Francisca Julia da Silva e a Inclusão da Mulher na Literatura Brasileira

Francisca Julia da Silva e a Inclusão da Mulher na Literatura Brasileira

Silvio Profirio da Silva

Aline Adriana da Silva

Edna Carla Lima da Silva

Salete Paiva da Silva

Durante muito tempo, a produção literária foi algo restrito ao universo masculino. Com isso, a mulher tinha sua voz “amordaçada” em um cenário caracterizado, exclusivamente, pela supremacia masculina. Em geral, os únicos papeis e funções sociais atribuídos à mulher [embora tivesse acesso às competências linguísticas da leitura e da escrita], eram o de esposa, de mãe e de doméstica do lar, submetendo-se, assim, à preponderância masculina. O que reflete as condições sociais e históricas, nas quais se encontravam as mulheres nesse período. Contudo, em um campo marcado, predominantemente, pela presença masculina, eclode a atuação da mulher no âmbito da escrita, mais especificamente, na composição do texto literário. Esse é o contexto no qual surge a produção literária de Francisca Julia da Silva (1871-1920).

Da preponderância masculina ao espaço da figura feminina na escrita literária. Esse percurso reflete o movimento na evolução da trajetória da função social da mulher, mesmo que inicial. Sabe-se que, durante muito tempo, a escrita literária foi algo dominado, preponderantemente, pela figura masculina. Em face dos ideais/ da ideologia de uma época, a mulher tinha sua voz silenciada e, por conseguinte, tinha sua participação, no âmbito literário, extinta. Tal situação não só evidencia as condições sócio-históricas da mulher nessa época, mas, em especial, demonstra os critérios não-linguíticos que estabeleciam os padrões de normalidade no ramo da escrita literária. A mulher, desse modo, tinha sua voz e participação erradicadas do universo literário, em virtude de aspectos que transcendem o âmbito linguístico, inserindo, assim, as questões de gênero na composição literária.

Em contraposição a essa postura de segregação social da mulher, eclode outra de inclusão, embora mínima nessa época. Eclode, dessa maneira, a obra da autora Francisca Julia da Silva, uma das precursoras no ramo da escrita literária. Apesar de seu quantitativo de obras ser considerado pequeno, seu legado consegue dar conta de refletir não só sua contribuição para a evolução da trajetória literária e cultural do Brasil, mas também faz um convite à reflexão acerca das condições a que estava submetida a mulher nessa época, em decorrência da conjuntura social que alçava a figura feminina à condição de objeto de submissão. Diante dessa perspectiva, a obra de Francisca Julia traz uma reflexão acerca da inserção e da participação da mulher no contexto da escrita literária.

Coelho (2010) ressalta o fato de essa autora, em sua eclosão na produção literária, foi desacreditada em virtude de sua condição feminina. Para isso, Coelho (2010) cita Constantino (1941, p. 2) que afirma que o surgimento de uma mulher no campo literário ocasionou muita polêmica. Motivo este que fez com que muitos acreditassem que um autor estaria se utilizando de um pseudônimo, Francisca Julia, para difundir seus textos. O que está em sintonia com Coêlho et al (2008, p.5), que diz que “o estético da forma e chegou a ser atribuído a vários outros poetas até que se descobrisse que Francisca Julia não se tratava de um pseudônimo”. Nessa direção, percebe-se que a mulher era desacreditada, ou seja, a figura feminina não teria capacidade de compor um texto literário de tamanha magnitude. Tinha-se, assim, uma produção literária que preconizava uma predominância masculina nesse âmbito, o que, por sua vez, excluía a inserção da mulher na construção/ produção literária. É nesse sentido que, Francisca Julia da Silva, enquanto uma das primeiras autoras brasileiras inclusas na escrita literária, põe em xeque essa perspectiva, tradicionalmente, excludente e de segregação a que era submetida a mulher. O que, por sua vez, abre espaço para a mulher nesse âmbito, ainda que mínimo inicialmente.

Nesse sentido, percebe-se que é inegável a contribuição da produção literária de Francisca Julia para a evolução da trajetória histórico-social da Literatura Brasileira. Isso não só do ponto de vista temático-estilístico, mas, sobretudo, do ponto do vista na alteração da função e do papel social da mulher no que tange à composição do texto literário. A obra de Francisca Julia representa um salto nas condições sócio-históricas da mulher, na medida em que ocorre uma quebra de paradigmas na função social da mulher, ainda que incipiente. Mas que se intensificou, continuamente, ao longo dos anos. Em outras palavras, a obra dessa autora reflete a contribuição feminina no campo literário, o que propicia a inserção da mulher no âmbito literário.

Referências

COELHO, Gisely Valentim Vaz. A Revisão do Papel Feminino na Educação e Cultura dos Anos 1930 e 1940: Um Estudo de Caso do Vespertino Paulistano A Gazeta. In: Anais do I Congresso de História da Mídia do Sudeste, 2010.

COÊLHO, Célia Tamara.; CORRÊA, Regina ; Massambani, Ana Paula de Lima. Ângelus: influências simbolistas na obra de Francisca Julia. In: Anais do VII SEPECH - Seminário de Pesquisa em Ciências Humanas, Universidade Estadual de Londrina - UEL, Londrina, v. VII., 2008.

PRADA, Cecília. Vozes silenciadas: a sofrida participação feminina no mundo das letras. Revista Problemas Brasileiros, nº 362,

mar/abr, 2004.

SILVIO PROFIRIO, Aline Adriana da Silva e Edna Carla Lima da Silva e Salete Paiva da Silva
Enviado por SILVIO PROFIRIO em 12/06/2012
Reeditado em 03/01/2015
Código do texto: T3720554
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