FUNDAMENTAÇÃO PARA A CONCESSÃO DO NOME “PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK” A UM LOGRADOURO OU MONUMENTO DE BELÉM

           Sérgio Martins Pandolfo*

     Brasília é, sem ponta de dúvida, a realização mais conhecida e proclamada do grande presidente Juscelino Kubitschek, que mereceu o reconhecimento inclusive da UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. Todavia, os nascentes e viventes na Amazônia brasileira, essa tão falada quanto desconhecida região, que por sua portentosidade e riquezas de suas entranhas desperta a cobiça e a cupidez das grandes potências mundiais, podem afirmar, sem nenhum receio de incidir em impropriedade, que a construção da Belém-Brasília, hoje totalmente implantada e funcionante, sua segunda obra de primeira grandeza e que de fato integrou a Amazônia ao Brasil, antes só precariamente cumprida por água e ar (barcos e aviões), foi sim obra da mesma enorme grandiosidade que a construção de Brasília, tendo em vista que a sua megaextensão de 2.200 km fora rasgada em mata virgem, densa, inóspita e caprichosa, atravessando áreas alagadas e volumosos cursos d’água, com todos os perigos (que incluía doenças novas, incertas ou não-sabidas) que isso representava, tirando-nos de um isolamento secular do restante do País.
     Antes de mais nada Juscelino foi médico de excepcional zelo e proficiência, trabalhando como tal por cerca de treze anos, até se deixar picar pela mosca azul da política, em sua mais digna e salutar expressão. Suas obras, feitos e realizações foram tantos e tamanhos que seu governo ficou carimbado como “a Era JK” e teve a fortuna, até, de mudar o ânimo e o humor dos brasileiros. Seu dístico “50 anos em 5”, consubstanciado em um Plano de Metas ambicioso e arrojado, foi plenamente cumprido e até ultrapassado, eis que até hoje segue produzindo frutos e grandezas para o País. E mais: Nonô, terno apelido da infância, foi um estrito seguidor dos ideais democráticos e um conciliador por princípios e decisão. Algo difícil de se ver então e mesmo nos dias de hoje.
     Mas foram duas obras, principalmente, que marcaram indelevelmente seu governo e frutificarão para sempre. A construção de Brasília, em pleno cerrado do Planalto Central, ungida como capital da República, mudando a sede das decisões nacionais para ponto equidistante deste imenso pernil brasílico. A capital da esperança irá completar, em 2010, cinquenta anos de fundação, inaugurada que foi a 21/04/1960. Brasília está consolidada, pujante, flamante e hoje deixa a todos extasiados ao constatar a grandiosidade, a beleza e as características únicas de seu traçado e malha urbanísticos. Grandes solenidades estão previstas ao longo deste ano para comemorar a data e homenagear o seu fundador.
     Paralela e contemporaneamente, a abertura e viabilização viária da estrada de integração nacional - a Belém-Brasília, tida por inexequível, que ajuntou, na plenitude, o Norte com o restante do País - não fora ele “o artista do impossível”. Foram ambos trabalhos hercúleos, só conseguidos em razão da determinação, denodo e força de vontade desse grande, quiçá o maior, estadista brasileiro.
     Os nortistas, e em particular os parauaras e belenenses de mais de 50 anos sabem muito bem como eram as condições de abastecimento e de reciprocidade com o restante do País naqueles já recuados tempos. Por isso que para nós JK se afigura como o maior mandatário que esta Nação já teve e como o Presidente que indubitavelmente uniu a Amazônia ao restante do Brasil. E todos que os que aqui nasceram ou pra cá vieram desde então puderam constatar o grande impulso que tomou nossa cidade, nosso Estado e a Amazônia na sua inteireza após essa ligação franca com o restante do País e das obras grandiosas desse grande brasileiro.
      Como memória e gratidão são artigos raros, é bom lembrar que nossa terra deve muito a JK. A construção da Belém-Brasília nos torna, pela coragem do empreendimento, eternamente devedores de JK. Aliás, foi ele quem quis que a estrada se chamasse Belém-Brasília e não Brasília-Belém. A idéia era valorizar o Norte. Para nós, esta foi sua obra magna, a mais arrojada e desafiadora, porque rasgou a floresta virgem e por ter anexado, na plenitude, a Amazônia ao Brasil, garantindo para o País sua ordenada utilização e exploração (no bom sentido, obviamente), sua posse real. JK foi, sem ponta de dúvida, o presidente da República que mais fez – precipuamente no que tange à saúde e educação -, por esta maltratada, deslembrada, mas aguerrida Parauaralândia, máxime por Belém, a quem dedicava especial atenção e desvelo, haja vista que já em 1957, primórdios de seu governo, criou a Universidade Federal do Pará, de que tanto nos ressentíamos e, no ano seguinte, dobrou o número de vagas na Faculdade de Medicina a instâncias do alunado. Inaugurou e pôs a funcionar o Sanatório “João de Barros Barreto” (hoje HUJBB, ligado à UFPA), cuja construção se arrastava sem solução, tal “obra de Santa Engrácia”, havia décadas. Em 1968, ditadura plena militar, por unanimidade e reconhecimento foi escolhido Patrono da turma de Medicina. Através da SPVEA possibilitou a reabertura, em 1957, da Escola de Química Industrial do Pará, desativada havia cerca de trinta anos, reconhecendo-a por Decreto, em 1959, que mais tarde (1963) passou a integrar a UFPA.
Malgrado todos os benefícios que essa colossal e redentora via de tráfego nos propiciou, mormente para Belém, ponto fulcral de seus préstimos e outras tantas obras que aqui deixou, o “presidente bossa nova”, como o cantou Juca Chaves, o médico que curou o Brasil do marasmo e da sonolência, quiçá da inanição de que estavam possuídos seu solo e seu povo, é penoso, mas imperioso dizer, nada aqui se vê que homenageie o diamantino Nonô. Nenhum logradouro ou edifício público, uma escultura, nada! Até um modesto e diminuto busto que encimava tosco e acanhado pedestal, assentado no início da Av. Almirante Barroso de lá sumiu, ninguém sabe, ninguém viu, como diz a canção.
     Numa terra em que entes forâneos nacionais e até estrangeiros de duvidoso merecimento (alguns mesmo a maleficiaram) nomeiam praças, vias e viadutos, raia pelo absurdo o desamor, a indiferença, quase ingratidão de seus filhos por seu benfeitor maior. Uma nova artéria de tráfego de grande fluência, preferentemente ligando Belém à BR, que foi, anos passados, parte da Belém-Brasília; uma nova praça, um edifício público de expressão, um monumento estatuado, um obelisco à feição do de Brasília, um portal. Algo que nos faça relembrar nosso integrador, o estadista JK. Corrijamos esse desleixo intolerável que macula nossos brios de urbanidade e reconhecimento, unamo-nos aos festejos do cinquentenário de Brasília, que corresponde quase ao da implantação de nosso estradão; homenageemos seu fundador JK (que foi cantado e louvado no Rio de Janeiro pela Beija Flor no Carnaval de 2010) senhores legisladores e administradores, dando seu honrado nome, por exemplo, ao prolongamento da antiga Primeiro de Dezembro (atual João Paulo II), preferentemente; ou ao Pórtico Metrópole, em fase de acabamento; ao novo Portal da Amazônia, em construção; ou ainda - e por que não? - ao complexo do Entroncamento ou mesmo a um viaduto do Ação Metrópole. Mãos à obra, senhores! Faça-se justiça!!

Na foto acima Waldir Bouhid, com seu sorriso franco e bigode caracteríostico, à frente da Caravana de Integração Nacional recebe o presidente JK, na boleia de um Romi-Iseta, marcando o encontro das frentes para a inauguração da Belém-Brasília.
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(*) Médico e Escritor.SOBRAMES/ABRAMES.
Do Instituto Histórico e Geográfico do Pará - IHGP
Email: serpan@amazon.com.br - sergio.serpan@gmail.com
www.sergiopandolfo.com

Notação: Texto fornecido ao vereador Fernando Dourado a fim de embasar projeto apresentado â Câmara de Vereadores de Belém com vistas à homenagem acima proposta
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 06/08/2010
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T2422039
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