Música psicodélica: uma viagem aos confins das estrelas...

O século da música pop foi sem sombra de dúvida o séc. XX. Não precisa ser um grande analista para perceber isso, basta apenas fazermos uma viagem no tempo e todas as evidências nos conduziram a isso.

A inquietude de uma juventude, ansiosa por ultrapassar limites, foi o marco inicial para descobertas de velhos valores até então perdidos pelas gerações passadas. Assim, o “Rock ´n Roll” se tornou o grande veículo para essa retomada de algo que fora há muito perdido e, que até então, se julgava que fosse uma nova dimensão do espirito humano. No entanto, nada de novo era proposto, apenas a inquietude de uma era fez redescobrir o que sempre esteve nos confins do universo, desenhado nas estrelas, nas profundezas dos oceanos, nos silêncios das pedras ou mesmo na majestade das excelsas montanhas do Himalaia.

Desta forma, o Rock foi a fuga perfeita de uma realidade previsível e sem cores. O mundo era pensado dentro dum cientificismo enfadonho, nada mais era capaz de nos poetizarmos ou de nos encantarmos... Afinal, havia resposta para quase tudo ou, senão, alguma teoria explicativa para algo ainda não muito bem definido. E, assim, o tempo nos envelhecia e nem os cabelos brancos eram capazes de contar histórias gloriosas, pois as gerações, daquele presente, preocuparam-se tanto em manter as grandes conquistas do passado que acabaram perdendo o gosto pelas novas conquistas. E, assim, sem se aperceber, o espírito adormeceu, e não fomos capazes de acordar ou de lembrar de nossos sonhos.

Foi, exatamente, por essa razão que o rock veio num volume tão alto e com uma agitação fora do comum. Era um bando de loucos com suas guitarras elétricas amplificadas fazendo um som ensurdecedor, quebrando com a métrica esquadrejada de 90º, até então conhecida dentro da estrutura rítmica musical da época, atropelando, de forma criminosa, as linhas melódicas das canções “boléricas” e líricas de então.

Essa maneira encontrada, de diferenciar-se e marginalizar-se, foi o passaporte perfeito para uma dimensão que fez com que se pudesse chegar a tocar as luzes das estrelas, assim como faziam os antigos. Pois, depois da agitação, o Rock ´n Roll se transmutava duma métrica simples para algo revestido de densidade, trazendo à tona uma linha melódica absorta de mundo que pensava mundos, o chamando rock progressivo. Em que pese ter nascido dentro dos estados alterados de consciência, cujas drogas de peso alicerçaram suas estruturas de edificação.

O Woodstock não foi apenas um festival de rock, foi, literalmente, um divisor de águas, a partir do qual nada mais seria o mesmo, pelo menos da forma até então concebida. O festival foi o clímax de toda essa revolução a qual pôs fim as correntes, que limitavam o processo de expansão de consciência. Veja que antes tínhamos um mundo segregado: de um lado uns poucos, pertencentes às camadas oligárquicas da sociedade, eram livres pensadores e bem sucedidos dentro de suas estruturas de ações. De outro lado a grande maioria esmagadora que não pensava, presa às correntes que a limitava dentro dum mundo relativizado, e esquematizado para um trabalho de construção de um sonho de contos de fadas de um mundo que não era real, e, que jamais se realizaria. O trabalho que não se presta para edificação de uma consciência livre e independente, não é trabalho remunerativo, é apenas trabalho sem sentido e escravo.

Assim, o Woodstock proporcionou uma verdadeira implosão desse mundo ficto, rompendo as correntes morais tradicionalistas de uma época que só proporcionavam evolução pra suas oligarquias. Veja o porquê da oposição tão forte a tudo o que antecedera e que culminaria na realização do Woodstock. Era evidente que aqueles que detinham o poder fariam de tudo para manter a massa acorrentada às rédeas de suas diretrizes. Eram jovens endemoniados, drogados, pervertidos que desencaminhavam jovens ordeiros e inocentes para um mundo de perdição. Era preciso um choque de ordem, todos precisavam ser presos e segregados do convívio da sociedade tradicional...

O Pink Floyd foi um dos grandes arquitetos dessa nova maneira de enxergar o mundo e traduzir o sentimento mais profundo da alma daquela época. Toda introspecção, extraída do estado alterado de consciência, perpassou pelo universo da música, produzindo essa música sinestésica, enriquecida de cores, tons e aromas, que foi responsável por verdadeiras construções arquitetônicas de palácios astrais, principalmente, no que diz respeito aos álbuns The Darck Side of Moon e Wish You Were Here, que muitos consideram ser os dois álbuns obras-primas da carreira da banda. O som aí se tornou mais trabalhado e refinado, com riqueza melódica, com uma densidade hormônica jamais vista em banda de rock o qual era semelhante apenas às grandes filarmônicas, incluindo letras filosóficas e as linhas de baixos mais aparentes de Waters, o estilo único de guitarra de blues de Gilmour e as assustadoras melodias de teclados e texturas harmônicas de Wrigh, ou seja, a participação substantiva de todos os membros do Pink Floyd na arquitetura das composições, nessa era inaugural de The darck side, lançamento com sucesso em massa de 1973, foi o elemento essencial que transformou o Pink Floyd de um excelente grupo musical de rock, em dos mais expressivos fenômenos da música pop contemporânea do séc. XX, com direito a introdução da banda no Hall da Fama do Rock and Roll em 1996. Fenômeno esse conhecido por música psicodélica, que mudou de vez os paradigmas musicais do ocidente. Essa música, até hoje, produz um efeito avassalador, em sede de experiência espiritual, sobre o ouvinte que sente as vibrações das frequências que emanam dela, na verdade, não se pode sequer dimensioná-la, é uma experiência individual que depende da plataforma do estado de consciência em que cada um dos ouvintes se encontra. Sobretudo porque a música psicodélica exige do ouvinte uma disposição de entrega que normalmente é estranha a maioria das pessoas ocidentais, no oriente esse tipo de música já é conhecido desde que o tempo é tempo, saber, ainda, que por intermédio deste canal de transmissão ( música psicodélica) foi possível atingir o “ouvido interno” da consciência transcendental de muitas pessoas jovens e também das mais velhas, é enxergar também neste fenômeno o estopim das mudanças que viriam a reboque nas décadas subsequentes. Não podemos omitir a participação substantiva do L.S.D. neste processo. Porém, o fato mais significativo é que toda essa passagem, pelas dimensões transcendentais das cortinas de luzes das estrelas, nos trouxe avanços significativos dentro da nossa dimensão espiritual. A ponto que, cada um que tenha viajado tão longe, passado por uma experiência tão densa e profunda, é impossível, quando de volta à existência do mundo da concretude, não tivesse voltado com um conceito diferente em relação à vida que o antes já estabelecido. Isso foi sentido, com ressonância bastante consistente, no campo da teosofia, filosofia, sociologia, ciência e, enfim, dentro do campo do conhecimento humano de forma geral.

Veja, o avanço ocorrido no campo científico, em menos de quatro décadas, fez com que conseguíssemos vencer um atraso de quatro séculos, e, ainda assim, não conseguimos chegar sequer perto do patamar científico de nossos ancestrais, que eram densos em sabedoria. Não devemos negar que este processo foi penoso. Muitos milhares de jovens se perderam no espaço, devorados pelos dragões da loucura, e, outros tantos, morreram em consequência de “overdose”, ceifando, de maneira abrupta, futuros de vidas que seriam promissores. Porém, as revoluções são assim mesmo, trazem o “underground” à luz, assim como o arado revolve o lado subterrâneo do solo mais profundo, para trazer à tona o alimento necessário às novas sementes que irão germinar após plantio.

Hoje estamos diante de uma nova consciência, moldadas em antigos parâmetros, que nos permite avançar sem desprezar a identidade que nos faz parte de uma época tão auspiciosa. Trazemos marcas significativas tatuadas na alma com os espinhos da travessia deste processo, entretanto, nenhuma conquista nos chega à praia de nossas aspirações gratuitamente, tudo tem um preço. Temos apenas que avaliar se determinada coisa vale aquilo que se paga por ela.

É notório, nessa nova forma de concepção, conquanto ainda padeça de conceitos morais desprovidos de pré-conceitos que venham dar o justo contorno a essa forma de pensar mundos, a visão densificada de um futuro que nos permita alcançar o conceito moral de nossas almas . Contudo, enquanto os interesses imediatos e a mesmice nos acorrentar ao rochedo da paralisia de um mundo puramente material, sem sentido profundo que justifique o nosso desenvolvimento humano, a música tá aí para isso mesmo. É o tapete mágico voador que nos fará transpor o deserto da escassez espiritual em busca do néctar sagrado de nossa existência.

(Fábio Omena).

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 31/03/2013
Reeditado em 02/08/2015
Código do texto: T4216654
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