O CAJUEIRO DO CEMITÉRIO

Francisco de Paula Melo Aguiar*

Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.

William Shakespeare

Em uma cidadezinha do interior havia um cajueiro carregado de fruto dentro do cemitério...

Dois amigos decidiram entrar lá à noite (quando não havia vigilância no campo santo) e pegar todos os cajus. Eles pularam o muro, subiram a árvore com as sacolas penduradas no ombro e começaram a distribuir o “prêmio”.

- Um pra mim, um pra você. Bem parecido com a distribuição dos cargos municipais das mais de 5.600 prefeituras pelo Brasil afora...

- Um pra mim, um pra você.

- Pô, você deixou esses dois caírem do lado de fora do muro! Esses não são de minha família e tenho dúvida que tenham votados conosco.

- Não faz mal, depois que a gente terminar aqui pega os outros. Isso se o puder não subir para nossa cabeça de uma vez.

- Então tá bom, mais um pra mim, um pra você. Bem parecido com a divisão dos cargos municipais de secretários a coveiros sem concursos públicos no Brasil.

Um bêbado, passando do lado de fora do cemitério, escutou esse negócio de “um pra mim e um pra você” e saiu correndo para a Delegacia de Policia. Chegando lá, virou para o policial plantonista:

- Seu guarda, vem comigo! Deus e o diabo estão no cemitério dividindo as almas dos mortos! Bem parecido com os prefeitos eleitos dividindo os cargos de confiança nos municípios brasileiros.

- Ah! Cala a boca bêbado. Por analogia é bem parecido com o discurso de quem foi eleito prefeito com seus correligionários e apoiadores da campanha. Fui eleito porque o povo teve pena de mim ou então o prestigio é meu e mais de ninguém...

- Juro que é verdade, vem comigo. Os cargos de confiança serão entregues a quem não votou no candidato eleito e não mora na municipalidade e daí não conhecer os eleitores do seu futuro patrão...

Os dois foram até o cemitério, chegaram perto do muro e começaram a escutar...

- Um para mim, um para você. É o fuxico do disse me disse em todas as municipalidades do interior do Brasil.

O guarda assustado – coitado!, disse:

- É verdade! É o dia do apocalipse! Eles estão dividindo as almas dos mortos! O que será que vem depois? Aumento de impostos municipais, congelamento de salários dos funcionários, falta de remédios nos postos médicos e odontológicos, falta de médios e dentistas, etc, etc, etc...

- Um para mim, um para você. Pronto, acabamos aqui. E agora?

- O povo e seus pequenos lideres: vereadores, ex-vereadores e demais bestas de plantão ficam para depois de nossa administração.

- Agora a gente vai lá fora e pega os dois (cajus, simbolizando o povo enganado) que estão do outro lado do muro...

- O policial gritou para o bêbado:

- Cooorrreee.... bicho... a coisa vai ficar pior do que estava e o povo fica para depois.

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Endereço para acessar este CV:

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FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 18/11/2012
Reeditado em 02/10/2015
Código do texto: T3992894
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