RETALHAR A PARAUARALÂNDIA?

                                Sérgio Martins Pandolfo

   Desta Parauaralândia / não se vá cortar o chão; / queremos sim que agrande-a / nosso trabalho e ação.
            SerPan

        Parauaralândia é a terra natal dos parauaras, os que provieram das águas do rio-mar, do "gram-Pará", do linguajar tupinambá. E os parauaras temos imenso amor, orgulho e arraigado sentimento de posse de nossos domínios terreais. Velho brocardo popular, mas sempre atual, adverte: mexa com a mulher do cidadão, mexa com seu dinheiro, mexa até com sua moral, mas não mexa com sua terra, sua propriedade.
         Durante os já recuados tempos da colônia havia então duas grandes possessões portuguesas, o Estado do Brasil e o Estado do Grão-Pará e Maranhão, independentes entre si, ligados diretamente à sede da Coroa. Com o advento da Independência e a consequente formação do Estado brasileiro, começou a faina de subtração de áreas do Grão-Pará para a constituição de outros Estados.
         O caso mais recente é o do Amapá, que os paraenses duramente souberam manter por tanto tempo contra as investidas francesas (que queriam agrandar suas terras dalém-mar, representadas pela Guiana Francesa), em favor do Patropi, inclusive com a conquista de Caiena por tropas paraenses e a subsequente anexação da Guiana em 1809.
         Em 1943, a propósito de desenvolver aquelas terras, auspiciado principalmente pela exploração do manganês, de que eram fartas, por uma empresa americana, a União criou o Território Federal do Amapá. O manganês se exauriu, não mais restando um metro cúbico sequer, e no Amapá, fatia nossa subtraída, ficaram somente os covões subsequentes à extração do minério, um remanescente de “cidade-modelo americana”(?!), à feição de nossas Belterra e Fordlândia, e uma estrada de ferro sucatada.
         De Território Federal passou a Estado aquando da Assembléia Nacional Constituinte, que assim dispôs em 1988. Somente nos últimos anos, com a instalação da Zona Franca de Macapá - independente, portanto, de sua condição de unidade federativa - é que nossos irmãos amapaenses começam de sentir os primeiros eflúvios de algum progresso e desenvolvimento. Vê-se, cristalinamente, que a solução não é retalhar, mas, ao revés, unir para crescer. Em todos os sentidos.
        Agora, a intentona contra nossos pagos é maior e mais cruel. Querem nos levar a maior parte do nosso território, com a solerte aleivosia de que é preciso dividir o Estado para levar desenvolvimento às regiões do Tapajós e de Carajás. Argumento baculino de que se servem, lastreado no surrado aforismo que vem dos romanos: dividir para dominar. Como sabido, a derrocada do Império dos Césares foi precipitada com a divisão do todo em Império Romano do Ocidente, com sede em Roma e o do Oriente, com a capital em Constantinopla, hoje Istambul.
         A História e os exemplos recentes mostram exatamente o contrário e a sabedoria popular, que se diz ser a voz de Deus, sempre previdente e precisa, já adverte: a união é que faz a força. Até nos negócios particulares e nas grandes empresas, não é a segmentação, mas a aglutinação que as faz crescer e tornar-se fortes. Vemos isso todos os dias com as multinacionais, que se aliam ou ajuntam-se sob o manto de uma “holding” para conquistar mercados e mais lucros. Portanto, onde está a coerência?
         O Estado do Pará que ostenta hoje uma economia forte e em ascensão, com sua tripartição não passará de “uma trinca de estadinhos”, equiparados aos mais pobres da União. Quem quer de fato isso? Somente os arrivistas aproveitadores que aqui chegaram, como se diz, “com uma mão na frente e outra atrás”, foram bem recebidos, foi-lhes dada a oportunidade de crescerem, mas, como não têm envolvimento sentimental de naturalidade, de parauarismo, e visam somente o crescimento de seus próprios interesses, tentam embair a boa-fé de nossa gente com caraminholas e o pseudoargumento da divisão territorial.
         Antes o Pará, tido como “Inferno Verde” ou mesmo o "Verde Vagomundo" de Bené Monteiro não era atrativo e vir para cá implicava castigo ou penitência. Agora, que se fez grande e promitente, passou a ser o "El Dorado", cobiçado e disputado. Mas o povo parauara saberemos dar, a tempo certo, a resposta crua, altissonante: Não à retalhação da Parauaralândia!
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(*) Médico e Escritor. SOBRAMES/ABRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 19/05/2010
Reeditado em 09/07/2011
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