Quando eu falei de Machado de Assis e José de Alencar

Fui a uma escola perguntar aos alunos se eles conheciam Machado de Assis e José de Alencar. Um dos meninos lá do fundo da sala me respondeu que José de Alencar é o nome do 'Seu Zé' da serralheria perto da escola. E ele não deixa de ter razão, é claro. Assim como a garota estudiosa sentada em frente a carteira da professora, que surpreendeu o resto da sala ao dizer que Machado de Assis era um importante autor brasileiro.

E então eu expliquei aos alunos o porque da minha indagação, em meio aquela aula de português. Apenas queria saber, em resposta ao meu consciente, se os autores literários tão reverenciados em uma estação, tinham caído em esquecimento.

Assim, eu disse a eles que Machado de Assis foi mais do que um 'simples' importante autor. Machado de Assis foi senão mais do que o exemplo de todos os livros didáticos que os seus mestres aplicam em sala de aula. O importante Machado, como descreveu a aluna, viveu em praticamente todos os gêneros literários. Foi poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Ufa! Quem é esse Machado de Assis?!

Mais do que exemplos em livros didáticos, ele é o percussor de todos os outros romances que podem encantar a jovialidade dessa geração. Machado de Assis é pai dos poemas de 1800, é pai celestial de todas as Letras destes folhetins. É mais do que uma descrição.

Alguns meninos riram, outros dormiram. Algumas meninas desconversaram, outras mexeram em seus celulares. E a menina da frente fez outra indagação: "E o José de Alencar?". E eu a respondi, esquecendo os outros alunos desinteressados.

Eu disse a ela que o José de Alencar é um livro a parte. É um capítulo inacabável na história da arte poética desse mundo. Esse era culto, tão quanto a sociedade daquela época. Foi jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, polemista, romancista e dramaturgo. Ufa! Esse foi José de Alencar!

Certamente, ou não, serviu de inspiração para o batismo do 'Zé Serralheiro', citado pelo garoto que já não estava mais na sala de aula. O José de Alencar original foi o Pai de O Guarani, uma das mais belas obras literárias dessa humanidade, que foi desenvolvida em princípio em folhetim, entre os meses de fevereiro e abril de 1857, no Correio Mercantil (jornal daquela época).

Aquela garota da primeira carteira se animou. Perguntou mais e mais desses autores e de outros e outros, enquanto a professora sorria orgulhosa em sua direção e os seus colegas de sala se desesperavam, pois a hora do sinal de partida demorava a chegar.

Depois de pouco tempo ali eu já conseguia responder a meu consciente sobre a questão do esquecimento de autores consagrados em alguma época. E a resposta era a que eu esperava: Assis e Alencar não eram tão referenciados.

Mas saí daquela sala de aula com um sorriso no rosto, como o de um mero e pequeno jornalista desse mundo, que é tão animado quanto sonhador. Saí daquela escola com a esperança de que a garota da primeira carteira irá contagiar os seus colegas de sala com contos e prosas de tantos autores literários que infelizmente sumiram das bibliotecas.

Kallil Dib

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Kallil Dib
Enviado por Kallil Dib em 31/07/2013
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