O tênue fio que separa a boa crítica do despropósito


Tenho me manifestado politicamente no Recanto.Ora através de meus modestos textos, ora através de comentários em textos alheios.Gosto de política e procuro estar por dentro do assunto.Como educadora que sou e por considerar o próprio processo educacional como um processo político, nunca consegui ficar de fora dos debates, nem deixar de acompanhar a nossa trajetória democrática.Sou uma ferrenha defensora da democracia e prezo sobremaneira todos aqueles que, mesmo de forma incipiente, colaboram para o seu desenvolvimento.
Mas o assunto deste artigo tem um propósito que difere de outros que já postei aqui.Vou me atrever a mais uma vez fazer o papel de advogada do diabo, ou, simplesmente, ficar na contramão das opiniões deixadas aqui no Recanto pela maioria.Vou defender o que muitos acham indefensável: o Presidente Lula.
Nunca antes na história deste país um presidente foi tão achincalhado, tão ridicularizado pela mídia em geral.E isso desde os tempos de candidato.Alguém se lembra da famosa capa da revista Veja que tem o presidente de costas, com os fundilhos marcados por dois pés enormes? Pois é.Eu nunca me esqueci dessa edição.A metáfora era clara demais, não exigia legenda nem para os mais ignorantes.E os emails que circulam na internet? Lula serviu de matéria-prima para um verdadeiro circo de horrores como nenhum outro político serviu em tempo algum da história.Pelo menos que eu me lembre.E o pior que a oposição raivosa não se limita tão somente a expor sua opinião (algo bem saudável numa democracia).Ela ACREDITA realmente que só o povão que se beneficia dos programas sociais do governo votaram ou votarão no Lula.Aí que entra o tal do reducionismo grosseiro, a tal da arrogância, que nivela por baixo qualquer situação.Eu me considero uma pessoa politizada, convivo também com muitas pessoas que o são.O meu círculo de amizades vai do porteiro do meu prédio, passando pela minha faxineira e pelos auxiliares de serviço da escola onde trabalho, além de professores, doutores, artistas, e aí vai.Aprendi e continuo aprendendo a lidar com a diversidade de pensamento e de opções ideológicas.E confesso que não é tarefa fácil.Mas acredito que vale a pena trilhar esse caminho.Daí meu protesto ao ler aqui no Recanto textos que apontam apenas os retrocessos, os escândalos do atual governo.
Como professora, me senti feliz ao perceber que alguns de meus alunos de escola pública conseguiram ingressar em uma faculdade.Alguns pelos seus próprios méritos, outros via PROUNI. Lembro-me particularmente de uma aluna que, ao saber que ia fazer o curso de seus sonhos numa universidade famosa, disse: Vou me dedicar ao máximo.Serei a melhor aluna da turma, professora! Todos vão se orgulhar de mim!Assim como essa garota, tive a satisfação de compartilhar a alegria, o entusiasmo com outros que se beneficiaram do programa do governo e se dedicaram ao máximo.Alguns já estão atuando no mercado, outros continuam buscando um lugar ao sol.Não me recordo de nenhum outro governo que tenha investido tanto em educação.E todos os outros eram PHDs em alguma coisa.
Diariamente recebo em minha caixa de correio coisas absurdas a respeito de Lula.Outras piores ainda a respeito de Dilma Roussef.Até a demonização dela está bem semelhante ao que fizeram com o presidente ainda candidato.Alguém se lembra da frase da Regina Duarte? Ela tinha muito medo e muitos compartilharam desse medo.Dilma é vista como assassina, guerrilheira, sapatão, epítetos esses que um cidadão verdadeiramente politizado não usaria.O embate deve se pautar pelas idéias, pelos programas de governo e não pelo viés da vida pessoal ou pelas afirmações levianas.Isso é conspurcar a democracia.
Quero continuar tendo o direito de votar em quem eu quiser.Votei quatro vezes em Lula e não me arrependi.É claro que não sou idiota e sei dos descaminhos que o PT tomou e quanto o Presidente errou.Como os milhões de brasileiros que votaram ideologicamente em Lula, também me frustrei, perdi noites de sono com os escândalos. Mas transformá-lo em demônio, em chefe de quadrilha é demais para minha cabeça.Antes os opositores do seu governo o consideravam um inepto, um capacho de José Dirceu, do Palocci e de outros.Depois passaram a chamá-lo de pulha, de homem que tem parte com o demo, que tudo arquiteta, que domina todo o partido.É o que sabe de tudo e finge o contrário.E o mais engraçado é que, ao mesmo tempo que atribuem ao Lula todas essas qualidades sobrenaturais ,continuam lhe dando o título (?) de analfabeto.O adjetivo passou a fazer parte de seu nome, claro que somente para aquelas pessoas que desconhecem o real significado da palavra.Para o pensamento burguês e classemediano que domina boa parcela da sociedade, uma pessoa sem diploma é invisível ou deve se manter longe da esfera do poder constituído, daí esse ranço , essa raiva, esse preconceito em relação ao atual presidente.Não é assim?
O que gostaria de ressaltar é que a crítica dever estar a serviço da informação, da construção de uma nova possibilidade, não com a execração pura e simples de um candidato.Acho que as pessoas que estão insatisfeitas com o atual governo deveriam mostrar as qualidades do candidato que defendem, falar de sua trajetória, de seu compromisso com o país.Assim, o povo teria oportunidade de comparar qualitativamente e fazer uma boa escolha.Até agora, no cenário que se apresenta, com José Serra representando um PSDB que sempre foi muito mais dividido que o PT com todas as suas facções, que acredita que o Brasil se resume ao estado de São Paulo; uma Marina Silva com imensas qualidades,mas que possui um discurso esvaziado ,pois se limita a falar apenas nas questões ecológicas; um Plínio de Arruda Sampaio, que ainda está preso a um discurso de esquerda ultrapassado, apesar de sua brilhante inteligência e uma Dilma que, apesar de inexpressiva, conta com o total apoio de um presidente que termina o seu mandato com um índice altíssimo de popularidade, não é difícil fazer uma previsão do resultado das urnas.
Quanto à corrupção endêmica que assola o país, serão necessárias várias gerações, várias frentes de luta para mudar o sistema político brasileiro como um todo.As nossas instituições já estão viciadas.No modelo que aí está até se um santo for eleito ele se corromperá rapidinho.É preciso fazer proposições, é preciso incluir Política e Cidadania nos currículos escolares.Só assim, com o povo mais participativo e a longuíssimo prazo, a Brasil se tornará uma verdadeira democracia.Até lá, a gente vai fazendo a nossa parte, tentando apontar os erros, fazendo o que deve e o que pode ser feito, enfim, exercendo da melhor maneira a nossa cidadania.

 
amarilia
Enviado por amarilia em 12/09/2010
Reeditado em 09/04/2013
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