JUSCELINO KUBITSCHEK: ALVÍSSARAS!
                                         Sérgio Martins Pandolfo*
    
    Tópico inserido na coluna Tutti Qui (O Liberal, 19/08/12) sob o título JK-Campanha chamou-nos especialmente a atenção e serviu de anzol para a pesca deste artigo. Consta lá que: “O jurista Zeno Veloso não se conforma, como a coluna também, com o esquecimento que nós paraenses dedicamos ao grande presidente Juscelino Kubitschek, que, com a construção da Belém-Brasília tirou o Pará do isolamento por terra a que estava condenado”. Vamos mais adiante para acrescentar: isolamento amplissecular, que remonta aos tempos do período colonial.

    Zeno Veloso, sereno e zeloso articulista deste jornal tem carradas de razão para destilar toda sua indignação pela injustificável ingratidão dos parauaras, em especial dos belenenses, em relação ao maior e mais operoso presidente que este País já teve, fazendo-o crescer “50 anos em 5” e o que mais fez pela Amazônia como um todo e pelo Pará em especial, integrando-os de fato ao restante do País com a abertura e conclusão daquela que julgamos ser sua segunda obra de primeira grandeza, a Belém-Brasília, estradão que rasgando para mais de 700 km de mata virgem, impenetrável até aos raios solares e em cuja densidade jamais penetrara homem algum, a ponto de se desconhecer, completamente, fauna e flora e mesmo se lá existia semelhantes autóctones, os índios nossos irmãos.
    Somente esse feito gigantesco já seria por si razão mais que justificada para que seu honrado nome fosse perpetuado aqui por meio de alguma referência especial a assinalar-lhe o feito, mas, é lastimoso dizer, nenhuma distinção, nenhuma homenagem, por mais simplória e trivial que seja, tais uma rua, um viaduto, um logradouro ou mesmo um edifício público, um monumento estatuário digno de sua estatura de estadista e benfeitor desta nossa sempre deslembrada, mas impávida Parauaralândia. Sobre isso, aliás, é triste assinalar “que até um busto do ex-presidente, pequeno, sem expressão nenhuma que fora colocado no início da Almirante Barroso, sumiu”- ainda a replicar trecho do suelto. Tratava-se de um busto mequetrefe (com todo o respeito que nos merece JK), como diria hoje um causídico de mensaleira, que marcava o km 0 da B-B, furtado em ato vil, que ninguém sabe nem viu.
    Só para pôr exemplos repertoriamos aqui mais três das imensas obras com que nos dadivou o atilado JK: Em 1957, primórdios de seu governo, criou a Universidade Federal do Pará e, no ano seguinte, dobrou o número de vagas na Faculdade de Medicina a instâncias do alunado. Inaugurou e pôs a funcionar o Sanatório “João de Barros Barreto” (hoje HUJBB, ligado à UFPA), cuja construção se arrastava, tal “obra de Santa Engrácia”, havia três décadas. Através da SPVEA possibilitou a reabertura, em 1957, da Escola de Química Industrial do Pará, desativada havia cerca de trinta anos, reconhecendo-a por Decreto, em 1959, que mais tarde (1963) passou a integrar a UFPA.
    Mas ainda vertido do tópico de Tutti Qui: “Zeno se dispõe até a comandar uma campanha junto a parlamentares para que JK venha a ser homenageado, como bem merece”, ação para a qual já de pronto nos oferecemos. Pessoalmente, neste mesmo matutino, escrevemos cerca de oito artigos e outros mais postados na internet, sobre tal deprimente desmemória de nossa gente, que até costuma ser muito solícita para homenagear forâneos que nada fizeram pela terra, ou nem mesmo aqui estiveram, enquanto o “peixe vivo”, nosso maior benfeitor, segue nadando em “águas de bacalhau”. Já até nos aliamos a um edil, nosso colega, que apresentou projeto dando o nome de JK à prolongação da Av. 1º de Dezembro (hoje João Paulo II), que nunca foi votado.
    Agora, entanto, eis que “um valor mais alto se alevanta” e trouxe-nos novas esperanças: quem sabe nosso esquecido Nonô terá, enfim, o preito a que faz jus, pois que até aqui, a replicar Augusto dos Anjos, “Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável!”

Nota: Ao alto foto histórica de há cinquenta anos do busto de Juscelino Kubitschek, no início da Av. Almirante Barroso, que marcava, então, o km 0 da Belém-Brasília, o qual sumiu misteriosamente.

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*Médico e escritor – ABRAMES/SOBRAMES sergio.serpan@gmail.com - serpan@amazon.com.br www.sergiopandolfo.com
 

 
 
 
 
 
 
 
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 23/08/2012
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