As pesquisas eleitorais e a democracia

As Pesquisas eleitorais e a democracia

Em que as pesquisas eleitorais contribuem para a democracia? Esta uma pergunta que sempre me faço. Evidentemente que não posso ser contra elas, mesmo porque estão amparadas por principio constitucional e regidas por uma legislação específica, que obriga, inclusive, os seus registros junto aos TRE e TSE. Estamos vivendo um momento onde elas estão em efervescência. Os organismos de divulgação se esbaldam, os analistas se deleitam, o pobre eleitor fica confuso e os candidatos radiantes ou pirados. Quem as encomendam tem seus interesses. Os que estão na frente, supervalorizam. Os que estão atrás, desprezam e até contestam. Não me convenci ainda, contudo, de suas importâncias, diferentemente do que ocorre em relação a outros tipos de consultas públicas. Sei que já ganharam as ruas, as praças, os países, o mundo. Confesso que nunca respondi a nenhuma e se o fizesse certamente estaria naqueles que “não souberam ou não quiseram responder”. Afinal, o voto é secreto, mesmo sendo as minhas posições bastante reveladoras. A minha questão é no que elas contribuem no processo democrático. Certamente que elas, mas do que a indicação de uma mera tendência, têm um poder de influência muito grande, notadamente junto aos eleitores indecisos ou aos não suficientemente esclarecidos e por conseguinte, vulneráveis. Não é raro ouvir-se a expressão: “eu que não vou perder meu voto”. Aqui o “eleitor” expressa como “perder”, o fato de destinar seu voto a um candidato que esteja com índices menores na disputa eleitoral.

Nesse aspecto, em nada estariam as pesquisas contribuindo para a democracia, a meu ver. Inicia-se uma corrida nem sempre lógica, racional ou legítima, na tentativa de reverter-se quadros. E os institutos de pesquisa não estão nem aí. As encomendas devem render uma boa “grana”. Vivem disso e para isso. E quando eles erram? Quando seus resultados não batem com a realidade? E não tem sido raro isso acontecer. Aí já não há mais nada a se fazer. Lembro-me de um amigo meu, candidato a prefeito em uma cidade do interior, que, no dia, ou melhor, na noite anterior ao pleito, as pesquisas lhes eram altamente favoráveis. Vitória tranqüila. No dia seguinte, não deu. Perdeu. Suspeitas de todo tipo foram levantadas: defecções, compra de votos, equívoco da pesquisa e por aí vai, de difícil comprovação. Em que elas contribuíram para a democracia? Em nada, a não ser no estabelecimento do caos. Como então resolver a questão se não há como impedi-las? Poderiam ser disciplinadas. Por exemplo: seriam estabelecidas datas ou períodos em que poderiam ser realizadas: apenas uma no período que antecedesse o início legal da propaganda eleitoral e mais uma após o seu início. Nenhuma até 15 dias antes do pleito e nenhuma chamada “boca de urna”, ou seja, no dia da eleição. Também nenhuma quando houvesse segundo turno. Creio que assim influenciariam negativamente com menor intensidade e poderiam deixar um salutar suspense quanto aos resultados dos pleitos. Fica o registro de um eleitor que não se deixar levar por elas.