O PERFIL DO PRÍNCIPE

Francisco de Paula Melo Aguiar

[...] Do mesmo modo que um pintor que desenha uma paisagem, de baixo observa o contorno das montanhas e de tudo o que está no alto, enquanto do alto observa tudo o que está embaixo, da mesma forma, para conhecer bem a natureza do povo, é necessário ser príncipe, para conhecer a natureza do príncipe, é necessário pertencer ao povo.

(MAQUIAVEL, 1999, p. 10)

Estamos no século XXI, porém, é importante enfocar “O Princípe”, obra clássica, escrita em 1513, por Nicolau Maquiavel, onde a referida obra é indispensável a toda e qualquer pessoa estudiosa em matéria de liderança e de política como sendo a ciência do bem comum, pelo menos em tese é assim. Como é do conhecimento público, a citada obra é composta por uma série de artigos escritos especialmente para Lourenço de Médicis, um jovem príncipe da França, onde o seu preletor ensina como manter o poder e o controle sobre o Estado, onde conjuga “conselhos” sobretudo como agir com sutileza, dureza, astucia e crueldade, definindo assim as mais variadas nuances da liderança em sua prática. Tais aconselhamentos são parecidos com vimos na atualidade no mundo, no Brasil, nos estados e nos municípios da federação brasileira, se tem um discurso para ganhar votos e outro discurso para “puder” governar a seu bem prazer. Não faz muito tempo, pois, foi nas eleições de 2010 que o oficialismo brasileiro afirmava através do então chefe da nação e do governo, ao apresentar seu candidato a presidência da república de que o sertão nordestino ia virá mar.

E o povo nordestino acreditou na estória contada, a televisão, os jornais, as revistas, os programas de rádio AM e FM, os padres, os pastores evangélicos, as lideranças municipais, os discursos inflamados dos governadores, senadores, deputados federais, estaduais e vereadores, clamavam o então grande líder e salvador dos problemas nacionais, dentre os quais a emancipação definitiva do fim da seca na região Nordeste, de modo especial. E o tempo passou, agora em 2012, os meios de comunicações, as mesmas autoridades que antes foram levadas a acreditar no fim da seca e como conseqüência do êxodo rural em direção ao crescimento desordenado dos chamados grandes centros, pois, o homem do sertão nordestino continua sendo enganado em sua essência de homem forte, não tem água para beber, nem para si e muito menos para suas criações animais, o fado está morrendo de fome e sede. E cadê a transposição do rio São Francisco para o sertão brasileiro? A obra está parada e o povo a mercê da ajuda divina. É na verdade a comprovação nua e crua do discurso oficial de 2010, vazio, sem água e sem comida para pessoas e animais, que faz crer que a influência é uma força psicológica que envolveu a interação entre as pessoas brasileiras e nordestinas, que modificou a maneira de agir, modificando o comportamento das outras de maneira intencional, pois, o objetivo daquele discurso de 2010 era justamente ganhar as eleições, pois, não é, a transposição das águas do São Francisco, o rio da integração nacional, estão paradas e o povo nordestino e sertanejo, continua esperando pelo novo discurso milagreiro. È São Pedro não recebe ordem de políticos para ter que mandar água para suprir as necessidades diárias de pessoas e animais.

A conclusão que se tira de tudo isso, é justamente de que o discurso oficial brasileiro de que vai resolver o caso da seca, o caso da saúde, o caso da segurança, o caso da educação fracassada, o caso de minha casa minha vida, o caso de emprego para todos, etc, etc, falta dinheiro para tudo, porém, para se mostrar perante as nações do mundo, tem dinheiro para fazer Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, quando faltam remédios, médicos, hospitais, segurança pública, escolas, moradias e empregos para todos. Fica tudo isso para, e nossa gente continuará assim manobrada pela autoridade maior federal, estadual e municipal em cada comuna. É a indústria do voto conquistado através de promessas e programas sociais, o povo continuará analfabeto e incapaz de abrir a boca para requerer a volta de seus impostos diretos e indiretos com tais benefícios. Desse modo, o que nos resta é fazer uma análise psicológica nos moldes de Erich Fromm, superando a dimensão individual, procurando construir uma “teia” histórica e social, contextualizada e crítica. E Freud, Bion, Pichon-Rivière, além de Fromm, também desenvolveram estudos sobre o perfil da liderança, representada no século XVI pelo – O Príncipe, e no século XXI, pelos mais diversos tipos de governos nacionais (reis, rainhas, presidentes, ditadores, etc), regionais (governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais, etc) e locais (prefeitos, vereadores, etc) pois, quem tem a caneta na mão dada através do voto popular e faz o que quer fazer, tem o “puder” e o resto que é o povo, a massa sonhadora fica para a próxima campanha eleitoral. Então o príncipe de hoje não conhece o seu povo e suas necessidades.

REFERÊNCIAS:

FREUD, S. Psicologia de Las masas Y análisis Del yo. Madrid: Biblioteca Nueva, 1974. (en Obras Completas, v. 7).

MIQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

PICHON-RIVIÈRE, E. Psicologia da vida cotidiana. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

______________. O processo grupal. São Paulo: Martins, 1998ª.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 11/11/2012
Código do texto: T3980402
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