DEBATE ELEITORAL - MAIS INSOSSO DO QUE MOUSSE DE CHUCHU

Época de eleição é tempo de debate político. Oportunidade para os candidatos emitirem suas opiniões, se exporem e apresentarem suas propostas, certo? Errado. Na maioria dos debates ocorridos desde a redemocratização do País, seja para governador ou presidente, o que vimos foram trocas de acusações, baixarias, números mirabolantes jogados no ar ("milhões de empregos gerados", "trilhões de casas populares entregues", etc.) e promessas e mais promessas. Nada mudou na atual disputa presidencial. Quando tinhamos quatro candidatos participando, o debate ficava polarizado entre os dois primeiros colocados nas pesquisas. Agora que ficaram só os dois, a lenga-lenga continua a mesma. De um lado o candidato com figurino de manequim de funerária, do outro a candidata tele-guiada, tão simpática quanto um pitbull estressado. Durante mais de 2 horas, os assuntos importantes são deixados de lado e dão lugar às acusações mútuas. Denúncias e mais denúncias que nunca serão apuradas porque todos têm algo a esconder. Os temas discutidos são sempre os que têm maior apelo popular e não aqueles que realmente têm importância para o futuro do País. E dá-lhe aborto, liberdade religiosa, casamento gay. O bolsa-família, talvez o maior programa eleitoreiro da história do Brasil, ganha ares de prioridade número um. Parece que o Brasil não tem outros problemas, que nenhuma criança morre de subnutrição, que não se vendem drogas nas escolas, que os políticos não desviam verbas, que o salário mínimo não é ridículo, que os hospitais públicos atendem o povo com eficiência, que as aposentadorias (exceto a dos senhores parlamentares) não são indignas. Enfim, problemas não faltam. Durante muitos anos boa parte dos políticos clamou por liberdade e reivindicou espaço para exprimir suas opiniões. Mas agora que o espaço está disponível, eles o desperdiçam. O mais triste é perceber a conivência das emissoras de televisão que promovem os debates. Os temas são escolhidos pelos partidos e os candidatos fazem perguntas apenas entre si. E no final tudo se ajeita, todos saem satisfeitos. Os candidatos porque só responderam aquilo que lhes interessou, sem se comprometerem. E as emissoras porque cumpriram com a sua obrigação e vão alardear coisas do tipo "fizemos a nossa parte ajudando o povo a escolher seu candidato, mostrando mais uma vez a importância do papel da TV dentro do regime democrático". Pura mentira. Como alguém vai se decidir por um candidato baseando-se apenas no monte de baboseiras que eles falam nos debates, nas acusações e nas perguntas não respondidas? Por que o povo nunca participa dos debates? Por que a TV, que abre espaço para a participação popular em mediocridades como o big brother e a eleição das famélicas "Garotas do Fantástico", não abre esse mesmo espaço para o telespectador nos debates? Numa época com tantos recursos tecnológicos disponíveis, principalmente o amplo acesso à internet, o debate na TV continua na Idade da Pedra. Nada mudou nos últimos vinte anos. A política (e a imprensa televisiva) continuam ignorando essa evolução. Eles não querem saber, por exemplo, o grau de satisfação do eleitor com a extorsiva carga tributária atual. Por que será que nenhum dos dois candidatos aborda o tema? Será porque o governo anterior elevou os impostos de maneira abusiva e o governo atual não só manteve a receita como a aprimorou? Este é apenas um dos assuntos evitados pelos candidatos, com a conivência da TV. Só o mediador do debate e os candidatos têm direito a se manifestar. Por que será que eles não querem ouvir as perguntas do povo, ao vivo e em cores? Mesmo que não houvesse tantos recursos, seria fácil permitir a participação do eleitor. Algumas pessoas poderiam se inscrever para assistir aos debates na platéia, com direito a sorteio para fazerem perguntas. Até as transmissões de futebol agora permitem que o torcedor faça perguntas ao vivo durante os jogos. Mas nos debates, nada disso acontece. Esta é a democracia brasileira, tão decantada pelo atual ocupante do Palácio do Planalto. Uma democracia que ignora a opinião popular, quando essa não lhe convém. Seus amigos "democratas" Chavez, Fidel e Ahmadinejad devem estar com inveja.

Se cada povo tem o governo que merece, pelo menos uma parcela do povo brasileiro deveria ter direito a governantes sinceros e comprometidos com os problemas da Nação. A julgar pelo papo-furado dos debates, não será nos próximos quatro anos que isto ocorrerá. Como diria o capitão Nascimento (agora coronel): um dia isso muda, mas até lá muita gente inocente ainda vai sofrer. Será que precisaremos de um coronel Nascimento para moralizar a política brasileira? Com tanto fanfarrão, vai faltar saco plástico...