Complexo de vira-latas: a esperança venceu o medo, parabéns Lula!

Nelson Rodrigues permita-me hoje plagiar-te. Saiba grande gênio que é para uma justa homenagem que faço a um certo senhor nordestino, que veio de pau-de-arara para São Paulo, um réles metalúrgico que encantou o Poder Executivo.

Hoje vou fazer do escrete o meu honorário personagem da semana: Luis Inácio Lula da Silva. Todos os dias, às cinco horas da manhã os trens lotam de operários, eles partem em direção ás fábricas para retornar após as 8 da noite, e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: – “O Brasil não vai mudar!”. E, aqui, eu pergunto: – não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?

Eis a verdade, amigos: – desde 94 após a derrota manipulada pela propaganda maciça entorno do Plano Real que Lula tem pudor de acreditar em si mesmo. E oito anos depois o trunfo veio com a derrota dos tucanos, na última batalha, ainda por puro preconceito divulgava a mídia: “Lula vai afundar o Brasil e haverá fuga de capital, os investidores vão voltar para os seus países de origem”, esse é o modo colonialista de pensar de grupos mais abastados. Como se manter a nossa economia dependente do capital e da tecnologia estrangeira fosse o nosso maior orgulho.! Babacas... Pois é, Lula ganhou, desbancou os tucanos, porém, desde Collor e FHC que o Brasil não crescia tanto. Foram 12 anos de atraso tirado em apenas oito. Tal frustração ainda faz sofrer aqueles que, na cara e na alma, ficaram com medo de eleger o barbudo. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar, ter deixado privatizar a siderurgia nacional que alavancou o progresso brasileiro. Mas Lula, ao invés de fazer o mesmo que FHC fez melhor, chamou a bronca para si, abriu as CPIs e apurou as corrupções. FHC abafou todas as CPIs em seu governo, e, por isso, ficou conhecido como Sr. Engavetador! Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que ficou dos 2 x 1 de Lula pra cima dos tucanos, Lula conseguiu fazer DILMA sua sucessora, façanha que FHC não conseguiu. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, a militância tucana peessedebista sentiu o drama e a decepção em saber na histórica eleição em 27 de outubro de 2002, quando cinqüenta e dois milhões e setecentos mil brasileiros disseram um basta e propuseram um ponto final para as políticas e a experiência neoliberal do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um reles torneiro mecânico de São Bernardo do Campo, com apenas a 4ª série primária, arrancou deles a hegemonia política. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: – “extraiu” de deles o orgulho como se fosse um dente.

E, hoje, se negamos o escrete de 94 para para FHC, não tenhamos dúvidas: – é ainda a frustração de 94 que funciona. Foi triste saber que o Brasil iria ficar atrasado por cerca de 12 anos, desde a derrota de Lula para Collor e na sequência por FHC em 94. Ver manipular as eleições e Lula ser derrotado pelo caçador de marajás e pelo ministro das relações exteriores que trabalhava a favor do FMI foi triste. Gostaríamos talvez de acreditar que nunca houve aquela eleição. Mas o que nos trava é o seguinte: – o pânico de uma nova e irremediável desilusão de saber que por culpa do próprio povo e da mídia manipuladora deixamos de avançar na história. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: – se o Brasil vencesse o desafio e o preconceitoso medo de eleger um metalúrgico, talvez nem a copa de 2014 fosse aqui realizada! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e os mais de 135 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.

Mas vejamos, 2014 promete: – o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade: – eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: – sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. O Brasil tem muito talento. “Tenho visto jogadores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado Flamengo. Pois bem: – não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho. E Lula, nem se fala! Tirou de letra, em matéria de governabilidade e governança. O Brasil não tem talento só no futebol, e Lula é exemplo disso, um talento político, um líder nato saído dos escombros da pobreza para mostrar ao mundo que o Brasil não é só o país do futebol ou do carnaval, o Brasil é o país de um povo inteligente e capaz.

A pura, a santa verdade é a seguinte: – qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Na política Idem, desde que apostemos na pessoa certa, e o Brasil fez isso com Lula e agora com Dilma! Em suma: – temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: – “O que vem a ser isso?”. Eu explico.

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: – e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: – porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.

Eu vos digo: – o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. Nisso o Brasil sempre foi bom. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia e que além de futebol tem também lindas praias e florestas, um povo alegre e criativo, só precisava de um bom líder e achou em Lula. O brasileiro precisa acreditar mais em si e abrir mão dos preconceitos, deixar de ser induzidos pelas mídias burguesas e acreditar que o poder econômico não é mais forte que todos os pobres juntos. Quem produz a riqueza são os pobres e não os ricos. O explorador capitalista não faz a máquina funcionar sozinho. Uma vez que se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota. Insisto: – para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.

Artigo feito com base no texto “Complexo de Vira Latas”de Nelson Rodrigues. Para ver o texto original procure no site...

http://ababeladomundo.wordpress.com/)