Política de Emburrecimento

Passou na madrugada de ontem – duas ou três da manhã – um filme na Globo, “Inimigo do Estado”. Um congressista americano é assassinado pelo comando liderado por um dos diretores da NSA (Agência de Segurança Nacional) por ser favorável ao respeito à privacidade das pessoas. Contrariando o Governo, em luta pela aprovação de leis restringindo essa privacidade, sempre que houvesse ameaça à segurança do Estado. Valendo-se para isso de toda a parafernália tecnológica voltada para a espionagem. De modo a que se possa não só ouvir o que as pessoas falam, mas vê-las dentro de suas casas, hotéis, bares, restaurantes, etc. Através de sofisticados sensores colocados nas roupas, nos sapatos, relógios, canetas, celulares e outros objetos de uso pessoal. Como também em luminárias, televisores ou quaisquer aparelhos dentro de casa, quartos de hotéis ou aposentos pessoais. Uma versão atualizada de “1984”, consagrada obra de George Orwell, depois filme também, que imortalizou o personagem “Grande Irmão” (Big Brother). Que via tudo o que as pessoas estivessem fazendo ou falando onde quer que estivessem. Personagem motivadora do terrível BBB da nossa Globo de hoje.

O “Inimigo do Estado”, protagonizado por celebridades como Will Smith, Gene Hackman e Jon Voight, é um filme bem interessante e que prende a atenção. Salvo os conhecidos clichês americanos, como juras de amor à esposa e a conhecida preocupação com a imagem de seriedade do Governo no trato com a coisa pública, a película cumpre o seu papel na denúncia de que crimes possam ser cometidos pelo próprio Estado, sempre que estiver em jogo a preservação dos seus interesses, ou dos interesses das pessoas no poder. De certa forma, tal como fizeram as ditaduras militares do chamado Cone Sul, considerando inimigos do Estado todas as pessoas estigmatizadas como de esquerda, socialistas ou comunistas.

Como sabemos, até mais ou menos 22h, vamos de novelas – o carro-chefe das TVs – com uns dois jornais pelo meio. Depois, em se tratando da Rede Globo, vem o BBB, um desserviço à população. Um verdadeiro lixo torturante, por nada acrescentar de novo e aparecer entre os intervalos dos programas. Com o perdão daqueles com opinião contrária.

O BBB é o contra-senso da educação. Nada ou muito pouco com ele se aprende. Só mesmo a preocupação com o aumento da receita da empresa, que se consolida com a garantida audiência proporcionada pelas novelas, pode justificar a apresentação do BBB.

Sobra então pra madrugada, quando todos estão dormindo, à exceção de irreparáveis insones como eu, um filme que se possa apreciar. Dando-nos a impressão de que são coisas que não devemos ou não precisamos assistir. Por haver talvez o perigo de que nos conduzam a algum tipo de esclarecimento ou conscientização. Ou convencendo-nos de que é melhor nos emburrecermos.

Este é o perfil da televisão brasileira. Sem falar nas doses maciças e diárias, também durante as madrugadas, do mercadológico Evangelismo, responsável pela fortuna de inúmeros “pastores”, mas não tanto pelo bem-estar de suas ovelhas. Perfil nacional que se enquadra com perfeição numa política de emburrecimento da população ou de seu empobrecimento cultural.

Rio, 24/01/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 24/01/2012
Código do texto: T3458365
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