Delmira Agustini, anjo e mulher -I

RESUMO

Este artigo é um exercício de literatura elaborado a partir da leitura de textos oferecidos pelo CVC (Centro Virtual Cervantes) e textos de outros estudiosos da obra da poeta Delmira Agustini. O objetivo deste trabalho é o de apresentar aspectos da vida e da obra da poeta uruguaia, representante do Modernismo em seu país e também considerada a primeira voz feminina da poesia hispanoamericana responsável pela afirmação da mulher em um cenário onde prevalecia a voz masculina. A poeta ganhou destaque por dois motivos: porque ousou escrever poemas de temática erótico-sensual; e por sua vida amorosa marcada pelo seu assassinato aos 27 anos de idade. Os textos apresentados pelo CVC sobre Delmira Agustini foram organizados por Tania Pleitez.

Palavras-chave: Delmira Agustini, Modernismo, poesia, Uruguai

ABSTRACT

This article is an exercise in literature drawn from the reading of texts offered by CVC (Centro Virtual Cervantes) and texts by other scholars of the work of poet Delmira Agustini. The objective of this work is to present aspects of life and work of Uruguayan poet, a representative of modernism in his country and also considered the first female voice of the Spanish American poetry responsible for affirmation of women prevailed in a scenario where the male voice. The poet came to prominence for two reasons: because he dared to write poems themed erotic-sensual, and her love life marked by his assassination at age 27. The texts presented by CVC on Delmira Agustini were organized by Tania Pleitez.

Keywords: Delmira Agustini, Modernism, poetry, Uruguay

INTRODUÇÃO

O panorama mundial europeu do início do século XX é marcado por lutas sociais, tentativas de revolução, e a disseminação de novas ideias políticas e científicas. A agitação social levava a literatura por outros caminhos diversos daqueles representativos da fuga da realidade e do culto do eu reinantes no período do Romantismo. As setas das estradas apontavam para a objetividade, a análise, a compreensão da realidade e a crítica que transforma o social. Daí o encontro entre as tendências que se interinfluenciaram: o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo.

O início do século XIX viu o surgimento de movimentos de independência por toda a América do Sul, incluindo o Uruguai. Depois do período conturbado pela guerra, cresceram os índices da imigração, sobretudo de pessoas que vinham de Espanha e Itália. As famílias foram se estabelecendo e, à altura do ano de 1860

"(...) os imigrantes representavam 48% da população, e 68% em 1868. Na década de 1870 entraram no Uruguai mais de 100.000 europeus, pelo que em 1879 viviam cerca de 438.000 pessoas no Uruguai, um quarto das quais em Montevideu.

Em 1857 o primeiro banco abriu, três anos depois iniciou-se a construção de um sistema de canais e em 1860 a primeira linha de telégrafo foi instalada e construíram-se ligações ferroviárias entre a capital e a província.

A economia viveu um acelerado crescimento depois da Guerra Grande, sobretudo na criação e exportação de gado. Entre 1860 e 1868, o número de ovelhas passou de três para dezessete milhões, devendo-se o aumento, sobretudo aos novos métodos trazidos pelos imigrantes europeus.

Montevidéu tornou-se um grande centro econômico, graças ao seu porto natural tornou-se um entreposto para mercadorias da Argentina, do Brasil e do Paraguai. Também as cidades de Paysandú e Salto, ambas situadas no Rio Uruguai, viveram um desenvolvimento semelhante".

A história do Uruguai tem seu marco principal no período em que ocorre em suas terras a chegada dos espanhois. São dessa época as fundações correspondentes às primeiras cidades e, entre elas, Villa Soriano, Sacramento (fundada pelos portugueses) e Montevidéu. José Joaquim de Viana foi nomeado o primeiro Governador de Montevidéu.

Depois os ingleses invadem Montevidéu e Buenos Aires, mas fracassam e o comando que se alongou até 1828 continuou sendo exercido pela Espanha. Nos finais do século XIX, o Uruguai era independente.

Delmira Agustini nasceu três meses depois da fundação do renomado El Ateneo de Montevideo, inaugurado na data de dia el día 3 de Julio de 1886, resultado da fusão de duas importantes instituições: a Sociedad Universitaria e o Ateneo del Uruguay. A escritora viveu 27 anos e morreu antes de ver a independência de seu país.

A poeta não participou como ativista de movimentos sociais, nem de associações feministas, não fez pronunciamentos sobre a condição civil da mulher, não era filiada a partidos políticos e nem consta que tivesse predileções partidárias, mas a sua obra, por si só, tem importante representatividade. Coincidentemente, no ano de 1915, em Montevideu, foi apresentado um projeto de lei que pretendia erradicar o duplo padrão moral relativo ao adultério. Esse projeto não foi adiante, mas a morte trágica de Delmira Agustini repercutiu fortemente na sociedade uruguaia. (Giordano, 2009)

Os anais do Colóquio de Alunos de Pós-graduação em Letras da Faculdade de Ciências e Letras de Assis (SP), realizado de 12 a 14 de junho de 2007, registram que a década de 80 do século XX foi assinalada pela valorização que a crítica literária latino-americana dedicou aos textos de autoria feminina. Foi então que a poeta brasileira, Cecília Meirelles, produziu importante ensaio, súmula de uma conferência que a escritora pronunciou no ano de 1956, na Sala do Conselho da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, intitulada “Expressão feminina da poesia na América”. Cecília se refere a 28 (vinte e oito) escritoras de diversos países, como Cuba, Bolívia, Argentina, Uruguai, Colômbia, Peru, México e Chile. A conferencista prestigiou Delmira Agustini e foi a ela que dedicou maior número de páginas (sete) de seu trabalho, demonstrando uma visão que abrangia tanto a vida quanto a importância da obra da poeta uruguaia: “Delmira Agustini foi o primeiro grande caso feminino da Poesia da América, tanto literariamente como pela morte trágica – talvez mesmo a única morte com grandeza suficiente para a estranha paisagem de vida em que o destino a colocou” (Meirelles, 1959, p.69).

Cecília Meirelles reconheceu a característica de vanguardismo na obra agustiniana, pois a poeta ousou romper a tradição do verso regular e metrificado e enriqueceu sua poética com figuras de expressão que a colocaram na condição de poeta maldita e transgressora. Souza da Silva (2007, p. 77-90)

Esta pesquisa se debruçou sobre aspetos da vida e da obra de uma poeta que deixou seu nome inscrito na literatura hispano-americana e cujos versos ultrapassam todas as fronteiras. Espera-se com estas abordagens apresentadas contribuir para a construção do conhecimento sobre Delmira Agustini e para manter acesa a chama poética que a abrasou.

DESENVOLVIMENTO

Delmira Agustini, anjo e mulher -I

A filha de Santiago Agustini y María Murtfeldt, nasceu em Montevideu/Uruguai na data de 24 de outubro de 1886. Os pais a chamavam carinhosamente de “la Nena”. Delmira pertencia a uma família de classe média alta e se educou como as moças desse tipo de sociedade. Teve aulas de francês, piano, pintura e desenho.

Desde menina Delmira demonstrou sua sensibilidade e inteligência e teve todo o apoio de seus pais na formação de sua cultura. Aos cinco anos de idade, Delmira sabia ler e escrever corretamente e, ao completar os dez já compunha versos e executava peças de difíceis partituras ao piano.

"El profesor de música Martín López, sostuvo que Delmira estaba muy bien dotada para la música, que tenía mucho talento, a pesar de que faltaba mucho a clase. Dijo que todo lo hacía bien, que era humilde, nada pedante, reservada y muy sumisa a su madre, a quien parecía encadenada"

.

A ensimesmada jovem Delmira também pouco contato teve com as moças da mesma faixa etária que ela. Não demonstrava interesse pelas reuniões sociais e as considerava fúteis, vazias. Mais tarde estabeleceu contato com importantes intelectuais do porte de Juan Zorrilla de San Martín, Carlos Vaz Ferreira, Julio Herrera y Reissig, Manuel Ugarte, Samuel Blixen (editor dO semanário cultural Rojo y Blanco). Era costume de Delmira passar o tempo livre em companhia dos pais e fazendo longos passeios e caminhadas pelo parque, ou então, com um amigo de infância, André de Badet.

"Aurora Curbelo Larrosa, su abogada, dijo haber conocido a Delmira desde niña, y la describió como cariñosa, bella, de carácter melancólico y dueña de una precoz y maravillosa imaginación".

Foi a partir de 1902, quando estava aos dezesseis anos, que Agustini começou a publicar seus primeiros poemas na revista La Alborada. E, quando aos dezessete, a citada revista a convidou a ser colaboradora de uma seção à qual Delmira intitulou “La legión etérea”, assinada pelo nome artístico de Joujou. Neste espaço jornalístico a poeta traçava retratos de senhoras da burguesia de Montevideu e que desfrutavam de proeminência nos setores cultural e social. Entre as suas homenageadas estava a poeta María Eugenia Vaz Ferreira.

No ano de 1907 Delmira publicou seu primeiro livro de poemas, El libro Blanco, que foi bem aceito pela crítica especializada. Junto ao sucesso literário, a fama da escritora também corria em torno de sua beleza física.

O contexto que envolvia a poeta e sua obra era assinalado por contrastes significativos. Se por um lado puritano e conservador, especialmente no que diz respeito à sexualidade e às diferenças entre homens e mulheres, por outro ponto de vista era libertário e progressista, pois, exatamente no período dos governos de Battle y Ordoñez (1903-1907, 1911-1915) foram levadas a efeito importantes reformas como a decretação da primeira lei do divórcio, em (1907) e a criação da Universidad de Mujeres, em 1912.

Tal atmosfera de ambiguidades influenciou na forma como a crítica acolheu a obra de Delmira. Mesmo sendo elogiado o seu trabalho, a temática de erotismo explícito não se adequava aos estereótipos femininos daquela época. Eram modelos diferenciados que propunham um perfil feminino para uma jovem solteira e ainda virgem. A literatura de Delmira surpreendeu e desconcertou a maior parte dos críticos que tentou neutralizar sua voz e passaram esses estudiosos da literatura a dar atenção à pessoa, uma mulher bela fisicamente e que insistia em demonstrar uma aura etérea. . Foi assim que se criou o mito, entre seus contemporâneos, de uma Delmira cuja personalidade intelectual era, simultaneamente, uma espécie de Pitonisa de Eros aliada ao aspecto da menina virginal, pura. Assim tentava a crítica explicar o “milagre” de um texto que era produto do instinto, descartando a sua competência e intelectualidade.

A manifestação da crítica não poupou em preconceitos quanto ao calor da sensualidade na poesia de Delmira, pois, como explicita Serrano:

"Cuando Carlos Vaz Ferreira, un distinguido crítico uruguayo de su tiempo, leyó El libro blanco de Delmira Agustini -publicado en Montevideo en 1907 a la edad de 21 años- dirigió a la joven poeta una carta en la que le decía cómo ha llegado usted, sea a saber, sea a sentir, lo que ha puesto en ciertas páginas, es algo completamente inexplicable. El buen señor no había advertido que la poesía no brota necesariamente de la experiencia, sino también del sueño y del deseo, y que su origen, de acuerdo con Rimbaud, se encuentra en la fusión del ver y del creer. Pero si los críticos más avisados de su tiempo no estaban capacitados para entender que lo que la poesía narra muchas veces no lo vemos con nuestros ojos, sino con nuestro espíritu, imaginemos el impacto que los versos apasionados y sensuales de esta joven rubia y delgada, casi etérea, que había nacido en 1887 en el seno de una familia de la alta burguesía del país, causarían en la sociedad uruguaya de principios del siglo XX que se preguntaba asombrada cómo aquella niña podía crear esos poemas ardientes cargados de erotismo, donde el amor se transfiguraba en rito y el lenguaje en ritmo y metáfora para dejarnos ver el alma de una mujer sensual que, en el contexto de una sociedad patriarcal, como la latinoamericana, se atrevía a escribir sobre temas tabúe como el deseo, el cuerpo y el placer".

O segundo livro de Delmira Augustín, intitulado Cantos de la mañana, foi publicado em 1910. Então é firmado o seu prestígio como poeta e chegou a ser elogiada por Rubén Darío, poeta nicaraguense, expoente máximo do Modernismo em língua espanhola e em companhia de Juan Martí.

PÓRTICO (em Los cálices vacíos)

". . . .De todas cuantas mujeres hoy escriben en verso ninguna ha impresionado mi ánimo como Delmira Agunstini, por su alma sin velos y su corazón de flor. A veces rosa por lo sonrosado, á veces lirio por lo blanco. Y es la primera vez en que en lengua castellana aparece um alma femenina en el orgullo de la verdad de su inocencia y de su amor, á no ser Santa Teresa en su exaltación divina. Si esta niña bella continúa en la lírica revelación de su espíritu como hasta ahora, va á asombrar á nuestro mundo de lengua española. Sinceridad, encanto y fantasía, he allí las cualidades de esta deliciosa musa. Cambiando la frase de Shakespeare, podría decirse « that is a woman », pues por ser mujer, dice cosas exquisitas que nunca se han dicho. Sean com ella la gloria, el amor y la felicidad".

Rubén Darío

Foi em 1912, quando Darío visitou Montevideu que Delmira o conheceu, tendo este encontro motivado entre eles uma troca de cartas. Em sua casa, a poeta recebia visitas de vários escritores e intelectuais que eram atraídos por seu talento e, entre esses visitantes, está incluído Manuel Ugarte, compositor de músicas e diretor do Teatro Cólon, em Buenos Aires, intelectual engajado em causas sociais.

O terceiro livro, Los cálices vacíos, veio a lume em fevereiro de 1913 contendo poemas ainda mais fortemente caracterizados pelo tom de erotismo. Isto provocou escândalo social e o murmúrio aumentava incessantemente em torno da jovem poeta e seu atrevimento. Tal estado de coisas provocado por uma moça solteira e virgem chamava particularmente a atenção porque a mulher daquela época deveria ser objeto de desejo e lhe era vedado desejar. Eis o excepcional da obra de Delmira, a sua subversão ao tentar criar um novo e complexo sujeito feminino de erotismo pessoal diferente do que era imposto pela tradição literária masculina.

"(...) en Los cálices vacíos, Delmira anuncia, en una nota ‘Al lector’, que está preparando un nuevo poemario que se titulará Los astros del abismo y el cual considera será ‘la cúpula’ de su obra. Estos poemas, los más oscuros y barrocos, fueron publicados póstumamente en la edición de sus Obras completas de 1924 bajo el título general de ‘El rosario de Eros”.

Íntima

Yo te diré los sueños de mi vida

En lo más hondo de la noche azul...

Mi alma desnuda temblará en tus manos,

Sobre tus hombros pesará mi cruz.

Las cumbres de la vida son tan solas,

Tan solas y tan frías! Yo encerré

Mis ansias en mí misma, y toda entera

Como una torre de marfil me alcé.

Hoy abriré a tu alma el gran misterio;

Ella es capaz de penetrar en mí.

En el silencio hay vértigos de abismo:

Yo vacilaba, me sostengo en ti.

Muero de ensueños; beberé en tus fuentes

Puras y frescas la verdad: yo sé

Que está en el fondo magno de tu pecho

El manantial que vencerá mi sed.

Y sé que en nuestras vidas se produjo

El milagro inefable del reflejo...

En el silencio de la noche mi alma

Llega a la tuya como un gran espejo.

Imagina el amor que habré sonado

En la tumba glacial de mi silencio!

Más grande que la vida, más que el sueño,

Bajo el azur sin fin se sintió preso.

Imagina mi amor, mi amor que quiere

Vida imposible, vida sobrehumana,

Tú que sabes si pesan, si consumen

Alma y sueños de Olimpo en carne humana.

Y cuando frente al alma que sentía

Poco el azur para bañar sus alas,

Como un gran horizonte aurisolado

O una playa de luz, se abrió tu alma:

¡Imagina! ¡Estrechar vivo, radiante

El imposible! ¡La ilusión vivida!

Bendije a Dios, al sol, la flor, el aire,

¡La vida toda porque tú eras vida!

Si con angustia yo compré esta dicha,

¡Bendito el llanto que manchó mis ojos!

¡Todas las llagas del pasado ríen

Al sol naciente por sus labios rojos!

¡Ah! tú sabrás mi amor, mas vamos lejos,

A través de la noche florecida;

Acá lo humano asusta, acá se oye,

Se ve, se siente sin cesar la vida.

Vamos más lejos en la noche, vamos

Donde ni un eco repercuta en mí,

Como una flor nocturna allá en la sombra

Yo abriré dulcemente para ti.

(De El libro blanco (Frágil), 1907)

REFERÊNCIAS

BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de Assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Uruguai

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/uruguai/historia-do-uruguai-3.php

http://www.google.com.br/webhp?source=search_app#hl=pt-BR&sclient=psy-ab&q=montevideu%2C+ano+de+1886&oq=montevideu%2C+ano+de+1886&aq=f&aqi=&aql=&gs_l=serp.3...0l0l1l8386l0l0l0l0l0l0l0l0ll0l0.frgbld.&psj=1&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_qf.,cf.osb&fp=1&biw=1024&bih=653

http://sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/ColoquioLetras/jacicarla_souza.pdf

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-83332009000100011&script=sci_arttext

http://cvc.cervantes.es/literatura/escritores/agustini/biografia/biografia_01.htm

http://www.scielo.br/pdf/ts/v19n1/a02v19n1.pdf

http://www.ale.uji.es/agustini.htm

taniameneses e Roberto Carlos Bastos da Paixão/Vera Lúcia Maia
Enviado por taniameneses em 23/03/2012
Reeditado em 03/09/2012
Código do texto: T3571340
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