A EUROPA E ESTADOS UNIDOS EM CRISE: Um perigo, por quê?

Na verdade os tempos mudaram, a mentalidade mudou, as coisas mudaram. Mas tem gente no Brasil que não acompanhou essas mudanças e pensa que o Brasil deveria continuar se rendendo ao poder do imperialismo. Por que Lula falou bem do Brasil e criticou as potências imperialistas em crise, há quem ache isso um absurdo, e inclusive critica Lula por ter falado bem do Brasil e mal da Europa e Estados Unidos. Por que ainda tem pessoas de cabecinhas tão pequenas no Brasil? Bom, deve ser daquele tipo que lucra horrores com a tal política de importação, aquele tipo sujeito que produz para fora e acha que quanto mais crianças nos morros morrendo de fome, sendo aliciadas pelo tráfico por falta de condições dignas, tudo porque há pessoas que pensam que quanto mais gente passando fome e necessitada melhor. É duro saber que há cavalos de raça, gatos e cachorros de estimação vivendo muito melhor com os grãos produzidos pela América Latina e no Brasil que os nossos niños. Muitos ficaram de nariz torcido quando Lula em seu discurso disse:

“Foi gostoso passar pela Presidência da República e terminar o mandato vendo os Estados Unidos em crise, vendo a Europa em crise, vendo o Japão em crise, quando eles sabiam tudo para resolver o problema da crise brasileira, da crise da Bolívia, da crise da Rússia, da crise do México”.

Claro, Lula tem razão em dizer isso, a final de contas, os presidentes anteriores a ele sempre governaram o Brasil, não para os brasileiros, mas para fora, para os gringos. Todos os presidentes que passaram governaram o Brasil de “calças na mão”, e quando iam lá pra fora, já iam, de mãos e chapéus estendidos dizendo: pelo amor de Deus, dê uma esmolinha para ajudar o Brasil! Óbvio que Lula se diferencia em seu governo de todos os outros que passaram, por conta disso: ele não foi um governo frouxo. O que sintetiza bem isso é a fala de Chico Buarque, em suas declarações de voto à Dilma, e assim que Leonardo Boff chamou Chico Buarque para dar uma pequena mensagem, fez alusão ao Anjo Gabriel e comparou Chico ao anjo mensageiro. Boff disse: “Eu tenho ao meu lado um anjo que é o Anjo Gabriel, anjo que traz mensagens...”. Quando Buarque falava do governo disse que Lula “é um governo que não corteja os poderosos de sempre”, Chico ainda ressaltou, “um governo que não é da sua índole desprezar os sem-terra, os professores, os garis”. Buarque definiu bem o diferencial entre Lula e os outros governos, a sua coragem e garra quando disse que a fala Lula lá fora era de igual pra igual com todos, e ressaltou: “não fala fino com Washington nem fala grosso com a Bolívia e Paraguai”. Disse mais, “é por isso mesmo que é ouvido e respeitado no mundo inteiro como nunca antes na história deste país”. Aplaudido Chico encerrou a sua fala!

Leonardo Boff ressaltou a importância da solidariedade como eixo estruturador da política do governo Lula e da mensagem de Dilma Rousseff ao Brasil, e enquanto falava, fez questão de dizer que Oscar Niemayer foi o sinal que ele Leonardo Boff pediu a Deus na sua oração pela manhã: “Se Oscar Niemayer for ao encontro, será um sinal infalível que a vitória está garantida”, e não é que Oscar estava lá mesmo sendo aclamado e aplaudido pela população!

Com sua iluminada inteligência e tamanha graça e lucidez Leonardo Boff fez questão de ressaltar ao falar de Niemayer, que não dizia aquilo como retórica, mas porque para ele Niemayer é a figura ilustre e a imagem da solidariedade. Diz Boff: “a solidariedade especialmente com os pobres e oprimidos é o sentido fundamental da gente, ele (Niemayer) testemunhou isso ao largo de toda existência, nunca cansado, porque sempre está trabalhando”. Claro, um homem do calibre de Leonardo Boff só podia mesmo ser assim, tecendo elogios ao velho comunista que veio da Rússia para encantar o Brasil com sua maestria e genialidade na arte de desenhar através de cimento e concreto.

Apesar de ter gente amargurada por Lula ter falado da crise da Europa e dos Estados Unidos, Lula tem suas razões, claro, agora ele pode falar mesmo, pois até lá fora duvidaram que esse nordestino porreta fosse capaz de fazer o que fez no seu governo. Cada brasileiro pode dizer com orgulho: Fomos representados por um governo popular!

O Brasil, visto como um quintal dos Estados Unidos disse não para o FMI pela primeira vez, e sabe com que moral se disse isso? Co a moral do Sr. Luis Inácio Lula da Silva de Garunhuns. Podem espernear as elites defensoras da dominação imperialista que tiraram proveito da manutenção de seus status à custa do sacrifício do povo e do sacrilégio de uma dívida injusta que mantinha o nosso país refém das potências, podem espernear os doutores honoris causa que julgaram Lula como incapaz, mas foi ele, um ilustre metalúrgico, que na figura de um plebeu fez o povo brasileiro se sentir mais povo e a gente se sentir mais gente. Mas o que Lula disse que incomodou tanta gente? Ele simplesmente disse sua atitude como governo ousado e arrojado na elaboração de planos sociais foi importante. Prossegue o presidente...

“Foi importante para falar para eles [os países ricos] que na crise não foi nenhum doutor, nenhum americano, nenhum inglês, foi um torneiro mecânico, pernambucano, presidente do Brasil que soube como lidar com a crise com sua equipe econômica. Foi por isso que a crise demorou mais para chegar aqui e foi embora depressa.”

Ao dirigir-se ao governador da Bahia, Lula disse ainda sobre sua saída de cabeça erguida e sentimento de dever cumprido do governo: “É muito confortante, [Jaques] Wagner, saber que nós criamos 15 milhões de empregos em oito anos com carteira assinada. É muito gratificante a gente saber que mais de 36 milhões de brasileiros ascenderam à classe média. É importante saber que mais de 20 milhões de brasileiros saíram da miséria”.

Realmente, são números que não só Lula deve comemorar, mas todos, inclusive os traidores que por boatos votaram no SERRA e que foram ludibriados pelos boatos e pela mídia burguesa, gente que talvez por falta de consciência voltasse a tomar água amarelada e comer “palma do diabo” no lugar de uma bela refeição garantida pelo governo. Eu ia dar rizada se Serra tivesse ganhado e o PSDB tivesse voltado, teria dado risada dessas pessoas que voltariam a comer palma do diabo, mas sentiria muito pelo país, pelas crianças inocentes e por todos aqueles que honrando o seu voto não traíram Lula votando em Dilma. O Brasil correu o risco do retrocesso por conta de gente ingrata e sem um pingo de consciência, que não sabe o significado que tem a sigla PSDB, os interesses escusos e obscuros vindos lá de fora, o mal que faz o neoliberalismo aos trabalhadores e menos favorecidos. Se todos tiverem consciência dos perigos do PSDB, nem em São Paulo esse partido ganharia as eleições e nem em Minas Gerais, minha querida terra-natal. Graças à maioria mais consciente o PSDB foi desbancado do governo Federal há oito anos atrás e agora o Brasil avermelhou com Dilma, e tomara que a América Latina inteira adote o vermelho como a cor da luta e diga de uma vez por todas que o imperialismo está fora dês nossas fronteiras. Aos críticos de Fidel Castro e Hugo Chaves, aguardem, porque, na História tudo um dia muda, não se esqueçam, de que Marx um dia disse: A História, é a história da luta de classes, portanto, o sonho de uma América livre do da esmagadora mão imperialista de San Martin e Simon Bolívar. Os abutres capitalistas e exploradores que se dizem brasileiros que vestem o verde e amarelo só em épocas de copa do mundo e Olimpíadas são brasileiros só de fachada, no fundo fingem ser brasileiros, mas seu sangue está contaminado pela doença colonial que ainda afeta suas mentes, esses, quando vêem algum governo tomando algum tipo de atitude que ferem seus interesses e aos interesses internacionais ficam bravos, essa gente acha que continuar sendo capacho dos norte-americanos e da Europa é um ótimo negócio, claro, para eles, herdeiros das capitanias hereditárias e agentes promotores do velho pacto colonial. Acham que vender cacau, café, laranja, minério e produtos grosseiros é o melhor para nossa economia, são os mesmos que achavam no passado que o Brasil deveria manter sua subalterna condição de mero produtor de matéria-prima e consumidor de manufaturados importados de fora. Para esses tais, o brasileiro deve mesmo se calar diante da humilhante e degradante situação de miséria que o imperialismo impõe ao mundo menos desenvolvido como América Latina, áfrica e alguns países da Ásia. Esses tais acham legal a dominação estratégica e geopolítica imposta aos países do Oriente Médio. São os mesmos que criticam Lula por dizer que seu governo tirou de letra a crise mundial e deixou os sábios europeus e norte-americanos chupando o dedo. Hoje que está de joelho? Bom mesmo será quanto toda a América Latina puder comemorar o fim do imperialismo, ai, as coisas terão mudado definitivamente para os pobres!

A exemplo de Bolívar, Lula rouba a cena do cenário internacional passando à frente dos grandes figurões dos negócios, estadistas que rezam ainda segundo cartilha católica e protestante, que sem se importar com os Direitos Humanos, fizeram no passado negros e índios escravos e dizimaram milhões de pessoas por posse de territórios que não eram seus, destruíram culturas, crenças e costumes, impuseram suas danças, sua forma de produzir na terra, suas músicas, sua arte e sua religião, hoje, 500 anos depois, lamenta saber que ainda tem pessoas no Brasil que defende isso, mas, Lula arranca elogios dos supostos portadores do genes das raças superiores até lá fora. Se Bolívar foi apelidado de “Napoleão das Américas”, que apelido poderia dar para Lula?

Bolívar tinha um sonho:

"Juro pelo amor do Deus de meus pais. Juro por eles. Juro pela minha honra e juro pela minha pátria que não darei descanso a meu braço, nem repouso a minha alma, até que haja rompido as correntes que nos oprimem por vontade do poder espanhol!” Simón Bolívar quando ele tinha pouco mais de 20 anos, assumiu este compromisso que foi levado às últimas conseqüências. Esse utópico sonhador e libertador coordenou as campanhas militares responsáveis pela independência de cinco países sul-americanos: Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia. Apelidado de o Napoleão das Américas, vitorioso, Bolívar passou a lutar pela união das nações latino-americanas e por justiça social.

O sonho de Bolívar não morreu. Lula foi um homem gabiru que se tornou gigante pela garra que teve, pela sua história, pela sua luta persistente, deu mais ênfase ao Mercosul, e nutrido pelo mesmo senso de justiça social travou em seu governo uma ferrenha batalha para que o Brasil tornasse uma referência e liderasse essa sonhada união.

O homem gabiru é um sujeito pequeno, estatura de 1,35 de altura e esse pequeno desenvolvimento é um produto do meio e da situação de miséria em que vivem muitos nordestinos.

Como metáfora de Lula, faço alusão ao homem gabiru como uma figura de linguagem como que querendo dizer de onde Lula saiu, a vida que levou e onde chegou. O homem gabiru serve como figura ilustrativa, para dizer o que representa Lula hoje, não só para esse humilde blogueiro, mas para milhões de sonhadores como eu. Termino essa matéria com essa fala de Lula, para dizer que foi um operário que descobriu o seu valor e assim mostrou que o pobre pode continuar sonhando até que um dia esse sonho se concretize...

“Nós não queremos que pensem mais que pobre não gosta de coisa boa. Não sei quem foi o malandro que inventou que pobre não gosta de coisa boa. Que pobre gosta é de miséria. Não. Pobre gosta é de luxo. Inventaram até que peão não gosta de uísque, que peão só gosta de cachaça. Peão gosta de uísque também.”

E para concluir nada mais ilustrativo que o belo poema “Operário em Construção” de Vinícius de Moraes:

“E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:

– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.

E Jesus, respondendo, disse-lhe:

– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.

Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as casas

Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia

De sua grande missão:

Não sabia, por exemplo

Que a casa de um homem é um templo

Um templo sem religião

Como tampouco sabia

Que a casa que ele fazia

Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.

De fato, como podia

Um operário em construção

Compreender por que um tijolo

Valia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhava

Com pá, cimento e esquadria

Quanto ao pão, ele o comia...

Mas fosse comer tijolo!

E assim o operário ia

Com suor e com cimento

Erguendo uma casa aqui

Adiante um apartamento

Além uma igreja, à frente

Um quartel e uma prisão:

Prisão de que sofreria

Não fosse, eventualmente

Um operário em construção.

Mas ele desconhecia

Esse fato extraordinário:

Que o operário faz a coisa

E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia

À mesa, ao cortar o pão

O operário foi tomado

De uma súbita emoção

Ao constatar assombrado

Que tudo naquela mesa

– Garrafa, prato, facão –

Era ele quem os fazia

Ele, um humilde operário,

Um operário em construção.

Olhou em torno: gamela

Banco, enxerga, caldeirão

Vidro, parede, janela

Casa, cidade, nação!

Tudo, tudo o que existia

Era ele quem o fazia

Ele, um humilde operário

Um operário que sabia

Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento

Não sabereis nunca o quanto

Aquele humilde operário

Soube naquele momento!

Naquela casa vazia

Que ele mesmo levantara

Um mundo novo nascia

De que sequer suspeitava.

O operário emocionado

Olhou sua própria mão

Sua rude mão de operário

De operário em construção

E olhando bem para ela

Teve um segundo a impressão

De que não havia no mundo

Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão

Desse instante solitário

Que, tal sua construção

Cresceu também o operário.

Cresceu em alto e profundo

Em largo e no coração

E como tudo que cresce

Ele não cresceu em vão

Pois além do que sabia

– Exercer a profissão –

O operário adquiriu

Uma nova dimensão:

A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu

Que a todos admirava:

O que o operário dizia

Outro operário escutava.

E foi assim que o operário

Do edifício em construção

Que sempre dizia sim

Começou a dizer não.

E aprendeu a notar coisas

A que não dava atenção:

Notou que sua marmita

Era o prato do patrão

Que sua cerveja preta

Era o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarte

Era o terno do patrão

Que o casebre onde morava

Era a mansão do patrão

Que seus dois pés andarilhos

Eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia

Era a noite do patrão

Que sua imensa fadiga

Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!

E o operário fez-se forte

Na sua resolução.

Como era de se esperar

As bocas da delação

Começaram a dizer coisas

Aos ouvidos do patrão.

Mas o patrão não queria

Nenhuma preocupação

– "Convençam-no" do contrário –

Disse ele sobre o operário

E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário

Ao sair da construção

Viu-se súbito cercado

Dos homens da delação

E sofreu, por destinado

Sua primeira agressão.

Teve seu rosto cuspido

Teve seu braço quebrado

Mas quando foi perguntado

O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário

Sua primeira agressão

Muitas outras se seguiram

Muitas outras seguirão.

Porém, por imprescindível

Ao edifício em construção

Seu trabalho prosseguia

E todo o seu sofrimento

Misturava-se ao cimento

Da construção que crescia.

Sentindo que a violência

Não dobraria o operário

Um dia tentou o patrão

Dobrá-lo de modo vário.

De sorte que o foi levando

Ao alto da construção

E num momento de tempo

Mostrou-lhe toda a região

E apontando-a ao operário

Fez-lhe esta declaração:

– Dar-te-ei todo esse poder

E a sua satisfação

Porque a mim me foi entregue

E dou-o a quem bem quiser.

Dou-te tempo de lazer

Dou-te tempo de mulher.

Portanto, tudo o que vês

Será teu se me adorares

E, ainda mais, se abandonares

O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário

Que olhava e que refletia

Mas o que via o operário

O patrão nunca veria.

O operário via as casas

E dentro das estruturas

Via coisas, objetos

Produtos, manufaturas.

Via tudo o que fazia

O lucro do seu patrão

E em cada coisa que via

Misteriosamente havia

A marca de sua mão.

E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão

Não vês o que te dou eu?

– Mentira! – disse o operário

Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se

Dentro do seu coração

Um silêncio de martírios

Um silêncio de prisão.

Um silêncio povoado

De pedidos de perdão

Um silêncio apavorado

Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas

E gritos de maldição

Um silêncio de fraturas

A se arrastarem no chão.

E o operário ouviu a voz

De todos os seus irmãos

Os seus irmãos que morreram

Por outros que viverão.

Uma esperança sincera

Cresceu no seu coração

E dentro da tarde mansa

Agigantou-se a razão

De um homem pobre e esquecido

Razão porém que fizera

Em operário construído

O operário em construção.”

Lula é o operário que se desperta, olha em volta e percebe que tudo que ali estava era ele quem construía, e a exemplo de milhares de operários que se despertam para enxergar o que a mais-valia é capaz de fazer, passou a ser criticado pelos patrões. Muitos Lulas ainda vão se levantar por esse Brasilzão afora, irá se levantar dos sem-terra, dos sem-tetos, dos sem-pátria e sem eira nem beira. Mulheres, brancos pobres, negros e índios, todos um dia poderemos cantar de verdade: “Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil”!