O escândalo do Banco Panamericano - ou: o governo federal e os banqueiros num abraço de afogados...

O escândalo do Banco Panamericano - ou: o governo federal e os banqueiros num abraço de afogados...

O Banco Central é obrigado a cuidar da saúde do sistema bancário. Tem agir de forma adequada no momento certo. Dependendo das circunstâncias, tem de decretar a liquidação da entidade bancária. Como contrapartida do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional - PROER (que impediu a bancarrota do sistema bancário brasileiro, no governo FHC), as entidades do sistema bancário foram obrigadas pelo Banco Central a criar um outro fundo, chamado Fundo Garantidor de Crédito - FGC.

E para que serve o FGC? O site do Banco Central informa que ele "é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que administra um mecanismo de proteção aos correntistas, poupadores e investidores, que permite recuperar os depósitos ou créditos mantidos em instituição financeira, em caso de falência ou de sua liquidação. São as instituições financeiras que contribuem com uma porcentagem dos depósitos para a manutenção do FGC."

Prestem atenção na ordem das pessoas a serem progetidas: primeiro, os correntistas, em segundo lugar, os poupadores e, por último os investidores.

E, percebam que o FGC só pode ser usado no caso de falência ou liquidação (mais a "Recuperação Judicial", prevista no novo Código Civil).

Mas, vejam bem que, desde que os petistas assumiram o governo federal, as coisas nunca são o que aparentam - o que se diz, nunca representa o que, de fato, ocorre.

Historicamente, a CAIXA sempre foi uma entitadade cujas atividades principais eram, nesta ordem, a captação de poupança popular e, a operação de recursos financeiros destinados ao financiamento de moradia (dita) popular.

Mas, de repente, alguém, do governo ou, da própria CAIXA, teve a genial idéia de criar um fundo de investimentos da Entidade. E, o primeiro investimento foi no Banco Panamericano, de propridade de alguém, que tinha uma emissora de televisão - nada menos que Sílvio Santos.

O Banco Panamericano tinha sido objeto de auditoria do Banco Central, que emitiu um sinal vermelho, a respeito. O pessoal da CAIXA, estranhemente, não viu o sinal de alerta - e, adquiriu quarenta e nove por cento das ações do banco "micado", enfiando numa poça sem fundo, quase três bilhões de Reais.

E aí, veio o escândalo. E então, o FGC compareceu, para tentar segurar a onda, sem que tivesse sido decretada a falência, liquidação ou recuperação judicial do banco em questão. Parece estranho. E é.

A operação do FGC - sem a presença da liquidação do banco, foi realizada, em minha opinião, com um único objetivo: livrar a CAIXA do fiasco, salvar o rabo da sua diretoria e, evitar que a lama do escândalo respingue no governo.

Vejam como é interessante como se articularam o poder público e, a tal da “iniciativa privada”, nesse caso: primeiro, pegaram dinheiro de um fundo constituído por uma entidade pública e, enfiaram no cofre de uma empresa praticamente quebrada. Mas, a coisa veio a público e, virou (mais um) escândalo do governo que ora finda. E então, usam os recursos de um fundo constituído pelas entidades bancárias de uma forma anômala, porque em momento e forma bem diferente da prevista. O roto cobrindo o rastro do rasgado, num sincronismo impressionante.

Parece piada, mas não é: um dos setores mais criticados pelos petistas historicamente agora se articula com o governo petista numa operação tipo “abraço de afogados”. Mas, quem vai perder, já sabemos: é a CAIXA e, se bobear, seus poupadores e correntistas.

Falando em sincronismo - as datas da visita Silvio Santos ao Palácio do Planalto e do aporte de capital no Banco Panamericano são bem próximas - e, sugerem que, ele e o presidente da república falaram de coisas bem mais importantes que o ibope do programa Raul Gil.

Moral desta história: como nos velhos tempos, quando o sujeito ergue um império empresarial, o mérito e os lucros é só dele. Mas, quando se o império quebra, o governo é chamado para pagar a conta com o dinheiro dos impostos. Isto é o socialismo, na prática - ou seja, a socialização do prejuízo alheio entre aqueles que nada tem a ver com a história.

E aqui estamos: a cinquenta do fim do mandato do atual presidente da república e, exatamente depois de mais quatro rolos federais, desde que foi realizada a eleição presidencial. E a CAIXA é só mais uma das instituições que este governo destruiu. O escândalo do outrora respeitado Correios, foi o aviso do que viria - começando pelo "Mensalão"...

De onde saiu essa idéia de CAIXA-Par? E porque ela enfiou dinheiro no Panamericano quando se já se sabia que ele era um “mico”? Descobrindo quem inventou a ideia, se descobre o fio da meada e, quantas pessoas autoridades estão envolvidas nessa jogada criminosa.

Mas, o mais espantoso de tudo é o final da novela: O SBT e a empresa Baú da Felicidade foram dados como garantia de solvência do Banco Panamericano. Até agora, ninguém se deu ao trabalho de olhar as demonstrações contábeis do SBT e do Baú - e, aposto que as notícias não serão as melhores...

Mas, suponhamos que o Panamericano não seja viável financeiramente e, seja decretada a sua falência. Aí, a CAIXA executa a garantia. E, repassa o SBT para a TV Brasil, à custa de uma fábula de aporte financeiro tirado do cofre da União. E então, o governo ganha uma emissora bem introjetada no território nacional para fazer sua autopromoção e, tentar executar o tal do "controle social da mídia", na prática.

Chego a pensar que toda a jogada foi pensada para dar exatamente este resultado. Mas, devo estar delirando - tanto quanto o chefe da TV Brasil, com a sua mania de amordoçar o universo mediático do Brasil...

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Uma interessante cronologia, que encontrei no Blog Coturno Noturno*:

Em agosto de 2009, Dilma Rousseff foi uma das atrações na festa do Sílvio Santos, sendo recebida com pompa e circunstância pelo próprio e pela filha.

Em novembro de 2009, a Caixa Econômica Federal comprou um naco do quase quebrado Banco Panamericano do Sílvio Santos, por mais de R$ 700 milhões.

Em outubro de 2010, às vésperas das eleições, o Banco Central enfia R$ 2,5 bilhões para salvar o Panamericano da falência.

Ao mesmo tempo, o SBT, emissora de TV do Sílvio Santos, cancela um debate que faria no Nordeste, a pedido da Campanha da Dilma, negando para José Serra uma entrevista que substituiria o encontro dos candidatos.

Além disso, monta uma reportagem mentirosa, usando montagens falsas de imagem, para desqualificar uma agressão sofrida pelo candidato tucano, cometida por milícias petistas.

Dilma Rousseff é eleita presidente do Brasil.

Sílvio Santos continua dono do Panamericano e do SBT.

E a Caixa Econômica Federal tem um pedaço de banco que vale menos do que o seu valor contábil.

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Em 06.12.2010 - o empresário Silvio Santos diz à imprensa que não vende nem o SBT, nem o Banco Panamericano**. Então, deixem-me ver se entendi: ele pretende enfiar na goela do FGC as empresas BF Utilidades Domésticas (Baú da Felicidade) e SS Cosméticos (Jequiti) e, continuar na interessante vida de milionário e apresentador de televisão, certo?

Na CEF e, governo, silêncio absoluto sobre o assunto.

*http://coturnonoturno.blogspot.com/

** http://noticias.uol.com.br/ooops/ultimas-noticias/2010/12/06/nao-vou-vender-nem-o-sbt-e-nem-o-banco-diz-silvio-santos.jhtm

Em 12.12.2010 - No SBT e no site UOL, uma intensa campanha de promoção da imagem do milionário Silvio Santos. O homem do baú não aceita, também, que sua imagem saia arranhada dos escândalos que resultaram da condução inepta (ou criminosa, como parecer o caso da administração do Banco Panamericano). De quem é o problema. Em algum ponto, no futuro, o problema será seu e meu, que me lê e é contribuinte compulsório de impostos.

Num país sério, todas as empresas - a CEF, estariam sendo alvo de, no mínimo, sendo alvo de investigação e processo, de parte do Ministério Público.

- Gostou do artigo? Leia um outro, que acabo de publicar aqui no Recanto e, que trata da saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central. Está convidado!

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Em 23.11.2011 - Faz um bom tempo que escrevi este artigo. Mas, o assunto acaba de voltar às manchetes de jornais, sites e blogs, pela boca de uma autoridade do Banco Central. Mas, você que leu este artigo em data anterior, sabe que, pelas circunstâncias, as autoridades do Banco Central estão envolvidas na coisa - e devem responder por isso, na medida de suas responsabilidades e culpabilidade!

Nesta altura, todos já sabem qual foi a paga de Silvio Santos pelo imenso favor de fazer o sistema bancário pagar pela quebradeira criminosa de seu banco: uma novela em horário nobre, tecendo loas aos ativistas, assassinos e terroristas de esquerda, durante os anos de chumbo, chamada "Amor e Revolução", com direito à introdução de testemunhos de gente de muitos daqueles militantes - muitos dos quais, metidos em falcatruas de toda natureza, desde a chegada do PT ao governo federal - caso de José Dirceu, denominado "chefe de quadrilha" na denúncia do processo do Mensalão e, José Genuíno, que participou da guerrilha do Araguai e acabou metido (e desmoralizado) naquela história de "dolar nas cuecas", no tempo do Mensalão...

- Muito bem pago!

Leu o artigo até o fim? Grato caro leitor...