UM NÓ NA GARGANTA
                                              Sérgio Martins Pandolfo*
 
     Podemos até estar sendo repetitivo, mas não podemos ficar mudo e quedo, “com aquele nó na garganta”, a cavalgar no tropel das legiões de omissos, sem chiar ou espernear contra a ameaça – de novo! - do desmonte dos armazéns 11 e 12 do conjunto arquitetônico do cais do porto de Belém, monumento amplissecular e representativo não só da chamada era do ferro como, cumulativamente, da fase áurea da borracha, ouro vegetal que impulsionou as finanças e a arquitetura parauara no ocaso do século XIX e aurora do XX, em que nossas instalações portuárias eram a segunda mais moderna e operativa do País, só ultrapassadas pelas do Rio de Janeiro.
     Com a recente edição do termo de tombamento dos bairros históricos de Belém, Cidade Velha e Campina, incluindo a orla da baía do Guajará, pelo Iphan (DOU, 10/05/12) julgávamos estar defendidos dessa ideia de jericos alienígenas que querem desmontar os armazéns para, na área por eles ocupada empilhar contêineres das cargas que são transacionados nas instalações portuárias. Agora tivemos a triste informação de que o Iphan já houvera concordado com o desmonte, restando tão somente a cassação da liminar judicial que ainda impede essa desastrada mutilação do conjunto patrimonial portuário que nos é tão caro e representativo. Com todo o respeito que merece a instituição de preservação do patrimônio, a nós parece haver aqui uma incongruência que só os expertos do Iphan poderão explicar para a população: como é possível tombar um conjunto e, ao mesmo tempo, permitir que o mesmo venha a ser desconjuntado, a fim de servir à ganância de forâneos que “tão nem aí” para a história do Estado (que até já pretenderam retalhar, faz pouco tempo) e da cidade?
      Apartados do conjunto esses dois armazéns nada mais representarão, ainda que  - o que duvidamos pois já vimos esse filmeco antes -, venham a ser remontados em outro local, até aqui “incerto e não sabido” - Onde? Quando? Como? Ao que soubemos, somente duas igrejas evangélicas se teriam interessado por eles e sob condição: sem ônus para a remontagem! Como o macaco da história só queremos mesmo é entender. Ou então as antagônicas posições do Iphan, como dizia o “Velho Guerreiro” “não vieram para explicar, mas para confundir”. Mas há outros “buracos negros” nessa história: é que nos foi afiançado “por quem sabe das coisas”, que três empresas estrangeiras (francesa, alemã e holandesa) já estão no páreo para adonarem-se da área desimpedida a fim de explorá-la no empilhamento dos caixotões, indo a grana auferida para o DNIT, a quem está afeta a CDP, o que casa perfeitamente com a informação já dada aqui mesmo neste espaço, exposta pela diretora de gestão do órgão, mineira de berço, de modo piramidal: A estruturação aponta para a abertura da gestão dos portos pela iniciativa privada através de concessão pública (...). A previsão é que a trade que venha administrá-lo pague R$84 milhões à Companhia.
    Trocando em miúdos, levam-nos os armazéns e o dinheiro arrecadado com o aumento do terminal de contêineres vai para Brasília, a fim de dar suporte à cachoeira de malfeituras como as que se estão vendo nas sessões da CPI. Enquanto isso está ocorrendo lê-se nas folhas que 107 funcionários da CDP subscreveram abaixo-assinado exigindo a saída do presidente do órgão por “improbidade administrativa e malversação dos recursos”, consoante à farta divulgado na imprensa local. Que credibilidade terá esse senhor para afirmar que os armazéns serão preservados e remontados em outro local que sequer se definiu, após sua ablação do corpo do conjunto?
     Precisamos reagir energicamente enquanto é tempo. Depois, de nada adiantará ficar “chorando pelo leite derramado”, como estamos a fazer até hoje após o desmonte da caixa d’água da Campina e da demolição do Grande Hotel. Sobre este, aliás, cabe lembrar que ao tempo de seu “bota abaixo” tentaram fazer o mesmo com o Copacabana Palace, no Rio, mas como “o povo, unido, jamais será vencido”,  o Copa não foi demolido.
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(*) Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 15/06/2012
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