O HOMEM QUE VIVIA ESQUECENDO DE TUDO

Havia um homem que se chamava... Quer dizer, depois que ele se lembrar do nome dele eu digo. Esse homem que esqueceu até do próprio nome, não se lembrava de nadica de nada mesmo. Certo dia pela manhã, acordou bem cedo e foi para seu trabalho, depois de horas de trabalho duro, alguém lhe disse que havia dois anos que não trabalhava mais naquela empresa.

Ao sair correu para pegar seu carro no estacionamento, perdeu mais meia hora tentando abrir um fusca 67 que estava na parte contrária do pátio. Seu carro era um Celta novinho, mas ele esqueceu de que vendeu seu primeiro fusquinha já havia um tempão.

Certo dia ele foi num shopping, comprou várias peças de roupas e pares de sapatos belíssimos para sua esposa, ao chegar a sua casa, conseguiu se lembrar que era viúvo há nove anos. A vida desse homem era uma confusão atrás da outra. Todo dia era uma aventura nova, ele não se lembrava de quantas vezes durante o dia, esquecia tudo.

Desde sua infância, seus colegas o agrediam e zombavam dele pelas suas maneiras estranhas de se comportar. Além de magro tinha o rosto coberto de espinhas e era caolho. Sua cor negra era motivo de piadas entre os pirralhos do seu bairro. Foi por causa da sua cor que recebeu o apelido de caroço de pinha. Mas uma doença desconhecida veio provocando esquecimento em muitas coisas que acontecia em sua vida. Uma vez, foi convidado para jantar na casa de um amigo, jantou na casa de outro e no dia seguinte ligou no primeiro para agradecer o convite, a confusão foi geral.

No bolso de seu paletó, mantinha guardado um pequeno espelho, quando perguntavam quem ele era, imediatamente tirava o objeto do bolso e através dele conseguia se identificar. Até mesmo da própria imagem o nobre amigo tinha dificuldade de se lembrar. Sua idade também era motivo de piada, todas as vezes que alguém perguntava quantos anos ele tinha, pegava uma agendinha velha para fazer as contas, nela estava rabiscada sua data de nascimento. É... Ele esquecia tudo mesmo! Só não se esquecia de sorrir sempre, a todos. Você se lembra de alguém assim? Ah, não se lembra não é?