26 mil Reais para um Deputado? Por que o povo não vai às ruas...?

DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO

A história da democracia é a história da luta popular, e por falar em luta popular, é preciso deixar bem claro que é da luta dos demos, ou seja, grupos populares que surge a democracia. Significa, que não existe democracia sem luta, e também sem luta, não há conquista.

A própria história da democracia ao longo da sua formação e aperfeiçoamento nos ensina que só existe uma maneira de garantir dignidade ao trabalhador: arrancando à força aquilo que lhe é de direito, arrancando na garra, porque, se depender de patrão ou governo, o fruto do trabalho que é as produção de riquezas continuará enchendo os bolsos de uma minoria de 5% da população, e isso jamais irá mudar se o trabalhador continuar com esse medo de reagir, de ir para as ruas e mostrar a força que tem esse gigante adormecido.

A democracia nasce da luta dos oprimidos, daqueles que se sentindo excluído encontra uma maneira de mobilização e de luta. Se a democracia começou com falhas, excluindo as mulheres e garantindo apenas aos homens livres o direito de debater, participar e discutir aquilo que era de interesse comum dos habitantes da cidade, aos poucos e democracia foi se aperfeiçoando, e à medida que as mulheres, os pobres, os analfabetos, e todos os demais integrantes da sociedade foram arrumando um jeitinho de poder oferecer a sua contribuição de cidadão, a cidadania também vai se tornar num direito, porque, não existe democracia sem cidadania. Mas é com a democracia que homens e mulheres vão conquistar e alcançar a condição de cidadãos.

Hoje todos podem participar, dar a sua contribuição, dar o seu grito, fazer o seu protesto dizem os defensores da democracia, porém, pensar a democracia assim, é acreditar que individualmente iremos mesmo construir alguma coisa. Não existe democracia com gritos individuais, com atos isolados, e esse papo de faça a sua parte é a ideologia anti coletiva que leva as pessoas a crerem que sozinhos somos capazes de mudar uma estrutura, que só poderia ser mudada, pelo esforço de milhões. Sozinhos somos nada, somos meros fios, isolados, somos indivíduos e podemos ser quebrados, derrotados sem nada conquistar, não falo de conquistas individuais nem dos sonhos egoístas, falo de conquistas coletivas e de sonhos coletivos, sonhar junto com os outros. Falo de uma luta como se estivéssemos numa guerra, onde um soldado não abandona o outro, mas tenta arrastá-lo, mesmo sabendo que aquele soldado baleado mortalmente não terá chance alguma, ainda assim o arrasta, carrega-o nas costas até um lugar seguro sem atinar para o fato de que seu companheiro já estava morto assim que foi alvejado. A luta coletiva é uma guerra dos que não tem contra os que tem, é a luta dos excluídos pela inclusão, é a luta de quem vive da terra mas não tem a terra para cultivar, é a luta dos que não tem um teto contra os poderosos donos de imobiliária, enfim, é a luta de todos os que se sentem desamparados a procura de um amparo. Acredito que é isso que o gênio Manoel Peixoto está tentando nos transmitir nessa bela poesia “Solidariedade e Companhia”.

Solidários, somos gente;

solitários, somos peças,

De mãos dadas, somos força;

desunidos, impotência.

Isolados, somos ilhas;

juntos, somos continentes.

Inconscientes, somos massa;

reflexivos, somos grupo.

Organizados, somos pessoas;

sem organização, somos objetos de lucro.

Em equipe, ganhamos, libertamo-nos.

Individualmente, perdemos, continuamos presos

Participando, somos povo;

marginalizando-nos, somos rebanho.

Unidos, somos soma; na massa, somos números

Dispersos, somos vozes nos desertos;

agrupados, fazemo-nos ouvir.

Amontoando palavras, perdemos o tempo;

Com ações concretas, construímos sempre. (Manoel Peixoto)

O que está acontecendo com a juventude brasileira apelidada de “geração coca cola”? Cadê os cara-pintadas que foram às ruas em 1992 contra o governo Collor? Que saudades da juventude dos anos 60 e 70, eram os anos de chumbo, mas a juventude estava lá, com seus aparelhos secretos, escondidos, com endereços falsos e morrendo de medo de um delator dizer à polícia onde estava reunido o grupo para discutir ideias subversivas que poderiam derrubar o capitalismo. Lá estava a juventude, sem liberdade para lutar, para dizer o que pensa, o que canta, mas mesmo assim, essa velha juventude olha pra geração atual e sente saudade dos anos de chumbo, mesmo com toda truculência, nem o Exército, nem a Marinha e nem a Aeronáutica conseguiam furtar-lhe o direito de lutar. O que acontece com o nosso povo hoje? Nossos antigos militantes comunistas, de esquerda viraram políticos, gostaram do poder e aproveitaram bem a transição democrática, hoje estão no poder. Por que o povo não reage hoje? Cadê os sindicatos? Onde estão os grupos organizados? Será que o neoliberalismo é tão poderoso que conseguiu sufocar nossos sonhos e esquecer nossas conquistas?

O povo está inerte, os sindicatos estão de acordos firmados com os patrões e os trabalhadores conformados com o que ganham. Na verdade a ameaça de ficar desempregado fez com que o medo individual se tornasse tão coletivo que hoje não se consegue mobilizar mais nada. Veja o aumento dos deputados. Cada parlamentar custará ao governo quase 200 mil reais por mês. O que você faria se deixasse de ganhar aquela merreca que ganha na empresa para trabalhar de 8 a 12 horas por dia e passasse a ganhar 26 mil reais para trabalhar apenas três dias por semana, tendo ainda auxilio gravata, auxilio moradia, gasolina grátis e um montão de outros benefícios? Pois é, é isso que os deputados vão ganhar: 26 mil reais por mês!

Eles aprovaram em menos de 8 minutos o projeto que aumenta o próprio salário, a sociedade assistiu essa putaria e não fez absolutamente nada. Parece que está todo mundo dormindo. Se fosse na França, na Inglaterra ou em outros países o povo teria ido pra rua, virado carros, queimado pneus, parado todos os meios de transportes, e, enfrentado a polícia.... Mas aqui no país de “Alice” nada foi feito!

Esse gigante adormecido não sabe a força que tem, se soubesse, viraria a carroça e colocaria o “dono” para puxá-la. O povo brasileiro consegue se indignar quando um rico é seqüestrado, mas não consegue ter a mesma indignação quando uma criança morre de fome. Quando morre um político o povo chora, lota o velório, mas quando um trabalhador morre quase ninguém aparece para velar o corpo. Pra ter público precisa ser “importante”, mesmo sendo corrupto, é de praxe que político quando morre vira herói. Ai o povo vai às ruas!

A elite festejou a invasão do Morro do Alemão no Rio de Janeiro. Mas quem construiu aquela miséria? Até que é pobre comemorou a invasão policial, teve gente pedindo autógrafo para os soldados do Exército, posando para foto, e era gente que não tem onde cair morto. Ao invés de festejar a invasão do Complexo do Alemão e colocar os traficantes para correr, o que é preciso é fazer uma reflexão: por que deixaram chegar a esse ponto? Por que criar monstros para depois destruí-los? Não é mais inteligente prevenir que remediar? E como se previne? Distribuindo melhor a renda. Áh, mas redistribuição de renda é coisa do passado defendida pelos comunistas, diria as elites poderosas. Se é assim, então continuem a defender a apropriação indébita do capital produzido pelos trabalhadores, continuem concentrando a renda e novos monstros surgirão dos guetos onde as vítimas serão todos nós. A elite brasileira é burra por demais!

Não temos que ter orgulho daquilo que ocorreu no Rio de Janeiro, temos que refletir e pensar. Não vale a pena continuar defendendo o capital e desprezando as pessoas, o lucro e o luxo não podem mais continuar sendo prioridade, pessoas são prioridades. Investir em pessoas é evitar a criação de novos monstros, novos morros, com certeza, os gastos serão sempre maiores. Ao invés de gastar com armas, gasta-se com livros, e ao invés de cadeias, construam mais escolas, bibliotecas em cada bairro carente, ofereça mais condições de lazer, cultura, cinema, teatro, coloque tudo isso à disposição das pessoas em cada município carente, ofereçam condições dignas de moradia, salário, saúde, saneamento básico, esporte, tudo isso pode ajudar a construir uma sociedade melhor. Não foi isso que Pereira Passos fez na época que governou o Rio de Janeiro, o que fez foi passar com tratores por cima de casebres, cortiços expulsando os pobres para os morros, apesar da chamada Revolta da Vacina ter ocorrido em 1904 em decorrência do descaso político de Pereira Passos e do governo Federal na época, a situação do povo do Rio de Janeiro foi ficando cada vez pior de lá para cá até chegar onde chegou. Não é com agulhada no bum bum das pessoas, nem passando com tratores por cima de casebres que se melhora as coisas. O povo não deve ser tratado como lixo, com políticas de saneamento básicos que expulse pessoas dos centros para as encostas, e essa política higienista é nazista e fascista, é a mesma política de “Revitalização” do centro de São Paulo. Nem gosto desse termo “Revitalização do Centro”, porque sei que revitalizar não significa melhorar a vida dos pobres, mas expulsar a miséria e os miseráveis que incomodam os burguesinhos. Não é à toa que já tivemos até prefeitos em São Paulo fazendo lotação de caminhão de mendigos e mandando soltá-los em outros municípios como se fossem lixo. Enquanto isso, o povão assiste o anúncio pela tela do Plim-plim do aumento dos deputados: 26 mil reais por mês!

O PODER LEGISLATIVO é uma Vergonha Nacional...