ATÉ AS PEDRAS CAMINHAM

O universo é lotado de corpos que viajam perenemente. Têm orbitas descritas e as seguem, interferindo às vezes nas órbitas de outros astros. Por vezes chocando-se.

O universo parece muito com o corpo humano quando olhamos por um microscópio. A flora de bactérias, leucócitos, hemáceas junta-se aos órgãos e a tudo aquilo que os compõem para formar um complexo idêntico ao meio lá fora.

Se analisarmos a atmosfera terrestre, com ar, bactérias e organismos maiores, teremos a mesma comparação com nebulosas, poeira cósmicas, supernovas, planetas, estrelas que unidos fazem o espaço sideral se parecer com o mundo planetário terrestre e o interior de cada molécula que existe nele.

E o que é mais notável: todo o mundo se movimenta. Todos estamos em movimento: elementos químicos, que são os mais fáceis de percebermos sua movimentação, astros vagantes no universo (todos eles), a água, o ar, os animais terrestres, as pessoas, as plantas e as pedras.

As pedras? Sim. Mesmo a mais dura, fria e arraigada pedra, que nos parece estar sempre solitariamente no mesmo lugar, está em movimento. Isso porque a Terra se move no espaço e assim tudo o que ela envolve vai junto nessa viagem que ela faz. Parece com o coração humano. Ele está fincado no interior do nosso peito, mas onde vamos ele vai junto.

Compreendendo que o microcosmo e macrocosmo são cópias um do outro, cheios de elementos que são afetados pela movimentação de um corpo maior, como os grãos de areia dentro de uma peneira que um peneirador sacode, podemos compreender que uma vida implica na outra e que todos estamos lincados.

De alguma forma eu dependo do seu movimento para eu me movimentar e vice versa. Eu dependo de você e você de mim. Eu e você dependemos do movimento terrestre. Eu e você estamos dentro de uma peneira que alguém gira. Podemos bater um no outro.

Então, por que apenas não nos manifestamos na existência? Por que não ficamos à mercê da natureza, a nos movimentar com sabedoria, a promover encontros e a criar felicidade para quem simplesmente experimenta essa viagem com consciência, sem querer atuar demais?

Quando o homem resolveu fundar civilizações ele limitou-se a uma vida bem menos interessante do que a que a arquitetura do universo propôs e ainda propõe. A gente tem que seguir agenda, ritos e rituais, obrigações, leis antinaturais. E é esse desvio da natureza que nos faz infelizes. A liberdade não está em ser socialista ou capitalista, cético ou religioso, intelectual ou néscio. A liberdade está em ser capaz de se isolar da vida estabelecida como a social, como se ela não pudesse ser vivida de outra forma, e voltar a seguir o ritmo do universo. Tal qual a consciência criadora fez para a gente seguir.