MÚSICA, ÉPOCA E EXPRESSIVIDADE

Determinadas sonoridades, texturas musicais são características de determinadas épocas. A bossa-nova com aquele som intimista, unpluged - até porque tudo era acústico no início dos anos 60, o som de órgão elétrico das músicas de Roberto Carlos na época da Jovem Guarda (tocado por Wanderley no RC4), o acompanhamento rítmico marcado pela guitarra com "som de lata" marcando o tempo 2 e o 4 (guitarrista do RC4, conhecido como Gato) são características emblemáticas das músicas dessa época.

O solo no meio das músicas conduzido por um saxofone "gutural" (por exemplo a música Wolly Booly) era uma marca pop no início dos anos 60 até o surgimento dos Beatles no cenário musical internacional. A gaita de Lennon pode ser considerada também como um "flag" do som no início da Beatlemania. A levada de Penny Lane , uma espécie de marcha com "triple step" (huum-tcha) e recheada de metais em contra-ponto melódico é uma marca do som dos Beatles e de seguidores no final dos anos 60.

Daí surge o termo "música datada". "Whisky a go go" (Roupa Nova) remete aos anos dourados, não pode ser considerado como um som inovador, uma música do "calibre" de Help ( por exemplo), mas dentro da sua proposta, no meu entender, é uma música que atende perfeitamente a quem gosta do som daquela época. A denominação "datado" não traz em si nenhuma conotação de qualidade ( boa ou ruim).

Se prestarmos atenção nos filmes e fotos de conjuntos/cantores na década de 50 evoluindo no rock ´n ´roll, verificamos que o baixo elétrico não está presente. A levada do baixo (chamada no jargão de "baixaria") fica a cargo do "baixo de armário" (baixo acústico, ou "baixão") que era apoiado pelos graves tocados pela mão esquerda do pianista.

O artista, em última análise, acaba se expressando através dos meios (tecnologia refletida nos mais diferentes itens como - instrumentos, equipamentos, etc.) disponíveis. De acordo com essa observação, Sir George Martin e Geoff Emerick merecem especial destaque na quebra de paradigmas de sonoridade, por terem montado verdadeiras mágicas para sonorizar - gerar um som sem precedentes, mas agradável - "decupando" o som, as texturas sonoras imaginadas, melhor dizendo, "ouvidas nas idéias" de John, Paul, George e Ringo.

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Texto de Luiz Otávio apresentado no curso sobre The Beatles - PUC-Rj

Karpot
Enviado por Karpot em 24/06/2012
Reeditado em 02/08/2022
Código do texto: T3741850
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