(Des)ordem

Existe uma dimensão que é desconhecida por quem lê a obra de um autor, que é o processo da criação, o momento primeiro, quando as idéias vão surgindo por qualquer motivo; esse momento tem uma nuance de caos, em consequência da velocidade com que os pensamentos brotam; da forma incontrolável com que chegam à mente e vão estabelecendo vínculos entre si, ainda que pareçam totalmente incoerentes ou fora de sintonia. Se fosse escrever nessa não ordem quase absoluta, seria impossível a compreensão daquilo que preciso dizer. Entretanto, o fato de tentar estabelecer alguma coerência não deverá tirar o que existe de melhor na criação, que traduz a beleza dessa aparente desordem, ou mesmo incoerência que a mim se configura o verdadeiro encanto de escrever. Até porque, o próprio mundo parece se ter desvinculado de qualquer vislumbre dos anteriores paradigmas e entrado numa vertiginosa busca, não por uma, mas novas ordens, novas pedras filosofais... muito embora isso não seja novidade, mas um acontecimento recorrente na trajetória da humanidade.

Venho buscando explicar a mim mesma as coisas que percebo ao meu redor, a forma como as compreendo, ou seja, como elas se mostram a mim, à minha sensibilidade, ao meu universo íntimo, de acordo com essa percepção e por que o fazem...ou seria o contrário?...na verdade, isso é muito difícil de ter um ordenamento linear; elas também poderiam se mostrar à minha percepção de acordo com a sensibilidade...até achei melhor assim...a minha percepção é desencadeada pela minha sensibilidade. É isso aí, acho...vê-se, dessa forma, como não existe uma única ordem na complexidade do Universo. Vê-se como não existe certo e errado a não ser em universos pessoais, que partem de valores e conceitos específicos nos quais também não se pode interferir, mas que precisarão se abrir à luz da consideração dos opostos complementares (teoria quântica). Cada um que ler este e, talvez, todos os meus textos, vai achar que a ordem seria outra, e a intenção é esta mesmo: rever conceitos...a minha compreensão é a de que, qualquer que seja essa ordem, significa que uma possibilidade não exclui a outra, e que a cada nova incursão teríamos outras tantas visões a considerar...

Não me proponho a dizer nenhuma verdade; neste momento penso desta forma, mas, à medida que vou vivendo, aprendendo, estudando, me relacionando, também vou incorporando outras visões, ampliando ou mudando as que pretendo evidenciar aqui, podendo, inclusive, reescrever tudo a partir de uma nova ordem inerente àquele momento, reconstruída ou elaborada nas interseções, uma vez que o todo não representa, apenas, as partes, mas também um terceiro espaço (ou outros mais...). Aliás, vou logo avisando, porque pode ocorrer que um desses textos seja lido em outro lugar e contexto, com outras análises e proposições.

O mais importante para mim é expor essa inquietação e reafirmar a inexistência de uma verdade imutável e única. Tudo é fruto das elaborações de um íntimo e desconhecido universo pessoal inerente a cada ser (cada observador), estimulado pelas vivências, buscas, interesses, emoções e estados de espírito momentâneos, que na dinâmica da vida quase sempre são representados sob diferentes linguagens, e nuances novas. Em sendo assim, vou liberá-los para as suas...

Guacira Maciel
Enviado por Guacira Maciel em 28/01/2013
Reeditado em 28/01/2013
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