CINQUENTENÁRIO DA BELÉM-BRASÍLIA

Sérgio Martins Pandolfo*

Brasília de JK
feiticeira cinquentona
com Belém do meu Pará
unida pela estradona

SerPan


Não consigo entender, menos ainda aquietar-me, ante a quietude, indiferença, marasmo mesmo que sabe a ingratidão, ausência total de movimentação, de manifestação, de aplauso ou satisfação, demonstrado por nossas autoridades, parlamentares assim estaduais como municipais, pelo cinquentenário de abertura da rodovia Belém-Brasília, a estrada de integração nacional - diria melhor -, de interação nacional que ao nos unir ao restante do País, tirando-nos do amplissecular isolamento, em intervenção equivalente ao da abertura dos portos da Amazônia à livre navegação, propiciou-nos o trânsito fácil das pessoas nos dois sentidos e a troca franca das riquezas de aqui pra lá e de lá pra cá.
A Belém-Brasília que nasceu da idéia luminosa de um mineiro que se fez parauara do grão, Waldir Bouhid, imediatamente assimilada e aceita por outro mineiro de têmpera excepcional, o imorredouro presidente JK, dínamo propulsor dos dois gigantescos empreendimentos que mudaram a face e as entranhas do País, executados ambos, diga-se, com a velocidade de um mandato, está aí: concluída, amodernada, e agora, à feição do Guamá e do Tocantins que ela transpõe, esgalhada de ramos vicinais frutificados.
A participar de um congresso estive em novembro passado na hoje viçosa e buliçosa capital federal e fiquei admirado e feliz ao tomar conhecimento da programação de toda a sorte: esportiva, cívica, cultural, oficial ou popular estabelecida e que vem sendo seguida, em alusão e regozijo ao meio século de existência de Brasília; mesmo a despeito da situação política de exceção, com a cassação do governador eleito e a profusão de denúncias de corrupção na esfera executivo-parlamentar, nada foi suprimido ou modificado. É tudo alegria e comemoração pelo hemicentenário da capital da República, alçada já, em tão pouco tempo, a uma das mais importantes do País e do mundo, assim que fez por merecer, inclusive, o honroso título de Patrimônio da Humanidade.
E a nossa B-B, que sem ponta de dúvida foi a segunda obra de primeira grandeza do “presidente-furacão”, que ao deflorar a floresta virgem e havida como impenetrável até aos raios do sol, tornando-se na “espinha dorsal do País”, como a apelou o engenheiro-mártir Bernardo Sayão, tirou-nos da maldição do isolamento, deixando para trás da Amazônia somente as lendas e fantasias e deu-nos a verdadeira condição de cidadania brasileira, que é hoje uma das principais rodovias nacionais, braço setentrional da Transbrasiliana que une o extremo norte – Belém – ao extremo sul – Bagé – por que não está a merecer, igualmente, a mesma cumulação de honrarias?
Não consigo entender e muito menos calar e vou bem mais além: JK, o empreendedor-mor dessa desassombrada empreitada, que em todos os rincões do território nacional mereceu, de alguma forma, o reconhecimento de suas obras e manobras, aqui, justamente na cidade que ele mais beneficiou, que ele dadivou com um somatório de trabalhos, realizações e organismos, tais quais a UFPA, a reabertura e posterior reconhecimento da Escola de Química Industrial do Pará, a duplicação das vagas do curso de Medicina, a terminação e determinação para logo funcionar do Hospital Barros Barreto, uma “obra de Santa Engrácia” que se arrastava havia mais de trinta anos, está esquecido dos parauaras. Nada aqui lhe lembra o glorioso nome. Até mesmo o mirrado busto, sobreposto em baixo e rudimentar pedestal que fora erguido no início da Av. Almirante Barroso - que era, então, o início da Belém-Brasília -, desapareceu daquele canto e de encantos se perdeu, como diria o poeta. Não, senhores da decisão e da fortuna, temos que consertar isso e, já para começar, vamos concertar, todos juntos, que tipo de reconhecimento dar a JK nesta terra a quem ele tanto deu, afinal, “O pecado da omissão é um pecado que se faz, não fazendo", pregou Vieira em seus sermões.


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(*) Médico e Escritor - ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 15/04/2010
Reeditado em 06/07/2011
Código do texto: T2198397
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