Sobre "Aqueles Dois", de Caio Fernando Abreu

Ficcionista dos anos 70, Caio Fernando Abreu possui como temáticas recorrentes em suas obras a profundidade e o amor do ser humano, perpassando todas suas facetas – desde os mecanismos pelos quais a solidão está presente no âmago das pessoas, como é o caso do conto Sapatinhos Vermelhos, até o homoerotismo. Mas, de forma predominante, a dor se configura como um dos alicerces na construção de suas narrativas, conectando-se com características como o lirismo, o sonho e a linguagem sem qualquer convencionalismo literário que é tão própria do autor.

Numa análise superficial, percebe-se que o conto “Aqueles Dois” (In: Abreu, Caio Fernando. Morangos Mofados. 8 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987) aborda a temática da homoafetividade claramente contextualizada ao meio sociocultural que envolve a narração, criando assim a possibilidade de comunicação e discussão sobre a temática com o público – ao que se refere à literatura e aos problemas sociais que seguem com afinco a homoafetividade ainda nos dias de hoje. E apesar do enredo aparentemente simples (um encontro de duas pessoas que são produtos de desilusões amorosas numa repartição pública e o desenvolvimento progressivo duma relação), a história se configura de forma magnífica na procura da “alma gêmea” ou do “duplo”.

Acho que “Aqueles Dois” é um ponto de partida sensacional para refletir sobre os dois assuntos e a história, assim como o livro todo, é indispensável para qualquer pessoa que goste de literatura brasileira ou que são adeptos de um bom romance romântico, com suas cores e dores tão únicas.