As Lutas da Geração do Milênio

As principais lutas da Geração do Milênio ou como eu prefiro chamar, a Geração Anti-Globalização, foram a Campanha contra a ALCA, as Manifestações contra a Guerra do Iraque e as Lutas contra a Crise Econômica.

A Batalha contra a ALCA foi basicamente da América Latina. Foi a organização dos movimentos sociais e partidos de esquerda no subcontinente, as insurreições e revoluções da Argentina, Equador e Bolívia, as eleições de governos de centro-esquerda de Frente Popular e nacionalistas burgueses, como de Lula, Chávez e Morales com a derrota eleitoral da direita tradicional neoliberal, a articulação política através do Fórum Social Mundial e a vitória da campanha no Brasil com um Plebiscito Popular que reuniu 10 milhões de votos que enterraram o projeto da ALCA.

A Guerra do Iraque foi uma reação massiva global à estratégia de "guerra preventiva" e de Guerra ao Terror lançada por George W. Bush após os atentados de 11 de setembro. A invasão militar do Iraque, depois de uma anestesia geral diante da agressão ao Afeganistão, trouxe de volta à cena as manifestações pacifistas e anti-imperialistas vistas anteriormente nas manifestações das décadas de 60 e 70 contra a Guerra do Vietnã. Além de atos de rua nos Estados Unidos, na Europa, no Oriente Médio e na América Latina, com a mobilização de milhões de pessoas, a campanha contou ainda com o boicote aos produtos de empresas que apoiavam a guerra. Assumiu um caráter anti-capitalista e anti-militarista. Foi a maior mobilização global unificada de nosso tempo e terminou vitoriosa, com a retirada das tropas estadunidenses do Iraque no final do governo Obama.

A Crise Econômica iniciada em 2008 levou os governos a entregarem bilhões dos cofres públicos para as grandes empresas e bancos falidos e a a implementarem planos de austeridade, com cortes de salários, empregos e privatizações. Depois das Revoltas da Fome em 2007, com destaque para o Haiti, diante da alta do preço dos alimentos, a Europa viu Greves Gerais sucessivas na Grécia, na França, na Espanha, com ocupações de praças públicas, cercos aos Parlamentos e passeatas de milhões de jovens e trabalhadores. No Mundo Árabe (Oriente Médio e Norte da África), eclodiram revoluções como a Revolução Tunisiana e a Revolução Egípcia e o exemplo da Praça Tahrir que espalhou o sentimento revolucionário, radical, rebelde e o método de luta da ocupação de praças públicas para a Inglaterra, a Espanha (com a formação do movimento dos Indignados) e os Estados Unidos e o movimento Ocupem Wall Street que se espalhou por cerca de 800 cidades americanas, sendo Nova Iorque o principal foco de mobilização.

A organização desse movimento (desde o seu nascimento nas Manifestações de Seattle em 1999) nunca foi vertical, mas horizontal e em rede. A principal forma organizativa dessa geração e do movimento de contestação à Globalização Neoliberal foi o Fórum Social Mundial. O início dos anos 2000 foi marcado pela unificação dos novos movimentos e das organizações tradicionais dos trabalhadores, da juventude e da sociedade civil; foi a primeira fase do movimento anti-globalização e da educação política de toda uma geração, com o seu horizonte de expectativas. O Fórum Social era formado por ONG´s, partidos políticos (principalmente de esquerda), sindicatos, entidades estudantis, movimentos populares, movimentos sociais, ativistas independentes. Foi um espaço de organização e articulação política global. Teve seu centro em Porto Alegre, refletia a mobilização da América Latina que, nessa época, era o centro da revolução mundial. A eleição de governos de Frente Popular e Nacionalistas e a aplicação da política econômica neoliberal por estes governos trouxe desânimo para a vanguarda e provocou a dispersão e a fragmentação do movimento. A América Latina de vanguarda, passou para a retaguarda do processo de mobilização anti-capitalista.

Países dominados por ditaduras há décadas e sem o grau de organização dos países latino-americanos, viram a eclosão de revoluções e o surgimento da chamada Primavera Árabe. A nova etapa iniciada em 2010 e tendo se radicalizado no ano de 2011, o auge desse movimento, foi, contudo, marcada pela dispersão, mesmo que com uma massificação e radicalização das lutas nos países centrais do capitalismo (EUA e países europeus) e no Mundo Árabe. As jornadas de lutas europeias que contaram com a participação de milhões de trabalhadores em toda a Europa e segue ainda em 2012 bastante forte, especialmente na Grécia, se somaram às revoluções da Tunísia e do Egito, que incendiaram todos os países árabes. A Revolução Islandesa, a Revolução Grega, a Revolução Tunisiana e a Revolução Egípcia são as maiores expressões desse processo. A comunicação e organização dos lutadores foi garantida em larga medida pelas novas tecnologias e pelas mídias alternativas. As Redes Sociais (Facebook, Twitter, Orkut) foram importantes instrumentos de articulação desses movimentos, protagonizados, em geral, pela juventude. A difusão de informações sobre os governos foi feita principalmente por sites independentes como o WikiLeaks. A ação no mundo virtual contra os governos e as grandes empresas foi protagonizada por hackers de movimentos como o Anonymous. Cresceu a importância das ações individuais como as dos blogueiros do Norte da África. Essas mobilizações tiveram um protagonismo maior de ativistas independentes e organizações menores, pois muitas organizações tradicionais, como a Irmandade Muçulmana no Egito por exemplo, preferiram buscar o acordo com os governos e o imperialismo para a realização de transições conservadoras nos regimes. O Fórum Social Mundial não cumpriu e não cumpre neste momento o papel que cumprira outrora. A produção e divulgação de informações pelos meios virtuais conseguiram furar o bloqueio da grande mídia e dos governos. Mas já enfrentam a reação fascista nas políticas de censura e monitoramento.

Essas foram as batalhas da primeira geração de jovens do milênio e do século XXI e a última do século XX. Resta saber se caberá à próxima geração lutar pela continuidade da revolução ou na resistência antifascista. A última palavra da Geração do Movimento Anti-Globalização ainda não foi dada e será nos campos de batalha da Grécia e do Egito que o nosso destino será traçado.