O PREFÁCIO DO ANUÁRIO

Francisco de Paula Melo Aguiar*

Como já foi mencionado anteriormente, o primeiro e único Anuário Informativo do Município de Santa Rita foi publicado no final do ano de 1937, neste tempo a Prefeitura Municipal de Santa Rita funcionava à Praça João Pessoa e não no prédio atual na Rua Juarez Távora, cujo Prefeito Municipal era o Flávio Maroja Filho e Secretário (único) Bernardino Gomes da Silveira, o expediente era das 8:00 às 11:00 horas e das 14:00 às 17:00 horas. Internamente a prefeitura tinha os seguintes funcionários e respectivos cargos: Ângelo Batista de Souza (Tesoureiro); Izidro Gadelha Filho (Fiscal Geral); Alcides Cordeiro de Lima (Diretor de Obras); João Arcebispo de Carvalho (Administrador de Obras Públicas); José Vicente da Silva (Inspetor de Veículos); José Cândido Feitosa ((Fiscal Arecadador); João Moreira da Costa (Fiscal Arecadador); Sebastião Gonçalves de Lima (Fiscal Arecadador); Manuel Pereira de Carvalho (Fiscal Arecadador); Bento Leite de Araújo (Fiscal Arecadador); Juvenal do Vale e Silva (Fiscal Arecadador); Antonio Barbosa de Lima (Fiscal Arecadador); Manuel Vieira dos Santos (Coveiro e Zelador); Zacarias Francisco Soares (Porteiro continuo). É neste ambiente que o jovem Waldemar de Carvalho Lelis, exerceu a função de Diretor-Secretário do Anuário Informativo da Prefeitura Municipal de Santa Rita no ano de 1937, ao lado Lapemberg Medeiros (Diretor) e Jaime Gonçalves do Nascimento (Diretor Gerente). Aqui vale salientar que Waldemar de Carvalho Lelis fez o “Prefácio” da edição única do anuário mencionado, onde ele inicia afirmando que “vamos caminhando para uma época de ressurgimento econômico, industrial, comercial, político, social e intelectual”, de modo que tal fato já era presente na Santa Rita do Estado Novo de Getúlio Vargas, que era o “Pai dos ricos” e a “Mãe dos pobres”, mero proselitismo populista e nacionalista, então dominante no Brasil e em outras partes do mundo, de modo que “foi a consciência do que acabamos de expor, que nos animou em coligir tudo que represente trabalho e prosperidade de Santa Rita”, e continua enfocando que “ na presente publicação apresentamos inúmeros dados estatísticos, que comprovam o que somos e o que possuímos”, fato importante relatado em 1937 por um jovem intelectual local, de modo que “há em Santa Rita uma dura e terrível incompreensão, alheiada a uma irresponsabilidade altamente prejudicial aos seus mais intrínsecos e palpitantes problemas”, segundo o dito prefaciador, chegando ao ponto de afirmar que “ninguém melhor do que nós, devemos conhecer, as nossas possibilidades e os vastíssimos horizontes que se descortinam, nos mostrando um meio de atingirmos a um fim condigno e elevado”, e ele continua prefaciando, dissertando o momento político, cultural, educacional e administrativo da “Rainha dos Canaviais”, da “Rainha das Águas Minerais”, da “Rainha da Cerâmica”, e de tantos outros adjetivos, inclusive de uma das cidades mais violentas do Brasil, de modo que registrava ainda que “não alimentamos vaidade, nem ideias preconcebidas, quando tomamos o encargo de dar a Santa Rita um ANUÁRIO INFORMATIVO, que ela até hoje não possuía ainda”, isto no final do ano de 1937, não obstante os esforços pessoais dos idealistas e intelectuais: Waldemar de Carvalho Lelis (Diretor-Secretário), Jaime Gonçalves do Nascimento (Diretor-Gerente) e Lapemberg Medeiros (Diretor), junto ao então prefeito o Dr. Flávio Maroja Filho e demais pessoas influentes do poder local, de modo que “não é tão fácil como pareça a primeira vista, coordenar todos os algarismos relativos a um município como o nosso”, o que confirma a complexidade administrativa do jogo do poder local, além do tamanho territorial que naquela época ainda era maior do que hoje, pois, Barreiras (atual Bayeux) e Lucena, pertenciam política e administrativamente ao território santaritense desde sua emancipação política da Capital da Paraíba em 1890, “mas, Santa Rita precisava de há muito tempo, uma iniciativa como esta que ora empreendemos. Pois, não seria plausível, que silenciássemos, uma causa, que mais do que nunca precisa ser patenteada em letras de forma”, o que comprova sua vontade da fazer surgir no solo de Santa Rita uma espécie de imprensa local para divulgar o que era público e o que era privado, coisa que atualmente em pleno século XXI ainda não existe uma imprensa oficial local não obstante as novas mídias da comunicação, pois, “temos a necessidade imprescindível de testimunhar o que valemos, aos quatro ventos para que nos conheçam perfeitamente”, o que comprova ainda hoje a necessidade de auto-afirmação pessoal e profissional das letras e suas tecnologias das pessoas idealistas, éticas e intelectualmente preparadas para assumir quaisquer atividades da vida pública ou privada, apesar da “prata de casa” ainda não ter valor perante os donos do poder municipal, e menciona que “por isso, não nos furtamos e o contentamento de dizer da profunda alegria que nos invade a alma, enfeixando em volume essa porção de estatísticas, que representa para nós uma preciosidade fantástica”, levando-se em consideração que “nos desobrigamos, deste modo, da missão que tivemos por bem, cumpri-la fielmente”, demonstrando assim a capacidade técnica e profissional dele e de sua equipe editorial do referido anuário de 1937, adiantando ainda que “se porventura não esteja perfeito o que fizemos, pedimos a complacência dos nossos conterrâneos”, tamanha era a ética profissional deste jovem intelectual diante da realidade transcrita no primeiro e único anuário que registrou os atos e fatos da administração pública e da vida privada em Santa Rita, de modo que “nos consola, porém, a certeza de que prestamos ao torrão querido uma justa e significativa homenagem”, o que vale dizer que “todavia, temos confiança de que no ano vindouro, se os maus fados não empanarem a nossa marcha, estaremos novamente a postos no cumprimento do nosso dever”, ficou apenas na esperança de uma segunda edição do anuário, nunca se teve uma só explicação, porém, as forças do atraso municipal não ajudaram a concretizar a continuação do sonho dos três jovens de 1937, talvez com medo de que eles viessem a ascenderem na política de Santa Rita como prefeitos, vereadores, etc, de modo que Lelis (1937) termina o prefácio da edição única do Anuário Informativo do Município de Santa Rita, afirmando que “esperamos contudo, que não nos faltem o apoio moral e material, sem o que nada poderemos fazer. É somente”. Conclusão a inveja local contra quem sabe ler e escrever e fazer algo digno, criativo e que envolva conhecimentos acadêmicos e profissionais, não é bem visto e faz muito tempo pelas forças do atraso ainda presentes em nossos dias em Santa Rita. Fotografia do arquivo Francisco Aguiar.

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In SANTA RITA, SUA HISTÓRIA, SUA GENTE (FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR) 2012.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 13/12/2012
Reeditado em 13/12/2012
Código do texto: T4033506
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