PIRATAS, CORSÁRIOS E CACHOEIRAS
              Sérgio Martins Pandolfo*
 
     Ao tempo em que estudáramos História do Brasil, no então curso ginasial, vimos que entre outras afrontas à continentalidade de sua colônia na lusamérica Portugal teve que enfrentar, com bravura e estoicismo, ameaças tamanhas que incluiam piratas e corsários sanguinários, pilhadores e usurpadores. Piratas eram aventureiros dos mares que pilhavam navios mercantes e povoações costeiras, agindo por conta própria, enquanto os corsários faziam o mesmo a serviço de um reino, quase invariavelmente o de Sua Majestade britânica. Dentre esses cabe ressalto especial a dois anglocorsários que fizeram pilhagens e atrocidades mil pela hispanoamérica e Brasil: Francis Drake e Thomas Cavendish.
    Drake empreendeu, a expensas da Rainha Elizabeth I, a segunda viagem em volta do mundo (primeira circunavegação inglesa), no decorrer da qual assolou os territórtios espanhóis. Tomou diversas praças e riquezas e de volta incendiou a frota espanhola; mais tarde pôs a pique a maioria da “invencível armada” que Espanha enviara contra a Inglaterra, recebendo, por tais serviços, condecorações e graças reais.
    Cavendish foi o terceiro a fazer viagem de circunavegação, empreendendo rota maritima semelhante à de Drake, amealhando substancial fortuna, experiência das coisas e da vida do mar, passando a fazer o corso a serviço do trono inglês. Sir Thomas tornara-se um perverso corsário e sua tática era amedrontar as vítimas antes de atacá-las. Ele aterrorizava os mares com ousadia, coragem e crueldade, praticando assaltos a caravelas, vilas e fortificações em muitas partes do mundo. Seu estado maior era constituído de gente da pior espécie, catada entre a escumalha dos mais temíveis corsários londrinos.
    Desde 1530, vinham os ingleses rondando as costas do Brasil. Após tomar alguns navios portugueses ele dirigiu-se às vilas de Santos e São Vicente, atacando-as e pilhando-as, em 1591. Entretanto, ao seguir a costa brasileira para norte, foi derrotado na entrada da baia de Vitória, em 1692, pois os habitantes da Capitania do Espírito Santo, contando apenas com dois fortins improvisados, impediram a invasão da terra capixaba. Um dos maiores piratas da história da humanidade era derrotado no Espírito Santo! O até então invencível Cavendish, ao assistir a fragorosa derrota fez vela em retirada e, em razão dos ferimentos da batalha, morreu ainda em 1592 ao chegar à ilha Ascensão, no Atlântico, quando uma tempestade dispersou os seus navios restantes (juram alguns que, humilhado, o fero corsário não se perdoou, cometeu suicídio).
     Nos dias atuais já não temos mais piratas e corsários atacando nos mares desde sempre navegados, mas continuam as pilhagens a se processar doutras formas, mais das vezes por assalto praticado de forma solerte, à sorrelfa e à socapa, com formação de quadrilhas que, muitas vezes, mais lesivas e vorazes são que as tripulações que forniam os barcos piratas dantanho. Corsários modernos, sob o manto dalguma “eminência” ou mercê dalgum nefando valor que mais alto se alevante, seguem assacando os tesouros de nosso verde-louro patropi.
      Ainda agora, vê-se nas notas das folhas, que outro Cavendish faz furor: Fernando, dono da Delta Construções, era um empreiteiro de terceira vaga e rapidamente se tornou um dos mais ricos do País, ganhando as mais importantes licitações no Rio de Janeiro (inclui a reforma do Maracanã) e a construção de novos acréscimos do Tribunal de Justiça, além de obras vultosas espalhadas pelo País inteiro.
    Tão logo vimos o nome nas páginas e nas telas midiáticas lembramo-nos do corsário das aulas de História e incontinênti fizemos a ilação, valendo-nos das lições de genética: genes recessivos (em recesso) podem ressurgir muitas gerações à frente, reproduzindo caracteres da origem. Se calhar taí a explicação para os malfeitos de Fernando, herdados do ancestral Thomas? Coincidentemente, o pirata de ontem morreu no mar; este naufragou em Cachoeira.

Nota: Na foto acima os anglocorsários Hawkins, Drake e Cavendish
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com – serpan@amazon.com.br
www.sergiopandolfo.com
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
             
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 11/05/2012
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