BELÉM E MANAUS POR UM FIO
                                                    Sérgio Martins Pandolfo*
      O saudoso cantor/compositor parauara Ary Lobo, defensor da música norte-nordestina de raiz, a respeito da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, compôs, em 1959, uma de suas obras mais expressivas e executadas então, que em certo trecho dizia: “Paulo Afonso, se ligarem mais um fio, você ilumina o Rio, São Paulo e toda a Nação”. Falava ele da transmissão, por meio de cabos, da energia elétrica da UHEPA para o Sul/Sudeste do País.
     Mutatis mutandis estamos agora diante de fato semelhante: a transmissão por meio de um linhão de grande extensão total, da energia elétrica de Tucuruí para Manaus – e de lá para outras cidades amazonenses – e posteriormente para Macapá e diversas outras urbes amapaenses. A linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus permitirá a integração dos estados do Amazonas, Amapá e do oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
     Com aproximadamente 1.800 km de extensão total em tensões de 500 e 230 kV em circuito duplo, passará por trechos de florestas e vai atravessar o Rio Amazonas. Além de interligar sistemas isolados do extremo norte, a nova linha vai diminuir o custo com geração termelétrica, o que ensejará, com o fim do uso de combustível fóssil, que cerca de três milhões de toneladas de carbono deixarão de ser lançados na atmosfera. Por se tratar de uma obra complexa e realizada predominantemente na floresta amazônica foi definido um projeto compatibilizado com as orientações do órgão ambiental, buscando mitigar os impactos ambientais decorrentes, tais como alteamento de torres, uso de estruturas autoportantes e adoção de apenas picada para lançamento de cabos. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 3 bilhões (fontes:Ministério de Minas e Energia/Eletrobras/Suframa)
     O “linhão” integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. As robustas estruturas metálicas complexas que sustentam os cabos de um lado a outro do rio-mar (cerca de 2,3 km de largo) serão necessariamente muito elevadas, a fim de fazer com que as linhas fiquem acima das centenárias e gigantescas árvores, compensar o “seio” que se formará entre as torres e também permitir adequada dissipação do calor gerado pela passagem da energia elétrica de alta voltagem.
Com 76% das obras do Trecho C (Oriximiná – Manaus) concluídas, Manaus fica a um passo de receber a maior linha de transmissão de energia elétrica já construída no Norte do País e terá energia elétrica firme confiável antes do início da Copa de 2014 que, de forma impositiva, fez acelerar a implantação do sistema. Manaus precisa, e muito, dessa energia farta, a fim de incrementar seu polo industrial aquecido pela Zona Franca.
     São notícias altamente auspiciosas essas, de vez que vamos finalmente ter aplicada na região parte da energia elétrica gerada na maior UHE do País, situada no Norte, mas que anteriormente seguia somente “o rumo do Sul”, deixando às escuras a maior parte das cidades desta região, sempre deslembradas e desassistidas. Por arte e manhas ainda não devidamente aclaradas perdemos a indicação para abrigar uma das sedes do Copão de 2014, a que tanto aspirávamos, inobstante nossa consabida paixão pelo futebol. Advogamos a ideia de que a Região Amazônica, pela importância que tem hoje e por sua extensão, ocupando mais de 60% do território nacional, teria direito, por justiça e equidade, a abrigar duas – e não uma só! – sedes, que seriam Manaus e Belém, as duas maiores e mais bem estruturadas metrópoles da região. Ademais, Manaus e Belém já compuseram o mesmo torrão, sob o mesmo torreão: o Estado do Grão-Pará e Maranhão, ao abrigo do cetro e da coroa imperial portuguesa. Somos, já se vê, irmãos inconhos de origem e de sangue, que conveniências geo-político-administrativas apartaram, mas não dividiram. Um fio nos unirá!

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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 26/10/2012
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