de intercambio com seus alunos que ultrapassem uma metodologia pronta e acabada.

Ficam claros os objetivos da educação contemporânea, contudo, o que se verifica é a existência de uma formação precária que precisa ser profundamente reformada para se chegar a uma educação digna e de qualidade. Como explica Oliveira (2008, p.90):

Isso nos leva a concluir que a pratica docente precisa ser um aprendizado contínuo para que o professor possa se manter em constante atitude de diálogo: indagar, levantar hipóteses, buscar, em conjunto com seus alunos, respostas a tantas perguntas, ao mesmo tempo questionando outras tantas respostas, provocando situações de impasse para que os alunos, uma vez confrontados, anseiem por encontrar soluções.

Ou seja, o professor/educador precisa está sempre em constante aprendizado, atualizado com as novas descobertas dentro da educação e saber utilizá-las de forma coerente e por que não dizer correta, já que um mundo globalizado cheio de novas tecnologias precisa está atento a esses novos conhecimentos e claro saber relacionar esses dois meios informação e conhecimento, tão importantes no crescimento profissional e pessoal do professor.

Além da evolução na educação, ocorreram mudanças também na literatura infanto-juvenil, que implicaria na atualidade que o professor estivesse preparado para lidar com essa literatura. Porém, não é isso que acontece, a realidade é outra, o professor não recebe em seu curso de formação o preparo necessário para o trabalho dinâmico e criativo com a literatura infantil. Como coloca Oliveira (2008, p.91):

Para agravar mais a situação, muitos livros, ainda hoje, vêm acompanhados de ficha de leitura que limita o trabalho a ser feito com o texto apenas à cobrança ou solicitação do nome do autor, nome da obra, das personagens e alguns dados culturais da época e nada mais. Ou, então, o texto é usado somente para exercício de gramática. Pensado para suprir a lacuna existente em relação à L.I. na formação de nossos professores, esse tipo de roteiro fechado inibe um trabalho mais ousado e criativo a ser proposto para os alunos.

Isso nos mostrar como ainda é precária e/ou defasada nosso ensino, e como interfere no modo de pensar e agir do professor, que por não ter uma formação de qualidade não é capaz de forma sua própria opinião, levando-os a um estado de paralisia. O fato é que muitos professores afirmam ser impossível escapar a esse sistema, pode parecer absurdo, mais é fácil entender essa posição que se baseia em vários fatores, como a inexistência de material melhor, pela falta de tempo dos docentes para preparar suas próprias aulas, autoquestionamento, questionar os textos escolhidos e as respostas a serem dadas, enfim, fora do esquema livro do professor Como explica Rocco (1981, p.38):

O enraizamento desse sistema imposto que, pelas facilidades (antipedagógicas) apresentadas, domina qualquer outro tipo de tentativa que se venha a fazer para quebrar tal esquema, onde a estrutura fixa e dominante tem as seguintes características: “Livro do Aluno” com espaços brancos, linhas pontilhadas, previstas para respostas de tamanho estandardizado, e “Livro do Professor” com o mesmo espaço, já preenchido e, muitas vezes, por incrível que pareça, imitando letra de mão.

Diante disso, só podemos concluir que a literatura infanto-juvenil não é compreendida no seu valor total, o qual seria o valor literário, que tem a função de mover o fantástico, o maravilhoso, o lúdico e o mágico manifestado pelo autor, que em ensino escolar deveria ser mediado do professor entre aluno e obra. Como aponta Oliveira (2008, p.92):

Tal ação mediadora deve ter início na análise da obra de L.I. a ser escolhida e seguida do já aludido processo de intracomunicação do professor, de tal forma que possa proceder à escolha adequada da obra aos alunos, que têm pela frente as exigências educacionais da sociedade em que se encontram.

Nesse contexto, verificamos que no curso de formação acadêmica do docente, o conteúdo de literatura infantil é praticamente ausente em certas instituições de ensino superior, além de precário. Com isso, o maior prejudicado é a criança, que deixa de se desenvolver, ter conhecimento, ou seja, como um ser em formação, não estereotipado, aberto ao fantástico, fica fora dessas orientações. Sobre isso, Coelho (1984, p.257) fala:

A partir do conhecimento de certas peculiaridades comuns à psicologia da criança, será muito fácil aos futuros mestres perceberem que a educação infantil, nas escolas, será muitíssimo ajudada pela leitura selecionada de contos maravilhosos, fábulas contos de fadas, estórias fantásticas etc. A disposição instintiva da criança para aceitar as coisas mais espantosas e inverossímeis, com encanto e naturalidade, já faz com que ela se interesse muito mais prontamente por uma estória de pura e gratuita imaginação, do que pela literatura feita expressamente para educá-la e que visa abertamente dar-lhe alguma lição. Esse aspecto fantasia e imaginário das crianças deve ser ressaltado frente aos nossos alunos-normalistas, para que eles saibam como explorá-lo futuramente.

A partir desse contexto, notamos o quanto a leitura é importante para formação da criança, e o quanto é necessário que a criança tenha acesso a todos os meios de leituras como jornais, livros revistas entre outros. Além da necessidade de que todas as escolas tenham uma biblioteca aberta, para que as crianças possam ter acesso a esse material, já que a leitura é um processo pelo qual o leitor realiza um trabalho significativo e ativo de construção de significados do texto, a partir de objetivos próprios, do seu conhecimento sobre o tema, do autor, enfim, tudo sobre a língua, característica do gênero, do sistema da escrita, do portador, da decodificação da letra por letra, palavra por palavra. Como mostrar Brasil (1997, p.41)

Trata-se de uma atividade que implica, necessariamente, compreensão na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita. Qualquer leitor experiente que conseguir analisar sua própria leitura constatará que a decodificação é apenas um dos procedimentos que utiliza quando lê; a leitura fluente envolve uma série de outras estratégias como seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível rapidez e proficiência.

É notável, o quanto é necessário que a criança seja levada a conhecer a leitura, seja ela através de livros ou mídia, mais o importante e fundamental, é que a criança tenha esse contato para construção de sua identidade quanto ser humano, e que essa leitura possa trazer-lhe novas experiências, e promova a sua interação com o que ela está lendo, de forma que ela utilize suas vivencias pessoais, culturais e históricas. A esse respeito Oliveira (2008, p.95) explica que

O aluno leitor, hoje, na perspectiva de uma educação que o respeite enquanto ser em desenvolvimento e como agente criador, produto e produtor de cultura, é valorizado como ser em processo de construção do conhecimento de si próprio e do mundo que o cerca. Essa nova perspectiva é contemplada hoje, de maneira artística, na L.I. Contemporânea.

Ou seja, o aluno deve ser levado a se desenvolver, sendo capaz de discernir sobre o mundo no qual vive, internalizando valores, os quais irão lhe trazer auto-crescimento e como já dito a construção de identidade.

Portanto, é notório dizer que o papel do professor na literatura infanto-juvenil é de extrema importância para a formação do aluno, já que ele é o principal responsável na construção de identidade do discente, o qual no possui as bases necessárias para se desenvolver sozinho, daí a importância do docente enquanto educador. Contudo, o professor para desenvolver suas atividades de modo eficiente, tem que ter o mínimo de condições de ensino, ou seja, é necessário investir no desenvolvimento profissional desses docentes, e claro intervir nas suas reais condições de trabalho, para que assim o professor possa desempenhar suas funções de modo satisfatório, e desse modo oferecer um ensino de qualidade e uma formação justa para seus alunos. Assim um dos métodos que poderiam ser adotados são as ilustrações, recurso que vem crescendo nos últimos anos e aproxima o professor do aluno.

5.1 As ilustrações

Nos últimos anos vem crescendo o número de livros com ilustrações, uma prática que vem sendo utilizada desde o período tradicional, e que se fortaleceu no contemporâneo. Segundo Coelho, as pesquisas, no âmbito da psicanálise ligada à pedagogia, provaram que a linguagem das imagens era um dos mediadores mais eficazes para estabelecer relações de prazer, de descoberta ou de conhecimento entre a criança e o mundo das formas – seres e coisas – que a rodeiam e que ela mal começa a explorar. Sobre isso Oliveira (2008, p.65) aponta

Esse olhar admirador, que reconhece o belo, é fundamental nos livros para crianças. Eis porque um livro de literatura para crianças em fase inicial de escolarização (Ensino Fundamental I) necessita ser visualmente atraente, com boas ilustrações e bem coloridas, pois, pelo fato de a criança pequena (pré-leitora) ser um iniciante no conhecimento do código lingüístico, a leitura de textos torna-se para ela um desafio. Se for extensa e sem espaço para um descanso, pode causar desinteresse e frustração, o que pode ser evitado. Daí a importância das ilustrações nos livros de L.I.

Vemos que as ilustrações na fase inicial é sem duvida um fator muito importante para o desenvolvimento da criança, já que nesse período o aluno necessita de toda atenção.

No período tradicional as ilustrações eram raras e quase nada coloridas, contudo um avanço na comunicação da linguagem imagética. Com o passar dos anos essa técnica veio se aprimorando cada vez mais, com recursos variados como colagem, pintura, além do auxilio da computação gráfica, ou seja, houve um aumento na qualidade artística da ilustração, atendendo as necessidades do leitor-criança. Hoje as ilustrações em sua maioria estão carregadas de metáforas, cores, simbologias, texturas, um tesouro que fascina cada vez mais. Segundo Oliveira, esse cuidado faz-se necessário pela exigência do leitor que está mergulhado no mundo da mídia eletrônica, em que o acesso a jogos eletrônicos, programas infantis de TV cada vez mais atraentes, DVD’s, internet é muito mais rápido e sedutor.

Portanto, a ilustração tem que ser muito criativa para conseguir prender a atenção da criança, fazer com que ela use a imaginação, a fantasia para desenvolver o lado criativo do leitor/criança, como ocorre com os livros de linguagem visual, onde não têm escrita somente imagens, enfim, o leitor é quem cria a história a partir do que está vendo. Como explica Oliveira (2008, p.69):

Muitas vezes, o livro de imagens é interpretado pelo adulto como sendo somente para crianças, que ainda não sabem decodificar o texto verbal, quando na verdade esse “objeto novo” oferece várias possibilidades de leituras, em que cada leitor fará a sua, de acordo com as suas referências culturais e emocionais.

Um livro de imagens pode trazer inúmeros estímulos para a criança, seja na atividade de criar sua própria história, seja nas cores, nas formas, ou uma ampliação da consciência do leitor.

Podemos concluir que houve uma junção entre o conteúdo e a gráfica ou poderia dizer tecnologia, que juntas estão se tornando essenciais na formação e evolução cultural do ser humano, já que segundo Oliveira, a ilustração confere ao livro, além do seu valor estético, o apoio, a pausa e o devaneio tão importantes numa leitura criadora, além de um auxilio na relação do professor com o aluno.

5.2 A relação professor/aluno

Na literatura infanto/juvenil a relação professor/aluno é embasada na interação, que se refere ao reconhecimento da importância da atividade mental construtiva nos processos de aquisição de conhecimento. Como aponta Brasil (1997, p.37):

Nesse processo de interação com o objeto a ser conhecido, o sujeito constrói representações, que funcionam como verdadeiras explicações e se orientam por uma lógica interna que, por mais que possa parecer incoerente aos olhos de outro, faz sentido para o sujeito. As idéias “equivocadas”, ou seja, construídas e transformadas ao longo do desenvolvimento, fruto de aproximações sucessivas, são expressão de uma construção inteligente por parte do sujeito e, portanto, interpretadas como erros construtivos.

Nesse contexto, a interação é tão essencial quanto o ensinar, já que é através da interação que o aluno vai se desenvolver, e, portanto construir o seu conhecimento. Com isso, quero colocar que o professor, enquanto mediador no processo de formação do conhecimento, e interlocutor, aponta coisas, organiza idéias, conta, e se coloca como livro a ser lido e analisado pelos discentes. Como explica Oliveira (2008, p.101):

Daí a necessidade de o professor estar ciente do valor da L.I. para formação da visão de mundo do aluno, tendo em vista que a literatura expressa os valores que dirigem a vida humana e a sociedade.

É de fundamental importância que o professor promova o desenvolvimento do aluno e que sempre estabeleça relações entre o que se pretende conhecer e as possibilidades de reflexão e observação, já que a literatura infantil assim exige.

Na literatura infantil a responsabilidade do docente é ainda maior, já que mexe com o emocional, o psicológico, partes fundamentais para a formação do aluno. Destarte é necessário que os professores escolham obras que foquem as reais carências da vida dos discentes, para que possam provocar a interação deles com o texto, promovendo dessa forma o desenvolvimento da imaginação, da fantasia, e criem uma interação participativa do discente com a história. Sobre isso, Oliveira (2008, p.31) coloca que

É preciso propiciar a exploração da L.I. Pela criança, enquanto recurso emancipador que permite o estabelecimento de conexões de sentido com o qu

Verah Oliveira
Enviado por Verah Oliveira em 20/03/2012
Código do texto: T3565054