Obra publicada

(escripto há uns dez anos...)

Há maneira mais honrosa, honrada e honrosada de se ilustrar um currículo? Imagine-se um Paulo Coelho, podendo-se dar ao luxo até de anotar dados de sua parceria com Raul Seixas, ele que virou imortal e o mais conhecido dos escritores brasileiros, iria abrir mão de descrever tintin por rin-tintim, toda sua volumétrica relação de publicações... de A a Z.

Falar nele, li-lhe o Alquimista. En français. Parodiando aquele já meio antigo filme, era mais gostoso o meu francês de antanho. Mas questão de gosto, ou de ganho. Afinal o homem taí, na Academia, em 'O Globo' e pelo globafora, vendendo mais que muito figurão já nobelizado. E não demora vir a vez dele, pois se o Brasil já ganhou uma santa - ainda que nascida na Itália - um laureado dessa talha é coisa que demora, mas

não falha. E não jogo aqui a toalha.

Vamos à publicação que tanto almejamos, no mesmo grau de se ter um filho e plantar uma árvore. O filho, ou a filha, que é o melhor deles - a Biblia ou a 'conventional wisdom' mo hão de corroborar, precisa ganhar sua vida, plantar sua árvore, escrever o seu livro e fazer o seu filho, ou ao menos treinar, tem assim tantas obrigações que você não pode retê-lo ao lado, ou folheá-lo na cabeceira. A árvore, essa já estática por natureza lhe oferece frutos, sombra e, se aventureiro, uma boa trepada. Mas tem que ficar no quintal.

E nos resta o livro: esse sim, você pode botá-lo na estante, num instante tirá-lo, andar com ele pela casa, mostrar pros amigos - emprestar é meio arriscado - mas o melhor de tudo é vê-lo na estante, com a lombada bonita, dourada quiçá, voltada pros seus olhos. Quanto deleite. E melhor se for suficientemente grosso, capa dura, relié, e não brochura, broché.

Mas aí, me vem a dúvida - que me é boa justificativa para quem não escreveu o livro seu - nesta época de internet, de tanta velocidade e até enfastio de informações: fará sentido o livro, ainda que de bela lombardi, lombada, digo? Borges, dele se dizia, seus próprios livros nunca lia. Cegamente. Alexandre Herculano era outro também que sem mais ver, se danou a escrever, com toda a visão do poder crer e querer.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 13/08/2015
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