Malvinas son argentinas
                                           Sérgio Martins Pandolfo* 
    Em fevereiro deste ano o ministro das Relações Exteriores argentino, Jorge Taiana, em encontro agendado com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, em Nova York, pediu a interferência da entidade visando a convencer a Grã-Bretanha a rediscutir a soberania sobre as Ilhas Malvinas, visto que em todas as tentativas diretas feitas entre os dois países os britânicos se negaram, peremptoriamente, a abrir discussão sobre a soberania que mantêm sobre o arquipélago, desde 1833. Um mês mais tarde, a “União de Nações Sul-Americanas” (UNASUL) aprovou em Montevidéu uma “declaração de rejeição à presença militar britânica nas Malvinas”, por contrariar a política regional que pede solução pacífica à disputa de soberania. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos que defenderam a posição advogada pela Argentina, referindo-se ao longo histórico de colonialismo europeu na América Latina.
   Em 14/06/2012, o Comitê de Descolonização das Nações Unidas voltou a debater a rogativa de soberania do país sobre as Ilhas Malvinas, presente a própria chefa de Estado argentina, Cristina Kirchner. A primeira mandatária arrazoa que a exploração de petróleo feita por uma empresa britânica a cerca de cem quilômetros do arquipélago, iniciada dias antes, desrespeita resolução da ONU que proíbe atividades em águas sob disputa internacional, vigente desde o final da guerra em 1982.
    A recordar: independente da Espanha em 1810 a Argentina fez-se lídima legatária de todo o território de domínio espanhol, para lá enviando colonos mercenários. Em 1833, barcos corsários, dos tantos que cruzavam os mares a serviço do trono britânico, apossaram-se das ilhas em nome de Sua Majestade, expulsando de lá os colonos argentinos. Desde então o Reino Unido coloniza as ilhas com escoceses, galeses e irlandeses. Inobstante a retomada pelos ingleses a Argentina nunca interrompeu sua reivindicação de soberania sobre as ilhas, dando-as como pertencentes à província da Terra do Fogo, o que incluiu mesmo uma guerra entre os dois países. As Malvinas, que os britânicos rebatizaram de Falklands, nada mais são, portanto, que uma colônia inglesa longínqua, assestada nos mares do Sul, a menos de 500 km do litoral argentino e a quase treze mil km da Grã-Bretanha. Igual a tantas outras que o Reino Unido ainda mantém mares afora, contrariando a convicção mundial de intolerância ao colonialismo, inconcebível nestes dias.
    Neste ponto voltamos a invocar os princípios da Doutrina Monroe, de 1823, cuja, resumida na frase "América para os americanos", reafirmava a posição dos Estados Unidos contra o colonialismo europeu, referendada em 1948 pelo Tratado Interamericano de Assistência Recíproca-TIAR ou Tratado do Rio, de defesa mútua: “O ataque contra um dos membros será considerado como um ataque contra todos”. Um dos três itens do tripé da Doutrina Monroe, “a não criação de novas colônias nas Américas”, em verdade traduzia velado temor do àquela época ainda não guindado a gigante do Norte, de uma remota, mas não inafastável, recolonização inglesa, eis que os interesses econômicos e a capacidade político-militar dos EUA não iam além da região do Caribe. Hoje...
   Tempos dobados decidimos, por pertinente e veraz, reproduzir aqui tópico do blogue O Esquerdopata (fev. 2010), postado por seu titular: ““Grã-Bretanha", apelido da Inglaterra e suas colônias Gales, Escócia e Irlanda do Norte, é uma espécie de DEM do mundo: já foi grande, poderoso e importante, mas hoje se conseguir ficar vivo e fora da cadeia já está no lucro. O "necessário" para o poodle inglês é que seu proprietário americano mantenha seu apoio incondicional. Sem o apoio americano a Inglaterra não consegue "defender" nem Londres. Sinceramente falando ressuma a coisa absolutamente surrealista ficar discutindo a quem pertence as Malvinas. Basta dar uma olhadinha no mapa”.
    De fato, como referido acima, as Malvinas ficam a poucos km do litoral argentino e a uma lonjura transcontinental do Reino Unido (Unido?).
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 22/06/2012
Reeditado em 22/06/2012
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