Contos de Fadas Originais: "A Rainha do Gelo" ou "Frozen"

"Frozen":

Versão Disney: Elsa é uma garota com o poder de transformar as coisas em gelo. Quando ela quase mata Anna, sua irmã menor, trolls fazem um feitiço para que Anna não se lembre do poder da irmã. Os pais das duas morrem, e Elsa evita o contato com Anna, com medo de não controlar seus poderes. Quando sua capacidade se torna pública, Elsa se refugia em um castelo, mas Anna está decidida a buscá-la de volta, com a ajuda de um vendedor de gelo e de um boneco de neve.

Versão original: Na história "A Rainha do Gelo", de Hans Christian Andersen, os trolls são malvados, e fazem um espelho que distorce as imagens. O espelho se quebra, e pequenas farpas atravessam os olhos e o coração de Kai, irmão de Gerda (sim, a história original gira em torno de uma garota e um garoto). A malvada rainha da neve aparece, faz com que Kai se esqueça da irmã e leva-o com ela. Gerda procura pelo irmão: uma moita nasce de suas lágrimas, e investiga todos os cadáveres enterrados no chão, mas nenhum deles é de Kai, ou seja, ele ainda está vivo! Com a ajuda de uma garota ladra, eles retiram as farpas de Kai, combatem a bruxa e voltam para casa.

(Fonte: https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-112347/?page=7)

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Rainha da Neve e Frozen — Análises e comparações

O filme Frozen (Ou Frozen — Uma Aventura Congelante, como chegou no Brasil) lançado pela Disney em janeiro de 2014, é baseado no conto A Rainha das Neves, de Hans Christian Andersen.

Muitos conhecem os irmãos Grimm e sabem que há diversos filmes e contos de fadas que têm origem em suas obras, mas poucos sabem que Hans também escreveu histórias que conhecemos desde a infância como A Pequena Sereia, O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Roupa Nova do Rei entre muitos outros, sendo considerado um dos maiores escritores de contos infantis. Hans escreveu também narrativas, poesias, relatos de viagem, peças de teatro e contos para o público adulto. Na maior parte de suas obras a temática é fantástica e os conflitos ocorrem em um ambiente mais íntimo, mais familiar.

Hans Christian Andersen nasceu em 2 de abril de 1805 numa família pobre na cidade de Odense, Reino Unido da Dinamarca e Noruega, atual Dinamarca. Mesmo sendo de origem humilde, seu pai sempre o incentivou a estudar e explorar sua criatividade, chegou a fazer um teatro de marionetes que Hans usava para encenar peças clássicas.

Quando seu pai faleceu, Andersen tinha 11 anos e teve que abandonar os estudos para se sustentar. Aos 14, surgiu o interesse de trabalhar com teatro e Hans foi para Copenhague, onde trabalhou como ator e bailarino. A pesar de seu interesse, diziam que ele não tinha perfil para o palco e muitos falavam do seu talento para escrever. Em 1828 entrou para Universidade de Copenhague e já havia publicado algumas peças e livros, mas só passou a ser reconhecido 1835, quando lançou o romance O Improvisador. Andersen só parou de escrever em 1872, quando adoeceu e acabou falecendo em 1875. Chegou a escrever 156 histórias e sua contribuição foi tão importante que o dia do seu aniversário (2 de abril) foi escolhido para ser o Dia Internacional do Livro Infantil e o prêmio internacional de literatura infanto-juvenil recebeu seu nome.

Na maior parte de seus contos, Andersen acaba levantando discussões sociais e comportamentais, isso se deve a sua origem humilde e ascensão social o permitiram viver e explorar contrastes sociais, o que influenciou muito em suas obras, que sempre têm uma moral, um valor a ser passado. Com A Rainha das Neves não foi diferente, a maioria dos personagens são de classes sociais mais baixas e um elemento muito importante para o enredo é um espelho que aumenta as características ruins, físicas e psicológicas, das pessoas que olham para ele, trazendo a famosa dicotomia bem e mal para o centro da trama.

O conto original é dividido em sete partes nas quais os elementos são apresentados gradativamente, cada parte apresenta uma história e/ou personagens que começam a se envolver e se desenrolar como um conto só. Na adaptação para o cinema, todos os contos menores são fundidos em um só, elementos abstratos da história original são concretizados em pessoas ou objetos e surgem novos personagens e outros são deixados de lado e outros são modificados. Frozen concentra seu enredo na Rainha das Neves, nos personagens Gerda e Kay e nos acontecimentos que os envolvem, deixando outros personagens e partes da trama apenas como plano de fundo.

Do original A Rainha das Neves para a adaptação cinematográfica houve muitas mudanças, não só no enredo, mas também em relação às personagens e à moral da história. A adaptação do conto e as modificações que a história sofreu serão os objetos de estudo explorados neste blog.

Análise do Conto — “A Rainha da Neve” de Hans Christian Andersen

O conto “A Rainha das Neves” narra a jornada de Gerda através de reinos gélidos em busca de seu estimado companheiro Kay, cuja vida está sob controle da poderosa Rainha das Neves. Esta narrativa apresenta uma perspectiva interessante em que o altruísmo da personagem feminina a transforma na heroína responsável por salvar o personagem masculino, cuja natureza é mais passiva e auto-centrada.

Primeira história que trata do espelho e dos seus fragmentos

Tudo inicia-se quando um malvado feiticeiro chamado Dævel (expressão infantil que designa diabo, em dinamarquês) constrói um espelho que possui a propriedade de reduzir a quase nada a beleza e a bondade que nele se refletissem e tornar o que era mau ou desagradável no mundo ainda pior. Porém, ao tentarem levar o espelho maligno aos céus, o plano de fazer chacota de Deus e seus anjos foi interrompido por um acidente: o espelho escapou das mãos dos diabinhos de Dævel e estilhaçou-se sobre a Terra na forma de bilhões de pedaços, alguns do tamanho de grãos de areia que, quando penetrados no coração de seu hospedeiro, o transformava em gelo. Observa-se neste conto muitas metáforas para características comportamentais dos seres humanos, como quando o autor diz que quem utilizasse algum destes estilhaços como lentes de óculos e os pusesse para ’ver com clareza e justiça, tudo corria mal’, no sentido de que o julgamento de quem possui um coração gélido não pode ser o mais apropriado.

Segunda história: um rapazinho e uma menina

Kay e Gerda são duas crianças pobres que, apesar de não serem irmãos de sangue, amam-se incondicionalmente como tal. Certa noite de inverno, a bondosa avó de Gerda conta-lhes como cada floco de neve a rodopiar na tempestade é uma abelha branca e que elas têm uma rainha, voando sempre para o céu escuro, que em muitas noites de inverno voa pelas ruas da cidade e espreita através das janelas. Foi esta a noite em que Kay recebeu a visita da Rainha das Neves e também quando é atingido pelos estilhaços do espelho do duende maligno, um estilhaço acerta o coração e outro os olhos.

O inverno dá seu lugar à primavera e logo em seguida chega o verão. Kay e Gerda andam de mãos dadas, beijam as flores , contemplam o brilho do Sol e vivem plenamente as doçuras da infância. Porém, Kay começa a perceber os sintomas dos estilhaços do espelho: ‘– Ai, que alguma coisa me picou no coração e agora sinto que me entrou outra coisa no olho’. O comportamento do menino começa a mudar, e agora faz tudo de maneira fria e calculista, não enxerga mais graça nas flores que tanto admiravam, e parte para a praça pública para amarrar seu trenó em outro de maior tamanho que chegava naquele momento, somente pelo prazer da estripulia, pois não sente mais felicidade ao contemplar as singelezas da vida, seu coração foi consumido pela prepotência e asquerosidade humana. Subitamente, o trenó desloca-se depressa para longe, através de caminhos congelantes e severas nevascas. O autor descreve ao temor do menino e expõe a metáfora sobre Fé x Razão : ‘Queria rezar o seu Pai-Nosso, mas só se lembrava da grande tabuada’. Em sua onda de medo e desespero, Kay não consegue identificar o condutor do trenó até que esta se quitasse das espessas peles que a cobriam, feitas todas de neve. A condutora revela-se: era a Rainha das Neves. Ela o beija e Kay passa a não sentir saudade de Gerda, nem da avó, nem de mais ninguém em casa.

Terceira história:O jardim da mulher que sabia fazer feitiços

Gerda parte em busca de seu companheiro desaparecido, e em seu caminho cruza com uma pequena casa. Nesta casinha vive uma anciã, que, apesar de ter uma estranha aparência, ouve com atenção a história da menina. Ao perceber em Gerda uma menininha adorável que desejava ter em sua companhia, a velha (que era uma feiticeira ‘boa’) a alimenta e penteia os lindos cachos. A velha feiticeira, apesar de não ser malvada, desaparece com todas as rosas do jardim para que Gerda não as mire e lembre-se de Kay. O autor explica através da atitude da feiticeira o sentimento de posse que rege muitas relações humanas, em que apesar de tratar bem a menina, esta não passava de uma refém de seus carinhos, e ali manteve-se iludida e prisioneira até o outono, sob a falsa redoma de amparo e proteção. Quando finalmente recorda-se de seus objetivos, a menina desespera-se e percebe algo: ‘No belo jardim, não se dera conta da passagem do tempo; havia sempre Sol e todas as flores das quatro estações nele se misturavam. — Deus! Como me atrasei! — disse para consigo. — Eis-nos já no Outono! Tenho de ir depressa, não tenho tempo para repousar.’ Enquanto deixou-se levar pelas comodidades do jardim enfeitado de prazeres, tornou-se prisioneira da velha e esqueceu-se de suas responsabilidades. Estagnou-se no tempo, e, quando despertou, partiu novamente em sua aventura.

Quarta história: Príncipe e princesa

Gerta encontra nas neves uma gralha que a se propõe a ajudá-la em sua empreitada. A gralha a conduz pela porta traseira de um palácio, e quando se esgueiraram até os aposentos, encontraram lá deitados um príncipe e uma princesa. Contou-lhes sua história, e estes entregaram-lhe boas vestimentas e comidas. A princesa até mesmo propôs-lhe que ficasse no palácio para ter uma boa vida, mas Gerda pediu apenas uma pequena carruagem com um cavalo e um par de botas, para retomar a sua viagem em busca de Kay. Recebeu umas botas e um regalo para as mãos. Entregaram-lhe também uma carruagem nova, toda de ouro, brasonada com o escudo do príncipe e da princesa, e partiu novamente em sua aventura.

Quinta história : A pequena salteadora

A carruagem toda feita de ouro despertou a cobiça de salteadores que por ali passavam, e estes detiveram os cavalos, mataram o cocheiro, o criado e o trintanário e retiraram Gerda da carruagem. Como era uma menina roliça e bonitinha, imaginaram que ela renderia uma boa refeição, e já sacavam as adagas para quitar-lhe a vida. Foi quando uma pequena e cruel salteadora impediu a ação, dizendo que queria Gerda como companhia. A pequena salteadora é uma criança mimada, teimosa, e violenta; porém, quando Gerda conta sua história, esta promete ajudá-la, revelando novamente uma metáfora comportamental: todo ser vivente não é completamente mau, nem completamente bom (a exemplo também da feiticeira boa que manteve Gerda em cativeiro). A salteadora possuía uma rena chamada Beh, que vivia muito infeliz longe da Lapónia (sua terra natal), e era ameaçada com uma faca e mantida presa. Decidiu, então, deixar Gerda prosseguir em sua busca, e concedeu-lhe alimentos e a rena como meio de transporte para a viagem. Gerda e a rena galoparam noite e dia, e chegaram a Lapónia.

Sexta história: A mulher da Lapónia e a mulher da Finlândia

Gerda e Beh chegaram a uma cabana miserável, onde vivia a mulher da Lapónia. Como a menina estava entorpecida pelo frio, a rena contou para a mulher a história de ambas, e os motivos de terem chegado até ali. A mulher disse-lhes que faltava andar pelo menos mais cem léguas no interior do Finnmark. Era onde habitava a Rainha das Neves. Escreveu algumas instruções em um bacalhau seco e disse para o entregarem à mulher finlandesa que morava naquelas bandas. Chegando na casa da mulher finlandesa, a rena pede-lhe ajuda para que faça uma poção que dê força para Gerda enfrentar a Rainha das Neves. A mulher, por sua vez, explica algo muito valioso: “Eu não seria capaz de a dotar de um poder mais forte que aquele que ela já possui. Não estás a ver tão grandiosa que ela é? Não vês que os animais e as pessoas são forçados a servi-la e que, tendo partido descalça, atravessou venturosamente o grande mundo? Não é de nós que poderá receber o seu poder; ele está no seu coração e vem-lhe do fato de ser uma criança inocente”. A rena, seguindo ordens da mulher finlandesa, deixa Gerda na entrada do jardim do palácio da Rainha das Neves, e, esta, sozinha, não enxerga outra saída além da Fé convicta que existia em seu coração: “Então, Gerda rezou o seu Pai-Nosso. O frio era tão intenso que podia ver o seu hálito, que, enquanto orava, lhe saía da boca como uma baforada de vapor. Este vapor foi-se tornando cada vez mais espesso e dele se formaram pequenos e claros anjos, que, mal tocavam a terra, cresciam cada vez mais. Traziam todos capacetes na cabeça e estavam armados de lanças e de escudos. Assim que a menina acabou de rezar o Pai-Nosso, os anjos formaram uma verdadeira legião em defesa dela. Investiram contra os terríveis flocos com as suas lanças e retalharam-nos desfazendo-os em mil pedaços. A pequena Gerda caminhou para a frente, com convicção. Os anjos acariciaram-lhe os pés e as mãos, para que o frio os não entorpecesse. Aproximou-se rapidamente do palácio da Rainha das Neves”.

Sétima história: O que aconteceu no palácio da Rainha das Neves e o que se passou depois

No palácio, Kay jogava um peculiar jogo de construção de figuras. “Friamente, construía figuras surreais. Aos seus olhos, as figuras pareciam-lhe correctas e da maior importância, mas era por causa do grão de vidro que tinha no olho. Compunha figuras que formavam palavras escritas, mas nunca conseguia inventar a palavra que realmente queria encontrar: a Eternidade. A Rainha das Neves tinha-lhe dito: — Se conseguires encontrar essa figura, serás o teu próprio amo; dar-te-ei todo o mundo e um par de patins novos”.

Kay era incapaz de completar o jogo. A Rainha das Neves partiu em uma viagem, e neste momento Gerda entra no palácio e encontra seu companheiro desaparecido. Corre em sua direção, o abraço muito apertado, e chora copiosamente: “– Kay! Querido pequeno Kay, finalmente, encontro-te!”

Ele continuou sentado, rígido e gelado. Então a pequena Gerda chorou lágrimas quentes que caíram sobre o peito de Kay, penetrando no seu coração e fundindo o gelo, de modo que o cruel estilhaço de vidro foi levado pelo gelo derretido.

Deste modo, torna-se clara a metáfora de que o absoluto e incondicional amor são a única arma para derrotar o gelo em seu coração e o estado catatônico em que Kay encontrava-se. Retornaram para sua cidade e, ao chegarem em casa, perceberam que haviam tornado-se adultos.

As adversidades que encontram em sua jornada são uma metáfora para o processo de construção do caráter humano; a lapidação que enfrentam nesta aventura iniciada na infância torna-os adultos fortes e sensatos, que não deixam de manter contato com as suas crianças interiores, pois conheceram tanto os tortuosos e gélidos, quanto os calorosos e belos caminhos da vida, ou seja, adquirem sabedoria e discernimento nesta jornada.

Comparação entre as personagens do conto “A Rainha da Neve” e do filme “Frozen”

Aqui, faremos relações das possíveis semelhanças entre as personagens do conto e do filme.

Começaremos pelos protagonistas, Gerda e Kay, do conto de Andersen. No filme, Gerda seria a Anna, que sai em uma aventura atrás de sua irmã, assim como Gerda vai atrás de Kay.

O Kay não tem uma representação clara e que corresponda fielmente ao papel no filme, mas por associação e elementos como ter um trenó, que é importante para o desenrolar da viagem e ser uma pessoa que se aproxima para fazer o bem à Anna, Kristoff, é quem seria o mais próximo de Kay.

A Rainha da neve é Elsa, irmã de Anna, no filme. Ambas têm um castelo de gelo, não são essencialmente más, mas acabam como antagonistas , pois querem seguir as suas vontades utilizando os seus poderes. No castelo da Rainha da Neve existem os soldados em forma de fractais de gelo, assim como no filme, Elsa cria um monstro da neve para proteger seu castelo.

Representação da Rainha da Neve, de Andersen

O espelho feito pelo duende maligno do conto pode ser representado como Hans, que chega em Arendelle, cidade onde ocorre a trama do filme, apenas para manipular Anna e conseguir o poder da cidade. O espelho manipula os sentimentos das pessoas que ele atinge para o lado da maldade, como ocorre com Kay.

O Olaf, o boneco de neve que foi criado por Elsa e Anna quando ainda eram crianças, e assim tem como função no filme trazer a inocência e diversão ao enredo, pode ter sido inspirada em um outro conto de Andersen, “O Boneco de Neve”.

O Boneco do conto se apaixona por um fogão quente e o Olaf é fascinado pelo verão, ambos não sabem o quão perigoso é para suas existências se aproximar do “objeto” almejado.

No filme, há uma rena, o Sven, que é companheiro desde infância de Kristoff e é um elemento importante na jornada de Anna e Kristoff, assim como há uma rena no conto, a beh, que também ajuda Gerda a encontrar Kay.

No conto, Gerda encontra diversos animais ou seres místicos que a ajudam, no filme existem os trolls que primeiramente ajudam os pais de Anna a curarem o seu coração que fora atingido por um raio de gelo acidentalmente de sua irmã e mais para frente descobre-se que Kristoff faz parte da família deles. Os trolls são figuras bastante populares nos contos de fadas noruegueses, aparecem em outros contos do próprio Andersen.

Por fim, existem duas curiosidades a serem colocadas. A primeira é que o nome completo do escritor do conto "A Rainha da Neve" é Hans Christian Andersen e no filme existem 4 personagens cujos os nomes formam sonoramente o do escritor:

E a segunda é que, no recém lançado livro Disney a autora Elizabeth Rudnick, incorpora os nomes das personagens do conto original, mas em seu livro somente os nomes são os mesmo, as personagens e funções no enredo não. Kai é um ministro do governo de Arendelle, braço direito do Rei e Gerda é uma empregada governanta braço direito da Rainha.

Comparação de enredo entre o conto “A Rainha da Neve” de Hans Christian Andersen e o filme da Disney “Frozen — Uma Aventura Congelante”

Há quem diga que mesmo o filme “Frozen” lançado pela Disney em 2014 tenha sido inspirado no conto original de Hans Christian Andersen publicado em 1844/45 e intitulado “A Rainha das Neves”, ambos não apresentam muitas semelhanças. Um aspecto desse ponto de vista seria dizer que o conto de Andersen tem um teor religioso onde nota-se algumas alusões a Deus e Jesus (pág. 351, 391 etc) enquanto “Frozen” não toca neste tema. Porém, a afirmação de “nenhuma semelhança” é passível de discordância se pensarmos nas seguintes intertextualidades entre as duas obras:

1- A diferença da história de “irmão e irmã”

Os dois utilizam uma versão do tema “irmão e irmã” que também é encontrado em diversos contos de fadas. Em base na teoria demonstrada no livro “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, do autor Bruno Bettelhein, a diferença da história de “irmão e irmã” (“irmão e irmão” ou ‘irmã e irmã”) permeia os protagonistas, normalmente o irmão, apresenta aspectos incompatíveis de personalidade. Normalmente nos contos de fadas, ambos se separam depois de um período inicial onde estiveram unidos, separam-se, mas permanecem unidos durante toda trama por “mágica” ou por “objeto mágico”. Seu enredo pode variar de o irmão aventureiro que padece por ter seguido suas vontades e o irmão caseiro o salva, vivendo depois juntos e felizes. O que essas histórias tem em comum são os traços que sugerem a personalidade dos protagonistas (heróis), enquanto um é mais prudente e tem bom senso não medindo esforços em arriscar sua própria vida para salvar o irmão imprudente que expõe a terríveis riscos.

Esse tema também é utilizado para descrever as contradições dos sentimentos humanos, a necessidade de autoafirmação e independência ao mesmo tempo que querem permanecer seguros no conforto do que já conhecem (lar/pais/família). Somente quando esses sentimentos entram em harmonia e se equilibram é que vemos o desfecho da história.

Tomando como partida o citado acima, vemos no conto de Andersen que Gerda e Kay apesar de não serem irmãos de fato, se consideram dessa forma (Pág. 351 e 360). Gerda está em uma jornada para encontrar Kay, que possivelmente está em apuros. Em Frozen o enredo passa entorno da busca de Anna por sua irmã Elsa. Aqui, vemos a variação do tema citado a pouco. No conto A Rainha da Neve, Gerda é a irmã caseira que salva Kay, o irmão aventureiro. Já em Frozen é Elsa a irmã aventureira que salva Anna, a irmã caseira.

Em a Rainha da Neve, Gerda se mantém unida a Kay pela lembrança das rosas que cultivavam juntos, em Frozen essa lembrança das irmãs que as mantém unidas é materializada na criação de um Boneco de Neve Mágico chamado Olaf.

Elsa e Anna na infância brincando com os poderes de Elsa

2- Tanto no conto como no filme, a Rainha da Neve é uma antagonista

No conto de Andersen, a Rainha da Neve leva Kay consigo, mas não com o intuito de fazer-lhe mal, mas sim para ter um companhia e lhe ensinar. Em Frozen, a Rainha da Neve é representada por Elsa, a protagonista do filme que deseja se libertar e poder ser quem é de fato.

3- No conto e no filme existe um vilão, mas que não é protagonista

Existem os vilões, como o feiticeiro maligno, que produz e quebra o espelho amaldiçoado e Hans, em Frozen. Ambos não correm no enredo principal, são adendos da história que entram quase como coadjuvantes.

4- Relação com o feminismo

Até nesse tema tão polêmico podemos ver semelhanças entre o conto e o filme. Em A Rainha da Neve, além do título do conto ser feminino, é o maior escrito por Andersen. A protagonista/heroína é uma mulher e a maioria das personagens é feminina.

Em Frozen, podemos ver o estereótipo feminino dos contos de fadas e filmes da Disney, sendo quebrado quando as irmãs se sacrificam uma pela outra, sendo esse o “ato de amor verdadeiro” e não o beijo de um príncipe. Também é de se considerar que a personagem, Elsa, é coroada como Rainha sem um rei e permanece solteira/sozinha até o fim da história.

5- Poder “ gelado” que entra nos corações

No conto original é o estilhaço de vidro que entra no coração e na vista de Kay o fazendo ficar ranzinza e congelar seus sentimentos no decorrer do conto. Já em Frozen, é a “magia” ainda não controlada de Elsa que atinge Anna, primeiro na cabeça (deixando uma mecha de cabelo branco) e posteriormente seu coração fazendo-a congelar gradativamente.

Além das já semelhanças citadas acima, também podemos destacar curiosidades como a importância da troca de roupas de acordo com o ambiente nas duas histórias e também ambas as rainhas, Da Neve e Elsa, terem seu próprio castelo de fractais de gelo e neve.

Finalmente, diante dos argumentos citado, preferimos nos posicionar pela maioria de semelhanças e não diferenças nas duas histórias, pois ambas passam a mensagem do amor puro e verdadeiro ser fundamental para salvar quem gostamos do perigo. Em a Rainha da Neve, Gerda chora sobre Kay e o livra dos estilhaços de vidros que estavam em seus olhos e coração, e em Frozen, Anna se põe a frente de Elsa quando Hans tenta matá-la, e logo em seguida, Elsa chora sobre Anna num ato de amor verdadeiro e a salva.

De qualquer forma existem diversas opiniões, inclusive porque esse conto foi bastante adaptado para cinema e televisão. Em As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, quando Edmund é pego pela Feiticeira Branca, é exatamente como ocorre quando Kay é pego pela Rainha da Neve no conto de Andersen. Seguem outras adaptações:

· Série “Contos de Fadas — A Rainha da Neve”. Foi uma série estadunidense produzida em 1982 e durou até 1987, foi criada pela renomada atriz norte-americana Shelley Duvall. Foi exibida no Brasil pela TV Cultura.

· A Rainha da Neve (2012) — Maxim Sveshnikov, Wizart Animation e Inlay Film.

· O Caçador e a Rainha do Gelo (2016) — Universal Studios

Fontes:

· Frozen — Uma Aventura Congelante — trailer [video]

Todos os Contos de Hans Christian Andersen, 2012 [PDF]

RUDNICK, Elizabeth. Frozen: Um coração gelado. Editora Universo dos livros, 2016.

BETTELHEM, Bruno. A Psicanálise dos contos de fadas. Editora Paz e terra, 1980.

A Verdade Sobre Os Contos: A Rainha da Neve

“A Rainha da Neve” (sim, aquele conto que ~inspirou~ Frozen) [video]

Hans Christian Andersen: the man behind the writer [video]

Literatura Fundamental 85: Contos de Hans Christian Andersen — Karin Volobuef [video]

Série Contos de Fadas — A Rainha da Neve — Shelley Duvall (TV Cultura)

Biografia de Hans Christian Andersen, por Educação Uol

A Verdade Sobre Os Contos: A Rainha da Neve

Hans Christian Andersen: the man behind the writer [video]

Literatura Fundamental 85: Contos de Hans Christian Andersen — Karin Volobuef [video]

(Autoria: https://medium.com/@rainhadaneveefrozen/rainha-da-neve-e-frozen-an%C3%A1lises-e-compara%C3%A7%C3%B5es-19f00a44862b)

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Enviado por Violeta Azul em 22/04/2022
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