Elis e Tom

Elis e Tom de novo no cinema; quase 50 anos depois estamos falando desse disco icônico. Vou ver, sem falta; para quem gosta de música e não disso que infelizmente vêm fazendo hoje, e não só no Brasil; vivemos uma época triste musicalmente e em outros quesitos; não queremos dizer que não se fazem mais músicos assim, mas não há mesmo. Sem fazer comparações, pois não há como, como um país que teve esses ícones , engole uma Anita, um Safadão, um Teló, entre outras coisas medonhas? Vou criar polêmica aqui, mas quero; o gosto é livre, lógico.

Claro, na época havia Waldick Soriano, Odair José, entre outros que tinham uma pegada mais popular. Mas Tom e Elis eram eruditos mesmo? Estava vendo a história do Jazz; ele foi criado pelos negros da Lousiana e do Harlen, nos EUA; o samba surgiu nos morros do Rio; dizem que surgiu na Bahia. A Bossa nova é um misto de jazz com batida do samba.

Não é porque o músico é popular que não pode ser um gênio musical e... tivemos inúmeros no samba tradicional, no jazz americano. Claro que Tom estudou piano com diversos professores, fazia arranjos incríveis; era algo mais sofisticado, que o baiano João Gilberto elevou a um nível artístico de reconhecimento internacional. Dizem que eram frescos, e eram, e muito, principalmente o João Gilberto. O sujeito tocar no Carnegie Hall o coloca num patamar acima das nuvens, mas... tinham do que se gabar, como a amizade de Tom com Sinatra, que gravou várias de suas músicas. E há aquela música de que o povão gosta, sem desprezar, mas acontece que atualmente só há o segundo gênero, que vende bastante, sempre vendeu, muito mais que a Bossa Nova, Tropicália, Mutantes, MPB.

Elis e Tom reunidos num disco gravado em Los Angeles, com Cesar Camargo Mariano fazendo os arranjos. Juntar três gênios não foi fácil. O gênio é temperamental; Beethoven era desagradável, mal educado, Mozart era brincalhão e desleixado, mas fizeram o que fizeram; podiam ter seus repentes; Elis era difícil, mas gravava uma única vez, e dava um show de interpretação. Tom era brilhante; um dos maiores músicos da história,autor de Garota de Ipanema, com Vinícius, conhecida no mundo todo.

Imagino o que aprontaram na gravação desse disco; Elis ameaçou de ir embora. Os Beatles também brigavam na criação dos álbuns; era muita genialidade junto. O gênio é alguém como qualquer outro, com a diferença que ele chega lá e faz, pode resmungar, brigar, mas ele pode.

Só Águas de Março já vale o disco; só mesmo o genial Tom pegaria uma situação de uma reforma num sítio, um papel de pão e transformou "pau, pedra, o fim do caminho" em uma obra-prima. Minha mãe adorava essa música na voz de Elis; via na tv e dizia que só ela cantava essa música, que é muito difícil. No fim as frases nominais, sem verbo:"pau, pedra, caminho, resto, toco, um pouco sozinho". São coisas triviais, mas ditas da maneira certa, soam como uma ópera.

E termina com "São as águas de Março fechando o verão, é promessa de vida no seu coração..."- uma rima pobre que termina com uma mensagem otimista, no ritmo, no som. O que teria acontecido depois? Um futuro promissor, que sempre há de vir.

E há Chovendo na roseira... música linda; nem preciso dizer mais!