Ainda: Todo dia ela faz tudo sempre igual...

* Este artigo foi publicado pela primeira vez em 2007

Ainda: Todo dia ela faz tudo sempre igual...

Enquanto são queimados veículos nos bairros da capital, outras ações criminosas se desenrolam em diversos outros pontos da região metropolitana, deixando as polícias em polvorosa e a população estática. O medo é real, especialmente quando há necessidade de irmos a um banco ou caixa eletrônico pagar ou retirar quantias. E a Justiça continua abarrotada de processos, sem ter onde prender bandidos de alta periculosidade. Enquanto isso, os Juizados Especiais, criados com o objetivo principal de contribuir para a celeridade na Justiça Comum, ficam superlotados de processos (de brigas de vizinhos, animais nas ruas, usuários de drogas, pais que espancam os filhos, etc.), que se arrastam, às vezes por dois anos ou mais.

Em São Paulo, facções criminosas deixam o Governo feito barata-tonta e matam policiais e cidadãos inocentes. Sair à rua, tanto aqui como lá, é uma aventura perigosa, a qualquer hora do dia. Tanto pelo risco de sermos abordados por assaltantes, como pelo perigo de sermos atingidos por uma ou mais balas perdidas...Mas isso tudo é dito diariamente, pelos meios de comunicação e pelo povo, sem que surja uma forma de equacionar o problema.

As causas...Bem, as causas também são muito citadas e conhecidas. A origem, para os pesquisadores do assunto, vão da crônica injustiça social, passam pela carência na área de educação, cultura e emprego, e vão desembocar no mar da impunidade, onde atua, antes submersa, agora emergindo diante da população, a corrupção em todos os poderes constituídos.

A repetitiva frase "a distribuição de renda no Brasil é a mais injusta e cruel do mundo", cai em outro lugar comum: "Enquanto os cães ladram, a caravana passa." Sai governo, entra governo e ela continua injusta e cruel. E a violência (continuando a citar o mestre Chico Buarque): "Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã.." (Como é o caso das sirenes das polícias, nas primeiras horas da manhã, indo combater criminosos). Com algumas diferenças básicas: Não "me sorri com um sorriso pontual", mas "me beija", um beijo com gosto de fel, misturado com boldo e milome, carqueja, e o que mais vocês quiserem imaginar de amargo.

Algum governante vai dizer: esses jornalistas só falam, criticam, mas não sugerem alternativas para solucionar os problemas. Pois bem, vamos sugerir apenas o trivial: Que tal começar por concretizar ações que realizem a justiça social, efetivem direitos iguais à educação para todos e gerem mais emprego e renda? Simultaneamente, é necessário limpar os poderes constituídos da praga da corrupção, não misturar presidiários que praticaram crimes fúteis com assassinos cruéis e hediondos; ressocializar (dando trabalho digno dentro das penitenciárias) o que for possível e aplicar penas muito rigorosas aos aos irrecuperáveis.Como conseqüência, não permitir que a impunidade seja uma premissa para a entrada na vida criminosa.

Todas as sugestões de nada valem se não forem, já, colocadas em prática pelas instituições investidas do poder para fazê-lo. Portanto, que se comece agora a agir, para que, em futuro não tão distante, possamos viver em uma sociedade mais equilibrada, sem sobressaltos a cada minuto. Como a criança que aprende a caminhar, o primeiro passo tem que ser dado.

Finalmente, como (ainda) diria o mestre Chico Buarque, que nossas autoridades não fiquem vendo "a banda passar" para que "a minha gente sofrida" possa "despedir-se da dor".

* Andrade Sucupira Filho é jornalista, diretor de conteúdo e assessor de comunicação social.

Andrade Sucupira Filho
Enviado por Andrade Sucupira Filho em 11/05/2012
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